Quatro anos após iniciar a implantação do 5G, a China, que detém o recorde da maior rede móvel do mundo, começa agora a avaliar o seu impacto no envelhecimento saudável. O recente estudo da Universidade de Pequim mostra que a sua aplicação nos cuidados de saúde tem beneficiado em particular os idosos a viver em zonas urbanas. Os investigadores, no entanto, alertam para a necessidade de estender a tecnologia e a inclusão digital aos grupos vulneráveis dos meios rurais e menos desenvolvidos.
A implantação e o desenvolvimento das redes 5G estão a dar um forte contributo para melhorar a saúde da população chinesa idosa, particularmente beneficiada com a aplicação das tecnologias e soluções inovadoras na indústria médica e de cuidados de saúde. Esta é, pelo menos, a perceção que os próprios chineses, entre os 65 e os 74 anos, fazem da sua condição física e mental, que foi avaliada no estudo “Efeito do Desenvolvimento do 5G entre os Idosos Chineses”, conduzido por investigadores da Universidade de Pequim.
O trabalho, publicado recentemente na plataforma Global Transition, concluiu que a autoavaliação sobre a saúde dos idosos com menos de 75 anos a residir em áreas urbanas da China continental aumentou 31% desde o arranque da cobertura 5G no país. Mas os resultados também mostram que o impacto da conectividade de última geração não foi significativo nos meios rurais, levando os autores a defender um maior esforço para estender as tecnologias e a inclusão digital a zonas do país menos desenvolvidas.
O objetivo da investigação, aliás, foi precisamente lançar uma “primeira luz” sobre o fenómeno para que novos estudos com incidência no impacto do 5G na saúde da população idosa possam gerar mais conhecimentos e suportar melhor as decisões políticas. Com cerca de 191 milhões de habitantes com mais de 65 anos, os idosos representam 13,5% da população total na China continental, segundo os dados citados no próprio estudo.
Com o envelhecimento rápido, torna-se cada vez mais proeminente abordar os problemas de saúde que vão desde as questões nutricionais ao declínio das funções cognitivas, motoras e sensoriais. É neste sentido que o rápido desenvolvimento da Internet e das tecnologias digitais proporcionaram vantagens na promoção do envelhecimento saudável. A China – salientam os investigadores – encontra-se entre os primeiros países a ter implementado o 5G, a partir de novembro de 2019.
Atualmente, com 2,9 milhões de estações de base 5G, a rede móvel é a maior do mundo. Os três operadores estatais de telecomunicações uniram-se para partilhar a infraestrutura a fim de acelerar o processo e reduzir os custos financeiros e ambientais de implantação.
De acordo com o estudo da Universidade de Pequim, as aplicações e casos de uso do 5G encontram-se integrados em cerca de 50 sectores da economia, entre os quais as indústrias médica e de cuidados de saúde, trazendo novos serviços como telemedicina, cirurgia remota ou consulta e diagnóstico à distância.
As comunicações móveis de última geração estão a permitir, segundo os investigadores, que mais idosos utilizem a Internet, facilitando o acesso à informação sobre questões de saúde e promovendo a participação social. Os utilizadores de smartphones ultrapassam os 676 milhões, mostrando que a rede móvel 5G pode fazer com que mais pessoas, incluindo os adultos mais velhos, se familiarizem cada vez mais com as aplicações móveis.
O acesso à Internet, por outro lado, ajuda os idosos a obter informações úteis sobre cuidados de saúde, aumentando a sua literacia e mudando comportamentos relacionados com o seu bem-estar. “O 5G facilita também a tecnologia para os idosos, expandindo e melhorando as suas redes sociais, o que provou ter um impacto significativo na melhoria das suas perceções subjetivas de saúde física, motora e mental”, pode ler-se no estudo.
Do mesmo modo – prosseguem os investigadores -, a indústria médica e de cuidados de saúde contribuem para satisfazer as necessidades médicas dos idosos, promovendo o desenvolvimento de tratamento remoto, registos eletrónicos de saúde e monitorização inteligente de riscos de segurança.
Os resultados também mostraram, no entanto, que os idosos com mais de 75 anos a viver em zonas rurais foram os que menos beneficiaram com o desenvolvimento do 5G. Os autores suspeitam que uma das possíveis razões são os níveis de adoção de tecnologias de saúde “muito mais baixos” para faixas etárias mais avançadas em meios menos desenvolvidos. Os investigadores defendem, por isso, estratégias mais direcionadas para estes grupos mais vulneráveis.
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