Os Estados-Membros precisam de acelerar a cobertura das redes móveis de última geração e intensificar o esforço na digitalização das empresas e dos serviços públicos. Só com mais programas e investimento, a Europa conseguirá alcançar a transformação digital em 2030. Essa é a grande advertência que surge no primeiro balanço de Bruxelas sobre a evolução das metas da Década Digital. O relatório foca ainda a necessidade de alargar as competências digitais básicas da população e das empresas, bem como na urgência de a indústria apostar nas tecnologias emergentes.
Os 27 países da União Europeia (UE) precisam de investir mais de 200 mil milhões de euros em cobertura 5G e em infraestruturas de fibra ótica para conseguir cumprir os objetivos definidos no programa Década Digital. O investimento por parte do bloco comunitário terá, por isso, de acelerar para não comprometer as metas traçadas em 2021 pela Comissão Europeia. E, Portugal, que neste domínio se encontra abaixo da média da UE, terá de fazer um esforço adicional para alcançar os resultados esperados em 2030.
O diagnóstico e as recomendações surgem no primeiro balanço de Bruxelas sobre a evolução das metas para alcançar a transformação digital na Europa. Perante o atraso na implementação das tecnologias de última geração, o relatório “O Estado da Década Digital” (2023) sublinha a urgência de os Estados-Membros intensificarem os esforços em quatro áreas chave: conectividade 5G, digitalização das empresas, digitalização dos serviços públicos e semicondutores.
Recorde-se, a este propósito que, para 2030, a velocidade de gigabits “deve estar disponível para todos” enquanto as redes 5G de alto desempenho deverão cobrir todas as áreas povoadas. Mas, até ao momento, a infraestrutura de fibra chega a apenas a 56% das famílias europeias e a cobertura do sinal da tecnologia de quinta geração móvel não ultrapassa 81% da população europeia, caindo, inclusive, para 51% quando as zonas rurais são avaliadas separadamente.
O que igualmente levanta alguns receios por parte da Comissão é o atraso na implementação das redes 5G autónomas (5G stand-alone), bem como a própria qualidade do 5G, “aquém das expectativas dos utilizadores finais e das necessidades da indústria”. De acordo com os dados citados no relatório, 55% das residências rurais no espaço comunitário não são servidas por nenhuma rede avançada e 9% não têm qualquer cobertura fixa. As lacunas de conectividade – advertem os autores – devem ser mapeadas para ser possível identificar onde o financiamento pode complementar o investimento privado em áreas que não são comercialmente viáveis.
Portugal, no que respeita à rede móvel 5G, atinge uma cobertura de 70%, estando, como tal, abaixo da média da União Europeia. Mas, por outro lado, apresenta um desempenho particularmente bom nas redes fixas de capacidade muito elevada (VHCN, sigla em inglês para Very High Capacity Networks) e na cobertura de fibra até às instalações (93% e 91%, respetivamente, em comparação com a média da UE de 73% e 56%) e ainda na adesão à banda larga fixa de pelo menos 100 Mbps (77%). No entanto, a utilização de pelo menos 1 Gbps (4,5%) e a adesão à banda larga móvel (82%) estão abaixo da média da UE.
No caso português, o relatório, acrescenta ainda outras metas que devem ser aceleradas, especificamente a digitalização dos serviços públicos e das empresas que atingem taxas de 78% e 82% respetivamente. Embora reconheça progressos feitos para aumentar as competências digitais nas faixas etárias entre 16 e 74 anos, Bruxelas apela também que Portugal intensifique o esforço nesta matéria.
Significa isto que deverá aumentar as aptidões digitais básicas de 55%, em 2022, para 80% da população, em 2030, de modo a cumprir o objetivo incluído no programa da Década Digital. O desempenho neste domínio, todavia, melhora nas Pequenas e Médias Empresas (PME), onde 70% possui o nível básico de intensidade digital, ligeiramente acima da média da UE (69%), em 2022.
A digitalização no sector empresarial precisa, ainda assim, de acelerar na transformação tecnológica e digital. A adoção da nuvem (29% em 2021) e do big data (11 % em 2021), por parte das empresas portuguesas, fica ainda atrás da média da UE (34% e 14%, respetivamente). No entanto, 17% das empresas nacionais já utilizavam a Inteligência Artificial, em 2021, o que representa mais do dobro da média da União Europeia.
No conjunto, o desempenho da indústria europeia tem sido insuficiente para assegurar o cumprimento das metas da Década Digital. Ao ritmo atual, apenas 66% das empresas no espaço da UE devem adotar soluções de nuvem, 34% de big data e 20% de Inteligência Artificial até 2030, ficando abaixo do percentual definido para 75% no programa para essas tecnologias.
“Agora é o momento de trabalhar em conjunto para colocar a Europa na vanguarda da transição digital. Este é o significado das recomendações que transmitimos aos países-membros.”
Thierry Breton, comissário Europeu do Mercado Interno
A indústria de semicondutores é, por fim, o último ponto a merecer destaque no relatório, com a Comissão a alertar para os países da UE investirem no sector de forma a duplicar a sua participação na produção mundial de chips de ponta de 10% para 20% do mercado, até 2030. A expectativa é de que a Lei Europeia de Chips, em vigor desde setembro de 2023, forneça os incentivos necessários para que as fábricas possam dar esse salto.
“Os estados-membros devem promover políticas e investimentos nacionais para estimular ainda mais as capacidades domésticas a fim de desenvolver e fabricar os chips e para aumentar as competências locais em tecnologias avançadas em todos os sectores”, remata o documento.
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▪▫▪ Visite o website da Comissão Europeia para consultar o relatório na íntegra e as respetivas análises feitas para cada um dos 27 Estados-Membros (versão em inglês).