Organizações não governamentais, Governo Federal, municípios, operadores de telecomunicações, empresas de infraestruturas de comunicações ou fabricantes de dispositivos móveis uniram-se num esforço coletivo para levar o 5G às favelas do Brasil. A operação é gigantesca e tem na favela Marte, em São Paulo, o seu primeiro caso de sucesso. A conectividade de última geração vai tornar possível bibliotecas virtuais e o ensino à distância para crianças da comunidade e consultas de telemedicina para todos os moradores. São esperados ainda cursos profissionais para microempreendedores ou ações de formação, visando a integração das mulheres no mercado de trabalho.
Levar o 5G às favelas é a grande operação em marcha no Brasil, envolvendo milhares de organizações não governamentais, operadores de telecomunicações, fabricantes de dispositivos móveis ou empresas de infraestruturas de comunicações. Diante de uma escala tão alargada, a mobilização de múltiplos parceiros dos sectores público e privado é, desde logo, encarada como a forma mais célere para ultrapassar entraves logísticos e de segurança e alcançar uma área de cobertura com mais de 13 mil bairros de favelas, em 734 cidades, onde vivem 16 milhões de habitantes, segundo os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Com a chegada das redes móveis de última geração às zonas mais periféricas, o que se espera é abrir um novo leque de oportunidades de negócios e de inclusão digital. Telessaúde, finanças digitais, educação à distância ou comércio online são alguns dos serviços que a população poderá começar a beneficiar com o acesso à Internet de alta velocidade. O 5G já começou a ser implementado em comunidades como o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, onde a empresa IHS Towers Brasil e a ONG Afroreggae inauguraram dois centros educacionais para cerca de 400 jovens que, desde os finais de 2022, já tiveram aulas de código e de inglês.
Para fornecer conectividade de última geração, a IHS construiu estações que utilizam as próprias habitações como base, eliminando as tradicionais torres ou postes. A opção passou essencialmente por rentabilizar os recursos existentes e reduzir ao mínimo o impacto visual na paisagem. Esse será também o modelo que a empresa pretende usar para cobrir outras favelas e regiões periféricas do Rio de Janeiro sem infraestruturas de telecomunicações para suportar os requisitos do 5G.
Na favela dos Sonhos, na cidade de Ferraz de Vasconcelos, São Paulo, o esforço esteve sobretudo concentrado na instalação de pontos de WIFI em locais estratégicos do bairro. Essa foi a solução encontrada para viabilizar a conectividade 5G em ambientes de alta densidade, com antenas inteligentes integradas que aumentam a capacidade da rede. A expectativa é que o investimento – alcançado à conta de donativos e de protocolos com privados – possa contribuir para reduzir o fosso digital numa comunidade onde quase 40% da população são jovens até aos 14 anos, que precisam de internet para estudar.
Outras experiências semelhantes têm vido a decorrer no Morro da Providência, no Estado do Rio de Janeiro, na Favela do Haiti (São Paulo), em Vergel do Lago, na cidade de Maceió (Alagoas), entre várias outras. Mas é a favela Marte, em São José do Rio Preto (São Paulo), que pode reivindicar o estatuto da primeira comunidade plenamente conectada ao 5G. O projeto resulta de um programa muito mais amplo e denominado Favela 3D (Digna, Digital e Desenvolvida). A iniciativa está ainda em fase-piloto e pretende, acima de tudo, desenvolver tecnologias sociais inovadoras que possam ser replicadas por todo o Brasil para transformar as favelas em ambientes digitais.
“A periferia é, geralmente, a última a receber a inovação, mas, desta vez, queremos acelerar o processo, conectando a comunidade ao 5G e proporcionando uma série de programas inovadores e acesso a serviços digitais.”
Edu Lyra, CEO, Gerando Falcões
A Gerando Falcões é a entidade que lidera esta missão, uma plataforma com mais de duas mil organizações não governamentais que atua em rede em mais de 5500 favelas. A operação na favela Marte, em particular, implicou a demolição das barracas e a construção de novas habitações alimentadas com energia solar e entregues aos cerca de 600 moradores, durante o primeiro trimestre de 2024. O acesso ao 5G será possível através de hubs comunitários de conectividade, vistos como uma revolução tecnológica a acontecer agora na comunidade.
A cobertura do 5G irá permitir inaugurar projetos de inclusão social, como a educação à distância, através das bibliotecas virtuais, telemedicina, ações de formação, cursos profissionais para microempreendedores ou ainda programas vocacionados para a integração das mulheres no mercado de trabalho.
Todas estas iniciativas estão, porém, dependentes da atualização dos dispositivos dos moradores. Um dos desafios ainda a superar é a compatibilidade de computadores, portáteis e smartphones com a tecnologia 5G. Esse é, portanto, o objetivo da parceria com fabricantes de dispositivos móveis para promover a troca de aparelhos entre os residentes. Marte é a primeira favela 5G do Brasil, mas esta operação está apenas no início. O seu sucesso será decisivo para levar a cabo a transformação digital que se espera poder vir a entrar gradualmente em todas as comunidades desfavorecidas do país.
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Leia o artigo: “Tecnologia 5G tem enorme potencial para corrigir o fosso digital entre os países mais e menos desenvolvidos”
Crédito das imagens usadas na abertura: Gerando Falcões