A tecnologia está a possibilitar inúmeros avanços na condução autónoma, prometendo ultrapassar os desafios das alterações climáticas, da segurança e da eficiência energética e operacional. Tal é válido tanto para o sector automóvel como para os veículos pesados, peças críticas para a economia. Então porque não atingimos ainda o último nível da condução sem intervenção humana? Só falta mesmo acelerar a cobertura ininterrupta do 5G, sobretudo em zonas rurais, para a promessa poder por fim ser cumprida.
Quando um camião nos obriga a desacelerar o carro numa estrada nacional, é difícil conseguir ver o seu papel para manter a funcionar as diferentes cadeias de abastecimento. Mas o certo é que estas máquinas colossais são atualmente uma peça crítica em qualquer economia. Quase um quarto de todo o transporte de mercadorias na União Europeia é feito através de vias rodoviárias, segundo as estatísticas mais recentes do Eurostat, e a tendência é para o número continuar a crescer.
Com a necessidade urgente de otimizar custos operacionais e reduzir as emissões de carbono, no entanto, a tecnologia emergente, alimentada por conectividade de última geração, assume-se como o principal caminho para ultrapassar esses desafios. Esse é o propósito dos camiões inteligentes e conectados, que precisam de cobertura ininterrupta e capacidades do 5G para atravessar a fronteira da condução autónoma e automatizada.
Alguns países, como a Alemanha e a França, já regulamentaram o nível 4 da condução autónoma – estágio em que o veículo apenas requisita a intervenção humana quando sai do percurso previamente definido. Mas, na maioria dos casos, a supervisão remota é legalmente obrigatória, sobretudo para precaver situações em que a conectividade é interrompida e é preciso assegurar que o veículo seja imobilizado em segurança.
Colocar os camiões autónomos em marcha é seguramente mais fácil em áreas rurais, onde o tráfego é menos intenso e a circulação de peões é baixa. Mas é justamente aí que a cobertura da rede 5G se mostra geralmente mais deficiente. Daí os especialistas advertirem que este será mais um motivo para colmatar rapidamente essas lacunas e permitir que os recentes avanços tecnológicos possam finalmente contribuir para uma condução autónoma eficiente e segura.
É preciso relembrar que a evolução do transporte rodoviário não é um processo recente. A tecnologia conectada tem sido uma presença constante há muitas décadas – desde os primeiros sistemas de gestão de frotas, nos anos de 1980, até ao GPS, que trouxe na viragem do milénio um salto disruptivo no planeamento de rotas e localização dos veículos.
Hoje, no entanto, interligar todas as peças da cadeia de valor do transporte e obter o necessário fluxo de dados em tempo real entre todos os intervenientes do processo revela-se crucial para ultrapassar os obstáculos mais emergentes e que vão das mudanças climáticas aos constrangimentos operacionais e comerciais. Retirar o máximo partido da eficiência e da segurança envolve, como tal, levar a conectividade para dentro e fora da cabine do motorista.
A Internet das Coisas já permite fornecer informações vitais sobre a frota conectada à nuvem. E, à medida que os camiões se tornam mais conectados – com novos tipos de sensores e processamento de nuvem –, surgem tecnologias inovadoras como supervisão e operações remotas que preparam o caminho para a condução autónoma.
Impulsionado pela maior procura de eficiência, prevê-se que o mercado global de camiões conectados cresça mais de 16% ao ano até 2028, levando a que cerca de 80% dos veículos comerciais estejam conectados até 2030, segundo o relatório do operador de transportes MAN Truck & Bus. O mesmo estudo, aliás, antevê que a eletrificação chegue, no final desta década, a 50% do transporte de mercadorias, trazendo novas arquiteturas digitais que irão permitir softwares e serviços cada vez mais avançados.
O ecossistema da condução autónoma encontra-se em desenvolvimento, prometendo simplificar a logística e a gestão de frotas de camiões. Os motoristas vão poder trabalhar em centrais de comando ou até mesmo a partir de casa, reduzindo custos e otimizando as operações. A condução remota permite ao motorista controlar à distância o veículo através de redes 5G, com todas as funções do camião, incluindo condução, travagem e aceleração, a serem executadas por um condutor sentado num gabinete e de frente para múltiplos monitores.
São já várias as empresas a testar a condução autónoma, como é o caso da startup Halo, que lançou um serviço de veículos operados à distância em Las Vegas em 2021. Os clientes podem usar uma app para chamar um carro que é operado à distância por uma equipa da empresa localizada num centro operacional, conectado à rede 5G. Já este ano, a Vay, tecnológica sediada em Berlim, obteve autorização para conduzir remotamente a sua frota de carros na cidade de Hamburgo.
A empresa, recorrendo igualmente à conectividade de última geração, controla à distância todas as funções do veículo através de um sistema de câmaras e sensores que reproduz a evolução do tráfego em tempo real nos monitores da sala de operações. No final do ano passado, foi a vez da sueca Einride conduzir pela primeira vez nos Estados Unidos um camião autónomo e 100% elétrico numa via pública de Selmer, no Tennessee.
A conectividade ininterrupta, bem como a capacidade de o veículo transmitir imagens em tempo real para um centro de operações assumem-se como fundamentais em todos estes casos de uso. Os camiões conectados já estão a gerar enormes quantidades de dados, mas o seu volume será ainda maior à medida que se caminha para o transporte totalmente autónomo.
Imagens de câmaras, sensores que recolhem dados para diagnósticos do trânsito, rastreio de mercadorias, travagens inteligentes ou monitorização de emissões de CO2, toda essa informação necessita da conectividade 5G para construir um ecossistema de transporte totalmente conectado.
___________________
▫▪▫ Leia também o artigo “Projeto Route 25. O 5G no centro da inovação da condução autónoma em Portugal”.
Crédito da imagem de abertura: Einride – Intelligent Movement