Com uma cobertura quase total das redes 5G Stand-alone, Singapura é o primeiro país do mundo a poder tirar pleno partido das tecnologias de quinta geração. Por estar tão avançada, a Cidade-Estado é um laboratório vivo para a Europa, Estados Unidos ou Ásia conhecerem casos de uso 5G pioneiros e que vão de barcos autónomos para limpeza de rios, esquadrões de robôs a patrulhar grandes ruas e áreas comerciais, bairros ecológicos ou operações portuárias totalmente automatizadas.
Robôs autónomos a patrulhar as ruas, a remover o lixo dos rios ou na linha da frente na montagem de veículos elétricos é algo que esperamos ver ainda nesta década. À medida que a implementação das redes móveis de quinta geração progride na Europa, Estados Unidos ou Ásia, as tecnologias 5G irão assumir um protagonismo cada vez maior. Em Singapura, no entanto, estes são os casos de uso previstos ainda durante este verão.
As inovações, impulsionadas por programas e financiamento estatal, são a ponta do icebergue, mostrando não somente algumas das primeiras soluções avançadas, como as potencialidades do 5G no país com a maior cobertura territorial do 5G Stand-Alone – redes autossuficientes, ou seja, sem qualquer dependência de infraestruturas 4G.
Com pouco mais de 700 km2 e cerca de 5,5 milhões de habitantes, a cidade-estado, localizada no sudeste asiático, teve pela sua reduzida dimensão, maior facilidade em estender a cobertura 5G. Mas também demonstrou, segundo os especialistas, que soube aproveitar esta vantagem. Singapura tem sido, por isso, encarado como um gigante tubo de ensaio, permitindo ao resto do mundo espreitar o que poderá fazer o 5G num futuro próximo.
A Infocomm Media Development Authority (IMDA) – agência governamental que apoia a transformação digital do país – já canalizou, desde 2021, 50 milhões de euros para financiar parcialmente quase duas dezenas de projetos 5G, entre os quais sistemas de transporte autónomos, construção de cidades inteligentes ou automatização das operações portuárias. A mais recente iniciativa são as embarcações elétricas não tripuladas que, a partir de agosto, vão recorrer a conexões 5G para permitir análise de vídeo em tempo real e elevadas transferência de dados que serão usadas na deteção e remoção do lixo das águas, respostas a incidentes ambientais, entre outras emergências.
A solução promete substituir gradualmente uma frota de três dezenas de navios, cada um a lançar mais de 20 toneladas de CO2 para a atmosfera e a custar oito mil euros/ ano na sua manutenção. O novo sistema, movido a energia eólica-solar irá também reduzir os acidentes de trabalho e aliviar a carga horária dos funcionários municipais, atualmente expostos a longas exposições ao sol. As novas embarcações estão preparadas para reduzir as emissões de carbono até 80%, podendo ser manobradas à distância por um único operador sentado num centro de operações.
Outro projeto que irá arrancar em julho são os cerca de uma centena de robôs, ligados à rede 5G que, instalados no chão de fábrica do Centro de Inovação da Hyundai Motor Group, em Singapura, irão transportar materiais até à linha de montagem. A tecnologia de quinta geração, suportada na elevada transmissão de dados em tempo real entre o sistema de controlo automatizado e os robôs, permitirá reduzir a mão de obra intensiva e aumentar a segurança no trabalho.
A parceria entre a IMDA e a marca sul-coreana será, segundo o Ministério das Comunicações e da Informação, a primeira fábrica do mundo a produzir, até 2025, trinta mil veículos ao ano por encomenda, oferecendo aos clientes a possibilidade de personalizarem os carros de acordo com as suas necessidades. O 5G possibilitará uma comunicação sem interrupções entre os robôs, mas também abrirá a porta a novos postos de trabalho com a Hyundai a prever abrir vagas para engenheiros de robótica, analistas de dados e engenheiros de processos.
