Os gestores das cidades precisam de dados em tempo real, localizados e precisos sobre a qualidade do ar, a circulação rodoviária, o calor urbano ou os consumos energéticos para planear e fundamentar as políticas a adotar. Mas apenas as redes 5G suportam a densidade crescente de sensores interligados que um município precisa para recolher informação. Ao identificar os erros de planeamento, através dos sistemas de sensorização, uma autarquia será capaz de gerir múltiplas dimensões, como o tráfego, a recolha de resíduos urbanos ou a eficiência de recursos.
Lode Lane e Damson Lane são duas estradas frequentemente congestionadas da cidade de Solihull, em West Milands, Inglaterra. Ambas estão agora equipadas com sensores inteligentes colocados nos postes de iluminação pública. Alimentados por conectividade 5G, os dispositivos, instalados em finais do ano passado, permitem recolher dados anónimos sobre a quantidade de tráfego, as horas de maior circulação ou os tipos de transportes que atravessam as vias. A informação destina-se a ajudar as autoridades locais a melhorar a segurança rodoviária nestas duas artérias, mas o município espera, a médio prazo, construir modelos preditivos, baseados em padrões de comportamento, que ajudem a gerir o trânsito em toda a cidade.
A milhas de distância do Reino Unido, a cidade de Nasushiobara, no Japão, conta com mais de 400 sensores interligados entre si e à rede móvel de quinta geração, usados para prever a irradiação solar, contribuir para a eficiência energética e ainda gerar energia limpa. A sensorização para monitorizar a qualidade do ar, bem como de outros parâmetros ambientais é, aliás, uma tendência crescente, com mais de seis mil cidades de 117 países – segundo os dados das Nações Unidas -, a recorrerem a esta solução para combater a poluição atmosférica nos centros urbanos.
Os gestores das cidades precisam de dados em tempo real, localizados e precisos sobre a qualidade do ar, a circulação rodoviária, o calor urbano ou os sistemas de transportes para planear e fundamentar as políticas a adotar. A recolha de dados ambientais ou de tráfego são apenas duas das inúmeras dimensões que a sensorização trouxe para as Cidades Inteligentes. Os municípios estão cada vez mais dependentes das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para melhorar a qualidade dos serviços através da gestão dos recursos públicos e centrando-se no conforto, manutenção e sustentabilidade. E o vídeo, em particular, está a transformar a forma como os grandes centros urbanos são governados. Utilizando Inteligência Artificial (IA), a análise de vídeo promete transformar fluxos de dados e de imagens de alta-definição em informação útil na tomada atempada de decisões.
Mas apenas as tecnologias móveis de quinta geração conseguem suportar a densidade crescente de câmaras que uma cidade necessita para recolher informação. O 5G não é somente velocidade, há todo um conjunto de características da rede consideradas fundamentais para alavancar as soluções ligadas à sensorização e à videovigilância das cidades inteligentes.
Entre as funcionalidades mais importantes está a massificação que permite até um milhão de dispositivos ligados em simultâneo por km2. Essa é a grande mais-valia identificada pelos especialistas e que permitirá instalar uma rede de sensores e câmaras interligadas a funcionar como um alicerce, gerando toda a informação necessária para fazer a gestão da cidade.
Os casos de uso no tráfego são os mais paradigmáticos, com os municípios a poderem beneficiar de informação automática e muito detalhada sobre o trânsito, chegando inclusive a determinar se é uma obra, um acidente ou uma viatura parada que está a bloquear a circulação, como conta André Pereira Gomes, da MEO, no podcast “Fala-me de tecnologia”, da Bosh Portugal. O modelo adotado na cidade do Barreiro tem sido, aliás, frequentemente apontado como um projeto pioneiro em Portugal.
O seu sistema de contagem de veículos, com uma classificação por tipologia, permite conhecer o número de autocarros que passam numa determinada artéria e se cumprem os horários, quantos peões atravessam a passadeira ou quantas pessoas utilizam os circuitos pedonais nas suas deslocações pendulares. Toda essa informação poderá vir a ser valiosa para planear com maior eficácia a construção de novas infraestruturas, como ciclovias, rotundas, sinalização ou redutores de velocidade.
Ao se conseguir identificar os erros de planeamento, através da informação recolhida pelos sistemas de sensorização, uma autarquia será capaz de gerir em simultâneo várias dimensões da cidade ou da freguesia, como sinalização rodoviária, recolha de resíduos urbanos, gestão de frotas ou de recursos energéticos e hídricos.
Não é por acaso que os dados são considerados “o novo petróleo” do século XXI, citando o matemático britânico, Clive Humby. A informação gerada por sistemas de sensorização é crítica para qualquer cidade inteligente, mas a tecnologia de pouco servirá se não lhe for atribuído um sentido, como advertem os especialistas da Deloitte no artigo publicado na Forbes. Os sensores são peças de um puzzle que ao se conectarem entre si e com a rede móvel fornecem um diagnóstico completo e preciso sobre uma realidade específica da cidade.
O que importa, desde logo, não é aplicar a tecnologia sem analisar primeiro que benefícios se pretendem retirar dos dados gerados pelos sensores, que tanto podem ser aplicados na rega inteligente, na iluminação pública, na gestão do tráfego, na recolha do lixo ou até na deteção precoce de eventos climáticos extremos, como terramotos ou inundações, que exigem a rápida intervenção das autoridades.
A sensorização é cada vez mais uma ferramenta vital para as cidades não só no presente, mas abrindo também as portas para tecnologias que poderão vir a ser desenvolvidas no futuro. Daí a importância de encontrar soluções flexíveis – com protocolos abertos, comunicações encriptadas, confidencialidade dos dados e sistemas que permitam a interoperabilidade. É isso que defende Norberto Barroca, da Bosch Portugal, no podcast “Fala-me de tecnologia”, advertindo para a necessidade de criar um “modo standard” de comunicações para permitir sinergias com diferentes sensores e até entre diferentes camadas da própria rede.
Com a rápida evolução das tecnologias, os sistemas de sensorização também vão sofrer grandes transformações. Adivinhar o futuro será sempre um exercício arriscado, mas o especialista da Bosh está convencido de que a tendência, dentro de cinco a dez anos, passará por modelos cada vez mais preditivos, baseados em padrões de comportamento. As soluções suportadas em sensores estão a caminhar para a deteção e pré-aviso de situações que não aconteceram ainda, mas apresentam uma grande probabilidade de vir a ocorrer. Algo que nos faz lembrar o filme, “Minoryty Report”, realizado por Steven Spielberg, em 2002, e que, não por acaso, é a principal referência cinematográfica de Norberto Barroca.
_____________________
▪▫▪ Se pretende saber mais sobre sistemas de sensorização, participe no webinar gratuito da SmartCitiesWorld sobre o uso dos sensores ambientais em cidades inteligentes, a decorrer na tarde de 24 de janeiro. Consulte a agenda do Portal 5G para mais informação.