Diagnósticos realizados à distância, robôs a alertar os médicos para emergências ou a transportar material médico, cadeiras de rodas autónomas, plataformas a corrigir falhas e ineficiências ou centros de simulação virtual aplicados na formação são alguns dos recursos inovadores que os hospitais, em várias partes do mundo, estão a implementar graças às redes 5G.
Em Portugal, na Alemanha, em Londres e em muitas outras partes do mundo, os hospitais estão a demonstrar o que representam as redes 5G para os cuidados de saúde. Veículos autónomos e robótica agilizam a logística e aceleram o atendimento prioritário aos doentes. As equipas médicas estão também a beneficiar de diagnósticos transmitidos em tempo real durante reuniões virtuais com especialistas a partir de qualquer parte do mundo.
Sistemas de comunicação inovadores permitem ainda que os profissionais de saúde possam trocar mensagens instantâneas de vídeos com os seus colegas do hospital. A conectividade de última geração é usada ainda para soluções que monitorizam a qualidade do ar, corrigem falhas e ineficiências ou controlam até cadeiras de rodas e robôs que assistem os pacientes sem intervenção humana.
Estes são os novos recursos das unidades de saúde que investiram nas comunicações móveis de última geração. O Hospital Universitário de Frankfurt é um desses casos que, em abril de 2023, instalou a sua própria rede 5G com o apoio da vertente digital do programa Connecting Europe Facility (CEF), fundo da União Europeia destinado a apoiar e impulsionar o investimento em infraestruturas de conectividade digital no espaço comunitário.
A rede foi projetada para conectar todo o ecossistema deste complexo de saúde, considerado como um centro de referência no tratamento de doenças raras – 32 departamentos, 10 centros especializados e 25 institutos que deverão beneficiar de uma ampla cobertura 5G interna e externa a partir de meados de 2024.
O serviço, desenvolvido pela Vodafone, destina-se a apoiar perto de 800 especialistas e cerca de 1400 enfermeiros a trabalhar no hospital, bem como beneficiar mais de 50 mil pacientes internados e 200 mil utentes atendidos por ano. Uma das tecnologias já implementada visa assegurar a transmissão em tempo real de dados de diagnósticos, como informações de ultrassom e tomografia computadorizada. Com este recurso, os cardiologistas podem, por exemplo, participar em reuniões virtuais na plataforma Tele-Heart-UHF, que conectada à rede móvel, determina rapidamente se um paciente com falta de ar requer assistência urgente.
Além do diagnóstico remoto, o 5G suporta o Famedly, serviço de mensagens médicas do hospital. A solução permite que a transferência do histórico de conversas entre a equipa do hospital possa ser enviada até ao arquivo de cada paciente, juntamente com os seus dados vitais, como, por exemplo, biossensores e documentação relativa ao tratamento.
A médio prazo, o Hospital Universitário de Frankfurt conta ainda introduzir outros processos de trabalho apoiados nas tecnologias 5G, que incluam soluções para organizar a logística, monitorizar e otimizar os recursos hospitalares. O intuito é definir novos casos de uso que possam ser posteriormente replicados em hospitais da União Europeia.
No Hospital Particular Saint-Martin, em Caen, França, é a robótica que, graças à largura de banda e latência do 5G, assume o maior protagonismo. Conscience Robotics é a startup francesa que, recorrendo à Inteligência Artificial, desenvolveu o Conscience OS, sistema operacional que explora as capacidades físicas dos robôs, incluindo movimentos, deteção de emergências e interação com pacientes e pessoal hospitalar.
A solução é usada, por exemplo, para operar o Median, robô especializado em consultas à distância. A acumulação da experiência desempenha uma função determinante na evolução dos robôs, dado que a sua aprendizagem se expande de cada vez que executam uma nova tarefa. O Median, em particular, poderá ser aplicado em diferentes casos, incluindo consultas, monitorização de lesões ou vigilância pós-operatória.
