O novo projeto de investigação, financiado pela Comissão Europeia, irá desenvolver tecnologias de Realidade Aumentada destinadas a transformar a forma como as máquinas pesadas interagem com os humanos. Tudo isso só será possível com recurso às redes 5G para suportar a transferência de grandes volumes de dados e eliminar atrasos ou interrupções em comunicações críticas para os processos industriais.
TheiaXR é o novo projeto internacional de investigação, financiado pela Comissão Europeia, que se propõe a desenvolver tecnologias de Realidade Aumentada (RA) destinadas a transformar a forma como as máquinas pesadas interagem com os humanos. A iniciativa, com duração de três anos e com um total de seis milhões de euros, custeados pelo programa Horizonte Europa, será testado em três casos de uso – limpeza de neve, logística e construção.
Máquinas como escavadoras, empilhadoras ou gruas são grandes e volumosas, podendo atualmente ser remotamente controladas. Para o humano, porém, não é fácil ter uma perspetiva abrangente da máquina e do ambiente envolvente. As tecnologias de Realidade Aumentada surgem precisamente com o propósito de expandir o campo de visão do operador.
A Realidade Aumentada e a Realidade Virtual oferecem inúmeras possibilidades, como por exemplo, indicadores sobrepostos nos óculos do operador, permitindo avaliar o estado das máquinas e o seu contexto, tornando a interação com o equipamento muito mais intuitiva. Combinados com sensores externos e monitorização de vídeo streaming, estas tecnologias ajudam ainda a detetar obstáculos e outras situações potencialmente perigosas para os trabalhadores a operar em ambientes altamente automatizados.
A crescente procura de hardware para RA por parte de indústrias e de empresas tem levado os operadores de telecomunicações a oferecer cada vez mais infraestruturas 5G para suportar a transferência de grandes volumes de dados que essas soluções exigem. As redes de quinta geração são cruciais para alimentar as tecnologias de Realidade Aumentada, Realidade Virtual e Realidade Mista no chão de fábrica, nas operações em armazéns, na gestão de sistemas de transportes ou em reuniões imersivas entre colaboradores separados por centenas ou milhares de quilómetros.
Ao contrário das plataformas e aplicações digitais convencionais, o software imersivo de Realidade Aumentada requer mais poder de streaming do que o 4G alguma vez poderá oferecer. Uma deficiente conectividade reduz drasticamente o impacto destas novas tecnologias. É que um atraso ou uma eventual interrupção na transmissão do vídeo não compromete apenas a comunicação durante uma videoconferência, pode ser também desastrosa para operações logísticas ou comerciais críticas.
Uma das vantagens das redes 5G é a latência ultrabaixa que permite uma transferência de dados contínua e fluída. Além de reduzir o atraso e manter a perturbação da comunicação no mínimo, as velocidades elevadas do 5G aumentam a eficiência e as funcionalidades das tecnologias de Realidade Aumentada.
A RA, aliada ao streaming de vídeo a 360° e em tempo real e ainda ao áudio 3D (espacial) traz possibilidades revolucionárias para comunicações industriais e aplicações comerciais. O seu valor estende-se a vários domínios, indo do controlo de qualidade, até às operações comandadas à distância, passando pela segurança e proteção dos colaboradores e sistemas.
Para além de proporcionar uma visão mais completa e precisa de um determinado local, o vídeo de alta-definição a 360° também reduz os custos operacionais. Segundo os especialistas, uma única câmara de 360° pode substituir até oito câmaras de vídeo convencionais.
A tecnologia pode ser utilizada em diferentes ambientes, como por exemplo, estações ferroviárias para monitorizar e responder proactivamente a quaisquer ameaças, podendo ainda desempenhar um papel crucial ao ajudar as autoridades portuárias a lidar com tarefas complexas, como controlo de tráfego de veículos e identificação de passageiros, de forma rápida e eficiente.
As soluções de RA, ao permitirem operações de reparação e manutenção à distância, evitam a deslocação dos técnicos, que podem permanecer na sua base e comunicar visualmente com máquinas e colaboradores humanos para realizar o seu trabalho. Além disso, ao recorrer ao áudio 3D (som surround), os operadores obtêm um nível de imersão que lhes possibilita identificar com precisão a direção do som, chegando mais facilmente à raiz e à resolução do problema.
Estas funcionalidades acabam por melhorar a produtividade, uma vez que os técnicos poderão servir mais clientes em períodos também mais reduzidos. A tecnologia, como já vimos aqui, no Portal 5G, também pode ser utilizada para formação à distância, eliminando a necessidade de viajar, o que contribui para evitar as deslocações, reduzir consumos energéticos e suprimir emissões de CO2.
Estes são, no fundo, os benefícios que os promotores do projeto TheiaXR esperam poder vir a retirar das tecnologias de RA aplicadas a grandes máquinas operadas por humanos à distância. O programa será levado a cabo por um consórcio de 11 parceiros da indústria e da academia oriundos de seis países da União Europeia. A iniciativa será coordenada pela TTControl, uma joint venture da TTTech e HYDAC International, com sede em Viena, na Áustria e Brixen, Itália. O objetivo passa sobretudo por disponibilizar ao mercado comunitário soluções inovadoras que possam ser aplicadas, primeiramente em logística, construção e limpeza de neve, mas que também se possam estender mais tarde a outros campos de atividade.