As redes privadas 5G dão os primeiros passos na Europa, mostrando casos de uso surpreendentes em aeroportos, fábricas, portos, centros de investigação ou até no sector mineiro. Consideradas centrais para conectar tecnologias avançadas, prevê-se que o seu crescimento, a nível mundial, seja rápido, alavancando a Indústria para a era 4.0.
Um pouco por toda a Europa, as redes privadas 5G emergem como uma solução avançada para a inovação entrar nas fábricas, nos aeroportos, nos campos universitários, nos portos ou até nos subterrâneos da indústria mineira. Os primeiros casos de uso começam agora a surgir, indicando que a transformação tecnológica e digital é um horizonte mais próximo a cada ano que passa.
Em finais de julho, aliás, demos conta, aqui no Portal 5G, de que a operadora Fraport e a empresa japonesa de telecomunicações NTT estão a construir a maior rede privada 5G da Europa no aeroporto de Frankfurt. Cobrindo uma área de 20 mil km2, a infraestrutura será inicialmente usada para comunicação de voz e dados. Espera-se, porém, que no futuro possa ser aplicada na condução autónoma a acontecer na pista aeroportuária.
Poucos meses antes, também na Alemanha, a farmacêutica Bayer anunciou a intenção de instalar uma rede privada dentro da sua estufa de investigação, em Moheim, para apoiar a pesquisa na área dos inseticidas. A rede irá cobrir 11 mil km2 e suportar recursos como robôs autónomos, Inteligência Artificial e Realidade Aumentada e Virtual.
Neste cenário de mudança acelerada, a Bélgica surge entre os pioneiros ao inaugurar em 2019 uma rede privada 5G no Porto de Zeebrugge, no município de Bruges. O projeto envolveu a conectividade dos rebocadores, mas também detetores de níveis de poluição atmosférica, câmaras e sensores instalados no cais.
Mais recentemente, foi a vez do Porto de Aveiro, em Portugal, anunciar em maio deste ano, uma prova de conceito, assente numa rede privada de última geração, que lhe permite monitorizar e gerir a carga em tempo real, através de réplicas digitais e aplicações de Realidade Aumentada e Virtual.
A Nokia, entretanto, concluiu em outubro, um dos seus projetos mais ambiciosos: a instalação de uma rede privada na mina de ouro de Kittilä, no norte da Finlândia. A rede irá apoiar as operações no solo e no subsolo, atingindo profundidades até um quilómetro. Estendendo-se por um extenso sistema de túneis e galerias, as redes irão conectar funcionários, equipamentos, dispositivos e veículos.
A implementação das redes privadas dá os primeiros passos. O Observatório 5G Europeu, reconhece no seu último relatório que a empreitada está ainda numa “fase embrionária”, lembrando que elas serão decisivas para indústrias, empresas ou centros de investigação adotarem as novas tecnologias.
As redes privadas, como o nome indica, são operadas por entidades particulares, podendo a sua arquitetura variar entre totalmente privada e um modelo híbrido, em que um fornecedor de serviços fornece a infraestrutura ou o espectro. E por que são elas essenciais para o sector privado, sobretudo para a Indústria 4.0? Desde logo porque – segundo explicam os especialistas do Observatório 5G – uma fábrica inteligente exige dispositivos conectados a recolher informação em permanência e em tempo real.
Uma rede privada é, por isso, a forma mais engenhosa de aproximar o processamento de dados aos equipamentos. Ao trazer os data centers para o interior das fábricas – a chamada computação de borda ou edge computing – as tomadas de decisão tornam-se mais rápidas do que quando a informação circula na nuvem.
Um exemplo clássico a ilustrar a transformação que começa a acontecer no chão de fábrica poderia ser um robô, equipado com uma câmara, que identifica e processa a imagem de uma embalagem danificada, eliminando-a de imediato da linha de montagem, otimizando assim toda a operação.
As inúmeras potencialidades das redes privadas levam os analistas a acreditar que o seu crescimento será rápido no sector da indústria. A consultora britânica Rethink Research estima que 11% (1,55 milhões) das estações 5G instaladas no mundo até 2027 serão utilizadas por redes privadas. Atualmente, entre as 1,18 milhões de antenas 5G já instaladas, apenas 1945 cumprem essa função.
No âmbito da Indústria 4.0 – onde a Internet das Coisas (IoT) ganha a denominação de Internet Industrial das Coisas (IIoT) – as redes privadas já começam a ser aplicadas para diferentes finalidades. É o caso das aplicações mMTC (Massive Machine Type Communication), que analisam grandes volumes de dados oriundos de milhares de dispositivos de fábrica.
Mas há ainda outras funcionalidades relevantes como a diminuição da latência em aplicações críticas que exigem tempos baixíssimos de resposta, a monitorização de robôs dentro e fora da fábrica, onde inclusive poderá ocorrer a utilização da rede móvel pública ou, tão ou mais importante, o aumento da proteção e segurança de dados e de dispositivos.
Espera-se que todas essas possibilidades aumentem significativamente o volume de dados em trânsito nas redes privadas 5G nos próximos anos. A Rethink Research prevê que, de um volume global atual de 51,1 exabytes/mês, se escale para os 77,4 milhões de exabytes, até 2027.
Perante os novos caminhos que se abrem, restará, talvez, perguntar por que não poderão todas essas vantagens serem asseguradas por redes públicas? É certo que a tecnologia é a mesma, mas, na esfera privada, mudam as regras, aumentam as garantias de segurança e reduz-se as limitações destas redes. São esses, pelo menos, os três critérios assinalados pelo analista Jeff Kagan, no seu artigo “Public 5G vs. private 5G vs. hybrid 5G networks”, publicado no RCR Wirelss News.
Não será difícil entender o seu ponto de vista, tendo em conta que um dos principais riscos de segurança da rede pública advém justamente do facto de ser partilhada por toda a população. Além disso, justifica o analista americano de tecnologia industrial, em horas de maior tráfego, o impacto do congestionamento sente-se de modo igual para todos os utilizadores.
Ao permitir também uma total liberdade na sua configuração, as redes privadas 5G podem ainda direcionar antenas, rádio e core, adaptando-se às necessidades de cada cliente. Estas serão, como tal, as razões para empresas, indústrias, agências governamentais ou centros de investigação optarem por redes privadas, procurando segurança e maior controlo sobre elas.
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▪▫▪ Para saber mais sobre transformação tecnológica na indústria leia o artigo “Consórcio Augmanity investiu seis milhões de euros em soluções inovadoras para a indústria portuguesa”, publicado no Portal 5G.