O sistema pioneiro de recolha de lixo da capital da Coreia do Sul é hoje uma referência para muitas cidades, incluindo portuguesas. Há cada vez mais municípios a recorrer às redes móveis de última geração e à Internet das Coisas para tornar a limpeza urbana mais eficiente e com menos custos ambientais e operacionais.
Muitas cidades dispersas pelo mundo, como Dublin, na Escócia, Auckland, na Nova Zelândia, Colorado Springs, nos Estados Unidos, e até mesmo municípios portugueses como Barreiro ou Ponta Delgada, estão a melhorar as suas redes de recolha de resíduos urbanos graças aos contentores, camiões e plataformas conectados ao 5G. Mas na crescente lista de países que têm vindo a adotar soluções inteligentes na gestão do lixo e do desperdício, Seul, capital da Coreia do Sul, foi pioneira, sendo hoje um caso de estudo e uma referência internacional.
Seul é considerada a maior megacidade do mundo desenvolvido. Cerca de 10 milhões de habitantes vivem na cidade e a população, na área metropolitana, ultrapassa os 25 milhões de pessoas, quase o dobro de Nova Iorque e cerca de oito vezes mais do que densidade populacional da região de Roma. A limpeza das ruas, a produção e a gestão do lixo são, como tal, desafios para o município que recolhe todos os dias quase 10 mil toneladas de resíduos urbanos.
O elevado volume de lixo gerado na cidade obrigava a uma recolha frequente dos contentores e ecopontos – entre quatro e cinco operações diárias, boa parte delas com os funcionários a desconhecerem a lotação dos equipamentos em tempo real. Em 2014, ainda quando pouco se falava de cidades inteligentes, Seul testou uma tecnologia baseada em sensores IoT, que em 2020, foi melhorada com a conectividade 5G.
Sensores acoplados aos contentores detetam quando o lixo está a transbordar e notificam os serviços de limpeza. Ao utilizar a energia solar para compactar os resíduos, os contentores reduzem também as operações de recolha e o número de camiões a circular na estrada.
A tecnologia permite que os recipientes armazenem até quatro vezes mais resíduos antes de serem esvaziados. A redução dos custos em 83%, com a recolha de resíduos, e a eliminação do lixo nas ruas associado aos contentores cheios foram as principais vantagens identificadas. De acordo com o município, o modelo de gestão de resíduos urbanos permitiu diminuir em 66% a frequência da recolha de lixo e aumentar as taxas de reciclagem em 46%.
O inovador serviço municipal de Seul tem sido desde então um modelo seguido por várias autarquias. É o caso de Dublin que instalou o Telebelly nas ruas mais movimentadas da cidade – um contentor inteligente conectado ao 5G que comunica em tempo real o seu status no smartphone das brigadas de limpeza. A solução tem aliás uma dupla função, uma vez que serve igualmente para alojar uma rede de small cells com vista a melhorar a cobertura 5G nas zonas de maior densidade populacional.
As cidades neozelandesas, por seu turno, optaram por usar vídeo em tempo real e Inteligência Artificial para monitorizar a capacidade dos contentores de lixo. Recorrendo ao 5G, um ecoponto apenas solicita a recolha quando está cheio, economizando tempo, recursos e emissões de CO2. No futuro, com a evolução desta solução, espera-se inclusive que venham a ser capazes de detetar os tipos de detritos descartados, notificando os serviços, por exemplo, quando há restos de alimentos a comprometer a reciclagem de papel.
A cidade americana de Colorado melhorou também a gestão da recolha de lixo após introduzir sensores IoT conectados à rede 5G. Os ganhos não foram unicamente sentidos na otimização das rotas e na redução dos custos operacionais. A solução monitoriza também a temperatura dentro dos contentores, detetando focos de incêndio que possam ocorrer nos equipamentos para possibilitar a sua rápida extinção.
Em Portugal, o município do Barreiro foi um dos primeiros a recorrer ao 5G para gerir os resíduos urbanos da cidade. A solução, implementada no verão de 2022, armazena e monitoriza dados relevantes para o processo de recolha de resíduos biológicos.
Os sensores, instalados nos contentores de lixo, medem o nível de enchimento de cada contentor, permitindo otimizar o percurso dos camiões. Além de facilitar a gestão da frota, a tecnologia possibilita ainda uma poupança de cerca de 20% de combustível e cortes na ordem dos 40% nos custos operacionais.
____________________________
Leia também o artigo: “5G e IA contam em tempo real os passageiros nos autocarros de Hong Kong”
Crédito da imagem de abertura: Ecube Labs