Israel tem desenvolvido também aplicações inovadoras, como o Synch, inaugurado em março de 2023 no Rambam Health Care Campus. O hospital universitário, localizado em Haifa, foi a primeira unidade de saúde do país a implantar uma rede 5G e uma aplicação que permite ao pessoal médico conectar-se aos seus colegas. A solução é usada tanto para casos de emergência como para tarefas mais rotineiras.
O sistema converte qualquer dispositivo móvel, incluindo smartphones, em walkie-talkies, conectando os especialistas do hospital às suas equipas para conversar, trocar mensagens de texto ou transmitir vídeos. A solução, originalmente projetada para uso militar, consegue ainda fazer o reconhecimento de voz e detetar palavras-chaves usadas nas comunicações para identificar e alocar recursos de emergência.
As redes 5G chegaram também ao Bethlem Royal, hospital psiquiátrico, localizado no sul de Londres, com a missão de eliminar falhas e corrigir ineficiências. A conectividade de última geração é usada para alimentar dispositivos portáteis que atualizam registos de pacientes, poupando tempo às equipas e reduzindo os erros. A solução também conecta dispositivos que monitorizam a qualidade do ar nas enfermarias e o desperdício de medicamentos caros. Esta última valência do sistema é particularmente relevante tendo em conta as estimativas do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS): stocks de medicação não utilizados pelos hospitais custam ao Estado mais de 500 milhões de libras ao ano.
Entremos agora no Hospital Bundang da Universidade Nacional de Seul, na Coreia do Sul, que se encontra entre os mais avançados do mundo. Tirando partido das capacidades da rede híbrida 5G no campus universitário, o complexo hospitalar instalou três sistemas de última geração – um robô autónomo, direção autónoma de cadeiras de rodas elétricas e uma solução para treino e formação à distância.
São os robôs que transportam agora instrumentos cirúrgicos, medicamentos, roupas de cama, entre outros materiais, substituindo os veículos empurrados manualmente pelos funcionários. A programação deste automatismo para períodos de baixo movimento reduziu o congestionamento e ajudou a minimizar o risco de infeções hospitalares. Os robôs inteligentes navegam pelas instalações interconectadas do hospital, incluindo elevadores e portas automáticas, sem colisões, assegurando um fluxo de trabalho rápido e eficiente.
A Wheelie, por seu turno, é uma cadeira de rodas elétrica autónoma que recorre a tecnologias de localização e LiDAR para navegar pelos corredores do hospital, transportando os pacientes e regressando à base até novas indicações. Aproveitando a rede 5G, a equipa do hospital pode monitorizar à distância a localização, a disponibilidade e os níveis de bateria das Wheelies.
O Hospital Bundang também levou a educação médica a novos patamares com o seu Centro de Simulação SMART. O sistema de formação à distância combina salas cirúrgicas inteligentes com simulações de ambientes hospitalares, proporcionando experiências imersivas através de óculos de Realidade Aumentada e Virtual. À medida que mergulham em cenários transmitidos em tempo real, os estagiários aprendem a tomar decisões críticas e a lidar com situações complexas. Os dados também são armazenados e podem ser revisitados para que os professores avaliem que práticas dos alunos têm ainda de ser melhoradas.
Em Portugal, o Hospital da Luz, em Lisboa, tem vindo igualmente a demonstrar as potencialidades da rede 5G na formação e treino de alunos de medicina do ensino privado. No maior centro de simulação médica do país, um robô equipado com uma câmara 360º recolhe imagens em tempo real, transmitidas instantaneamente para óculos de Realidade Virtual dos alunos que se encontram em pontos distintos do país.
As tecnologias de Realidade Virtual e Aumentada estão a ser também utilizadas nos cuidados paliativos do hospital, possibilitando o acompanhamento e monitorização de pacientes em casa 24 horas por dia. O 5G está ainda a permitir ao hospital desenvolver o remote healthcare, para que equipas médicas multidisciplinares possam colaborar a partir de qualquer parte do mundo, seja para realizar cirurgias em conjunto ou para partilhar conhecimento.
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Crédito da imagem de abertura: Pixabay