Nenhum país do mundo deu ainda o verdadeiro salto para as redes 5G autónomas. Denominadas de Stand-alone, por recorrer a infraestrutura construída de raiz, são elas que irão desbloquear todas as potencialidades das comunicações sem fios e permitir explorar casos de usos avançados. Apesar da demora, os analistas esperam que a versão completa das redes 5G ganhe o seu primeiro grande impulso ao longo deste ano.
A cobertura das redes 5G aumenta de dia para dia em todo o mundo, ainda assim, estamos só a meio caminho para alcançar todas as oportunidades que as comunicações móveis de quinta geração proporcionam para acelerar a transição digital. Da Europa, aos Estados Unidos, passando pelos países pioneiros como o Japão ou a Coreia do Sul, onde a implementação está mais avançada, ainda nenhum país deu o grande salto para as redes autónomas 5G (Stand-alone).
Se as redes 5G atuais estão construídas sobre a infraestrutura já existente, o passo seguinte deverá ser obrigatoriamente a migração para o Stand-alone, sob pena de se não aproveitar em pleno tudo o que as comunicações sem fio de quinta geração podem oferecer. O 5G Stand-alone (SA) é uma versão assente exclusivamente em infraestruturas construídas de raiz, que promete velocidades muito mais elevadas, latência ultrabaixa, maior fiabilidade e segurança. Dado serem totalmente independentes da rede 4G, elas irão alargar o leque de possibilidades do 5G – de veículos autónomos a sensores de monitorização de edifícios, de smartphones a semáforos inteligentes ligados em simultâneo. E, uma vez que são “cloud-native“, as redes autónomas podem ainda ser atualizadas e geridas muito mais facilmente.
Em última análise, o 5G SA, quando ganhar escala, permitirá acelerar a digitalização das empresas e dos municípios, contribuindo para a inovação. Mas para o digital assumir a sua plena função de nivelamento social e económico, há que assegurar, antes de mais, uma rápida e ampla implementação do 5G Stand-alone.
O 5G SA será determinante para apoiar várias dimensões de uma Cidade Inteligente, como sistemas de transportes sem congestionamentos, serviços de saúde digitalizados, articulados e centrados na prevenção ou ainda modelos de Inteligência Artificial que auxiliam e ampliam as competências humanas. Mas, uma das grandes vantagens apontadas pelos especialistas para acelerar a transição digital, é o facto de o 5G SA permitir fatiar rede para diferentes usos (slicing network).
Uma fatia da rede que dê prioridade à latência mínima e máxima fiabilidade poderia, por exemplo, ser criada para controlar veículos à distância, enquanto outra fatia, com maior densidade e eficiência energética poderia ser utilizada para assegurar a conexão de múltiplas aplicações da Internet das Coisas.
De acordo com vários analistas do grupo Industrial Technology, Media & Telecommunications da Deloitte, a próxima migração para redes de núcleo autónomo 5G deverá permitir o aumento da densidade, fiabilidade e latência dos dispositivos, abrindo a porta a soluções empresariais avançadas. Não é por acaso que as redes autónomas 5G são consideradas a pedra basilar de um ecossistema digitalmente conectado. São elas que vão permitir empresas e organizações do sector público prosperar, inovar e melhorar a vida das populações.
Se o 5G Stand-alone é determinante para o progresso, resta então saber por que não está implementado em todo o lado. Trata-se de uma mudança radical na infraestrutura, essa é a razão da demora. Desde logo, advertem os operadores, é preciso atualizar o equipamento em cada mastro, dado que o 5G utiliza frequências de espectro diferentes do 4G.
Fazer este investimento é, porém, muito dispendioso. Será, portanto, preciso que empresas de Telecomunicações, Governos e sector privado trabalhem juntos para encontrar formas comercialmente viáveis, onde esteja incluído um ambiente regulamentar e de investimento adequado.
As chamadas redes 5G Non Stand-alone (NSA), com um núcleo de rede 4G LTE já existente, serviram como uma solução temporária para a indústria de Telecomunicações. Porque era mais rápido e mais fácil de lançar, a maioria dos operadores utilizou essa versão para conseguir fornecer rapidamente a tecnologia ao mercado. Mas, o que era uma resposta transitória corre agora o risco de se prolongar no tempo.
Os dados mais recentes, da consultora Dell’Oro Group, mostram que o seu progresso tem sido lento. Após realizar uma contagem de redes autónomas de todas as grandes empresas de Telecomunicações do mundo, concluiu que apenas 39 implantaram o 5G SA.
Na Europa e, de acordo com o último relatório da Associação Europeia de Operadores de Redes de Telecomunicações (ETNO), somente quatro operadores implantaram serviços comerciais 5G SA a partir de 2022, representando apenas mais um do que no ano anterior.
Todos, exceto um, são ainda de pequena escala e o foco inicial para dois deles resume-se a isolar o tráfego de Fixed Wireless Access (FWA) em vez de fornecer mais funções especializadas ou permitir que serviços de terceiros utilizem a rede.
O que os analistas de tecnologia esperam, todavia, é que ainda durante este ano surjam investimentos que catalisem novas operações. A grande atração do 5G SA para os operadores são as novas oportunidades de serviços direcionados especialmente para clientes empresariais.
Com acesso em escala à alta-velocidade, ao fatiamento das redes ou a serviços de localização precisos, as empresas podem começar a explorar casos avançados de utilização 5G, como veículos de condução autónoma, robótica de precisão, serviços de inspeção e entrega de drones, sistemas de segurança, controlo de qualidade ou manutenção preditiva com base em Inteligência Artificial.
É este vasto cenário de novas oportunidades que leva a Deloitte a prever que o número de operadores a investir em redes 5G SA – com ensaios, implementações planeadas ou executadas – duplique de mais de 100 operadores em 2022 para pelo menos 200 até ao final de 2023.