Cirurgião chinês conduziu na China os braços robóticos que removeram a próstata a um paciente que se encontrava em Itália e a mais de oito mil km de distância. A conectividade de última geração permitiu reduzir a latência para 135 milissegundos, bem abaixo dos valores recomendados. A telecirurgia, transmitida ao vivo durante uma conferência europeia, é encarada como um momento histórico para a medicina e também como um novo ciclo na prestação de cuidados de saúde especializados.
Desde 2019, ano em que as primeiras redes móveis 5G começaram a ser implementadas no mundo, que a telecirurgia robótica, apoiada na conectividade móvel de última geração, vem batendo sucessivos recordes de distância. A cidade chinesa de Sanya, logo em meados desse ano, foi palco de uma intervenção cirúrgica pioneira executada por cirurgiões a quase três mil km de distância, em Pequim. Desde então, muitas outras experiências têm sido bem-sucedidas, como a primeira cirurgia córnea remota através de uma ligação 5G em Itália ou, para citar um caso português, a cirurgia ao cancro da mama realizada, em maio de 2022, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, e acompanhada em tempo real na Faculdade de Medicina de Zaragoza, em Espanha.
Mais um marco foi agora alcançado com a primeira operação remota transcontinental da História da medicina a ser realizada, na primeira semana de junho, entre um hospital em Roma e um hospital em Pequim. O cirurgião chinês Zhang Xu, Diretor de Urologia do Hospital Geral do Exército de Libertação Popular, conduziu em Pequim uma prostatectomia radical – remoção completa da próstata – num paciente que se encontrava em Roma a mais de oito mil de distância. A intervenção, controlada através de braços robóticos, foi possível graças à rede 5G, que permitiu anular qualquer interferência ou latência (atraso) entre os comandos dados a partir da China e recebidos em Itália.
A operação, transmitida ao vivo durante a conferência europeia Desafios em Laparoscopia e Robótica (CILR), decorreu na capital italiana e teve como finalidade explorar a interseção e a integração de novos conceitos e tecnologias, incluindo cirurgia robótica, comunicações remotas e Inteligência Artificial (IA). Utilizando tecnologia 5G e ligações de fibra ótica, o cirurgião Zhang Xu manipulou os braços robóticos com precisão, minimizando a latência e garantindo a segurança do paciente. A conexão 5G, utilizada para realizar a operação, conseguiu reduzir a latência para 135 milissegundos, ou seja, um valor abaixo dos 200 milissegundos recomendados em estudos internacionais.
“A telecirurgia robótica realizada entre Itália e China representa um momento histórico para o progresso da cirurgia remota.”
Vito Pansadoro, Diretor da conferência Desafios em Laparoscopia e Robótica
Segundo South China Morning Post, a preparação para a telecirurgia exigiu centenas de testes com animais e ainda operações menos complexas com pacientes humanos. Ainda assim, uma equipa de cirurgiões e enfermeiros acompanhou a intervenção em Itália, estando preparada para intervir a qualquer momento e caso acontecesse algum imprevisto.
O sucesso da primeira telecirurgia transcontinental abre agora novas possibilidades para o futuro da medicina. A conectividade de última geração tem vindo a revolucionar o acesso a cuidados de saúde. Com o desenvolvimento das tecnologias, pacientes em qualquer lugar do mundo vão poder usufruir de cirurgias complexas conduzidas por especialistas que se encontram em qualquer parte do mundo. “A telecirurgia robótica está entre os mais importantes avanços da medicina com potencial para salvar vidas e melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas, especialmente em áreas remotas com acesso limitado a serviços médicos especializados”, concluiu o cirurgião chinês Zhang Xu, citado no comunicado do Hospital Geral do Exército de Libertação Popular.
________________________
Crédito da imagem de abertura: Hospital Geral do Exército de Libertação Popular