O balanço semestral do Observatório 5G Europeu destaca a necessidade de os países-membros da União Europeia apostarem na cobertura do 5G na faixa de frequência dos 3,6 GHz para melhorar a qualidade da implantação das redes móveis. O financiamento em projetos e infraestruturas 5G, por outro lado, está muito abaixo dos valores aplicados em outras regiões como EUA, Japão ou China. Esses desequilíbrios têm de ser corrigidos, advertem os autores, não só para cumprir as metas da Década Digital, como para a Europa continuar na vanguarda do 5G.
Uma cobertura do 5G na faixa de frequência dos 3,6 GHz ainda muito reduzida e financiamento de projetos 5G abaixo das outras regiões mais desenvolvidas são algumas das fragilidades da União Europeia (UE) apontadas no novo relatório semestral do Observatório 5G Europeu. O documento reforça a necessidade de os países-membros canalizarem maiores investimentos para acelerar o progresso das tecnologias de quinta geração, mas reconhece o esforço do bloco comunitário em avançar na implementação das redes 5G autónomas (5G Stand-alone).
A faixa de 3,6 GHz é um dos principais pontos deste relatório, com os seus autores a considerá-la como um indicador relevante na avaliação da qualidade da implantação das redes móveis de última geração. Devido à maior quantidade de espectro disponível, esta é a banda de frequência que permite aumentar a capacidade e a velocidade de transmissão de dados, embora o seu alcance geográfico seja mais limitado por comparação aos 700 MHz.
Reconhecendo que o desenvolvimento do 5G está a evoluir de forma consistente em toda a União Europeia – chegando atualmente a 81% da população -, os autores do relatório advertem que a cobertura suportada na faixa de 3,6 GHz continua bastante reduzida. O Observatório 5G conclui que as estações de base 5G que utilizam esta faixa não cresceram além dos 3% face ao registado em abril de 2023, data em que foi publicado o último relatório semestral.
Os resultados – salientam os especialistas – estão em sintonia com as conclusões também já identificadas no relatório da Ericsson que, no final de 2022, estimava que apenas 15% da cobertura na União Europeia utilizava o espectro de banda média, incluindo a faixa de 3,6 GHz. A Europa, segundo a fabricante sueca, está atrás de outras regiões no que diz respeito à implantação da banda média, podendo esse atraso vir a dificultar o progresso do 5G no espaço comunitário.
Essa desaceleração, todavia, não é uniforme em todo o espaço da UE. O desempenho da Alemanha, em particular, destaca-se positivamente no cenário europeu. O operador Deutsche Telekom, por exemplo, tem vindo a investir ativamente em estações base 5G na banda de 3,6 GHz, tendo construído mais de 8200 estações até março de 2023.
O investimento europeu em projetos e infraestruturas 5G é mais uma lacuna apontada neste documento. Na UE, o montante das verbas para atingir as metas de conectividade para 2030 é de 23 mil milhões de euros em subvenções para o período 2021-2027, incluindo cerca de 16 mil milhões de euros ao abrigo do Fundo de Resiliência e Recuperação da União Europeia. Nos Estados Unidos, em contrapartida, espera-se que, até 2025, mais de 600 mil milhões de dólares sejam aplicados em infraestruturas 5G, segundo as estimativas da consultora Mckinsey.
Considerando, aliás, o valor total per capita em fibra ótica e 5G, foram investidos, na UE, apenas 104 milhões de euros. No Japão, esse montante dispara para 260 milhões, enquanto nos EUA atinge os 150 milhões de euros e, na China, chega aos 110 milhões de euros. Embora o desempenho do bloco comunitário não acompanhe a tendência das regiões mais desenvolvidas, o relatório semestral do Observatório 5G Europeu faz questão de destacar algumas iniciativas que estão a avançar em vários dos Estados-Membros.
É o caso da Lituânia que, em maio de 2023, atribuiu fundos de 24,5 milhões de euros para desenvolver soluções de tecnologia digital que exijam conectividade 5G, como o transporte autónomo, os veículos aéreos não tripulados, a Internet das Coisas, a Realidade Virtual e a automação. Em junho de 2023, foi a vez de Espanha canalizar 500 milhões de euros para financiar o desenvolvimento rural 5G no país. O projeto foi concebido para proporcionar aos cidadãos conectividade igual, independentemente de onde vivam, e tem como alvo as cidades com menos de 10 mil habitantes.
Embora sejam ainda alguns os desafios que a UE tem a superar, o balanço do observatório da Comissão Europeia faz questão de destacar o “esforço acelerado” que se tem vindo a fazer para lançar novas redes 5G Stand-alone (5G SA), com vários benefícios, como melhor desempenho da rede, ou novos recursos como o corte de rede 5G (Slicing Network), atributos essenciais para implementar tecnologias avançadas nas indústrias ou nas cidades inteligentes.
Progressos “significativos” foram por exemplo assinalados em Espanha e na Alemanha. Em junho de 2023, o operador espanhol Orange anunciou o lançamento de serviços 5G SA em 30 municípios, alargando o alcance da sua rede além das principais cidades onde já disponibilizava serviços 5G SA. A concorrente Movistar também implantou uma rede autónoma denominada 5G+.
Na Alemanha, a Vodafone revelou, em agosto de 2023, que a sua rede 5G SA já cobria 45% da população do país. Em vários Estados-Membros onde os operadores ainda não lançaram o 5G SA comercial, o Observatório registou progressos nos testes em fase inicial. Nos Países Baixos, por exemplo, a KPN testou a tecnologia 5G SA na sua rede juntamente com a Ericsson, planeando introduzir o 5G Stand-alone gradualmente a partir de 2024.
De uma forma genérica – salienta o documento -, há um interesse significativo da UE em desenvolver as redes móveis 5G autónomas. Prova disso são as conclusões do relatório da Associação Global de Fornecedores Móveis (GSA), dando conta que, em julho de 2023, a maioria dos Estados-Membros contava com operadores a investir em redes públicas 5G SA. São perspetivas otimistas para os autores que, todavia, advertem para a impossibilidade de medir com rigor o progresso global do 5G Stand-alone, devido à ausência de dados centralizados.
__________________________________
▫▪▫ Leia também as principais conclusões do primeiro balanço da Comissão Europeia sobre o progresso do programa Década Digital.