O estudo, apresentando por investigadores chineses, mostra que a Cibersegurança pode alcançar um patamar mais elevado nas comunicações suportadas em redes móveis de última geração.
Um novo recorde de comunicações encriptadas foi anunciado este mês, com os investigadores da Universidade de Tsinghua e da Academia de Ciências da Informação Quântica de Pequim, na China, a conseguirem quebrar a barreira dos 100 km em comunicação direta segura quântica (QSDC, sigla em inglês) em fibra ótica. O avanço representa um progresso significativo, considerando que a maior distância até à data alcançada não ia além dos 18,5 km.
O salto que agora se deu representa, segundo os especialistas, um marco na história da cibersegurança, que poderá beneficiar em muito as comunicações seguras não apenas nas redes 5G, como igualmente na geração móvel seguinte, a 6G. A descoberta poderá servir de base ao desenvolvimento de comunicações mais protegidas contra os ataques cibernéticos em redes de última geração.
A grande vantagem deste novo sistema é que pode ser combinado com os métodos tradicionais de encriptação para criar uma rede segura, explicou Gui-Lu Long, o autor principal do estudo, ao South China Morning Post.
Para se conseguir ter uma ideia do seu alcance, Gui-Lu Long dá o exemplo de uma password de uma conta bancária que, através deste novo método, poderia ser enviada entre duas máquinas a uma distância de 90 km através de três canais quânticos, cada qual com 30 km, unidos por dois pontos de transmissão protegidos por encriptação. Qualquer tentativa de intercetar os dados, durante a transmissão quântica, seria imediatamente detetada. Neste cenário em particular – explicam os autores do estudo –, a informação continuaria protegida graças à encriptação convencional nos pontos de transmissão.
Significa isto que a utilização de QSDC entre cidades, através de fibra ótica, é algo “perfeitamente alcançável” com a tecnologia atual, além de apresentar um “enorme potencial” no desenvolvimento de comunicações seguras em redes 6G, conclui o estudo publicado na revista Light Science and Applications.
A QSDC é um ramo da criptografia quântica em que se estuda a capacidade de se enviar mensagens com alto nível de segurança. Mas, devido às suas elevadas taxas de erros e incapacidade de percorrer longas distâncias, não tem sido possível aplicá-la no terreno. O modelo apresentado pelos investigadores chineses mostra agora que a taxa de erro em 102,2 km foi inferior a 0,1%, ou seja, aproximadamente dez vezes mais reduzido do que as versões anteriores do QSDC.
Outra limitação que a QSDC também apresentava era uma perda rápida do sinal, impedindo por isso a sua transmissão em longas distâncias. Mas o estudo da Universidade de Tsinghua e da Academia de Ciências da Informação Quântica de Pequim demonstrou 0,54 bps em 100 km de fibra ótica.
“QSDC é diferente da distribuição de chaves quânticas (QKD), processo através do qual é negociada uma chave segura, usando a tecnologia quântica”, lê-se no artigo. Mas ao se poder dispensar as chaves privadas, a transmissão ganha uma segurança ainda maior e torna-se muito mais rápida, conclui o estudo.
Para se entender a importância que esta diferença faz na segurança das comunicações, será preciso explicar que, atualmente, os dados confidenciais são, por regra, criptografados e enviados por cabos de fibra ótica ou outros canais juntamente com as chaves digitais necessárias para decodificar as informações. Tanto os dados como essas chaves são enviados como bits clássicos – um fluxo de pulsos elétricos ou óticos representando uns (1) e zeros (0). E é isso que os torna vulneráveis, com os hackers a conseguirem ler e copiar bits em trânsito sem deixar rasto.
“Se substituirmos partes da Internet, onde hoje ocorrem mais ataques, por canais quânticos, essas mesmas partes terão uma maior capacidade de detetar e evitar atos de espionagem, tornando a comunicação ainda mais segura” remata Gui-Lu Long, citado pelo South China Morning Post.
Poderá consultar a versão integral do estudo “Realization of quantum secure direct communication over 100 km fiber with time-bin and phase quantum states” no site da revista Light Science and Applications.