A terceira iniciativa encontra-se atualmente em teste piloto no complexo South Beach, no centro da capital de Singapura. Espera-se que dezenas de robôs entrem a partir de maio deste ano nas ruas e grandes espaços comerciais para assumir funções de vigilância e colmatar a escassez de recursos humanos em segurança. Os robôs-sentinelas estão equipados com carros-patrulha, podendo ser muito mais ágeis e omnipresentes do que as câmaras de segurança fixas. Apoiados por estes esquadrões robotizados, as equipas de segurança poderão monitorizar múltiplos locais remotamente, auxiliados por análises de vídeo que os alertarão quando uma ameaça for detetada.
Os avançados casos de uso do 5G previstos para 2023 são somente uma pequena amostra do que se poderá esperar nos anos seguintes. A IMDA e a autoridade Marítima e Portuária de Singapura esperam inaugurar até meados de 2025 aplicações para manobrar e controlar à distância os navios a entrar e a sair do porto. Singapura está neste momento a implementar o “5G Marine”, o primeiro testbed do mundo que irá conectar às redes móveis de quinta geração ancoradouros, terminais, embarcações e plataformas de embarque.
Uma das primeiras tecnologias a ser testada será a condução remotamente assistida para assegurar as operações automatizadas, aumentar a segurança e melhorar a eficiência e produtividade. O piloto poderá comandar o navio através de um centro de controlo, onde as imagens de vídeo, transmitidas em tempo real, irão dispensar a necessidade de se deslocar aos cargueiros até 300 toneladas.
Os navios autónomos são outro potencial caso de uso 5G a ser estudado no Porto de Singapura para comunicações navio-a-navio e navio-terra, manobras autónomas e controlo remoto das embarcações. Sensores a bordo irão gerar uma larga quantidade de dados para prevenir colisões e facilitar a atracagem, sobretudo em momentos de maior congestionamento.
As inovações a serem testadas incluem ainda drones, conectados ao 5G, capazes de enviar rapidamente componentes críticos aos navios que se encontram no mar e que não terão de esperar pela chegada da assistência. O porto de Singapura conta, por fim, testar serviços de telemedicina, através de streaming de vídeo HD para embarcações sem equipas médicas e em casos que não necessitem de auxílio urgente.
Tão inovador como o projeto o “5G Marine”, é a ecocidade de Tengah onde as redes de quinta geração irão tornar inteligentes cerca de 42 mil novas casas. O empreendimento a ser concluído em 2025 em cinco bairros residenciais, na região ocidental da ilha, serão os primeiros do país com arrefecimento centralizado, recolha automática do lixo e um centro urbano sem carros.
Outrora um complexo fabril e, posteriormente, um campo de treino militar, a área com 700 hectares, destinada a habitação pública, já vai estar preparada para os veículos autónomos, mas a grande aposta é o novo sistema de refrigeração, projetado para substituir o ar condicionado, intensamente utilizado num país de temperaturas elevadas o ano inteiro.
Água refrigerada com energia solar será canalizada através das casas, gerando poupanças de dióxido de carbono equivalentes a 4500 carros a circular por ano nas estradas. A modelação por computador ajudará também a encontrar outras soluções que dispensem consumos energéticos. Nas ruas, a iluminação inteligente será, do mesmo modo, desligada sempre que o espaço público estiver vazio. Os resíduos urbanos, por seu turno, serão armazenados centralmente com os sensores 5G a sinalizar os momentos em que o lixo precisa de ser recolhido.
Singapura, com dezenas de projetos estatais 5G, está a provar que o futuro já chegou ao presente e que poderá vir a ser um caso modelo para outros tantos países na Europa, Ásia ou Estados Unidos que começaram agora a investir em redes autónomas de quinta geração.
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▫▪▫ Leia também o artigo “5G Stand-alone, a chave para desbloquear o verdadeiro poder do digital”, publicado no Portal 5G
📷 Crédito da imagem de abertura: Weston Robot (barcos não tripulados que, a partir de agosto, serão usados na remoção do lixo dos rios).