Com 55 mil m2, a infraestrutura da Alcatel Submarine Networks (ASN) cobre 11 edifícios, docas de carga, um convés e um túnel subterrâneo. Várias aplicações 5G já estão operacionais como a manutenção assistida remotamente, a digitalização dos processos de fabrico ou o sistema de monitorização dos consumos energéticos. O controlo dos stocks em tempo real através de sensores laser é considerado um dos recursos vitais para aumentar a produção e corresponder à crescente procura por parte das grandes tecnológicas como a Google, a Meta ou a Apple.
Há menos de cinco meses, a Fraport anunciou ter a maior rede 5G privada no continente europeu para gerir as suas operações no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha. O recorde, todavia, não se manteve por muito tempo. Ao revelar agora que instalou, em dezembro de 2022, a “maior rede industrial privada 5G na Europa”, a Alcatel Submarine Networks (ASN), fabricante francesa de cabos e equipamentos submarinos é a mais recente detentora desta marca. Cobrindo uma área de 55 mil m2, a infraestrutura, instalada no complexo de Calais, ultrapassa largamente os 20 mil m2 atingidos nas instalações aeroportuárias da cidade alemã. A conquista, no entanto, nem é o mais relevante. O que importa é o que este novo investimento irá permitir.
Da assistência e reparação de avarias realizadas à distância através de Realidade Aumentada, à monitorização em tempo real do stock de materiais, passando pela eficiência dos recursos energéticos ou pela previsão rigorosa dos ritmos de produção, são inúmeras as possibilidades que as comunicações de quinta geração irão abrir para as operações da ASN, considerada uma das maiores fabricantes de cabos submarinos de fibra ótica do mundo.
O projeto foi apresentado como um “elemento-chave” e um “passo decisivo” na ambição da empresa em implementar o seu programa “Industry 4.0”, que visa modernizar os processos industriais, otimizar o desempenho operacional e melhorar as condições de trabalho dos funcionários. Combinando ambientes virtuais e físicos, a rede 5G privada da ASN irá interligar as várias dimensões das operações, desde compras, aprovisionamento, logística, produção, manutenção ou supervisão.
Com base numa rede segura, de alta velocidade e fiável, espera-se que a conectividade 5G melhore significativamente os processos suportados na recolha e processamento automático de dados da fábrica e acelere a integração da Internet Industrial das Coisas (IIoT) na produção da unidade fabril. Os algoritmos de Machine Learning e sensores laser estão igualmente entre as principais tecnologias, uma vez que irão permitir prever a produção e facilitar uma gestão eficiente do armazenamento dos cabos fabricados, uma questão considerada crítica para a fábrica.
Embora a intervenção humana continue a ser indispensável para o aprovisionamento dos cabos, os sensores laser, ligados à rede 5G, irão medir com precisão o enchimento dos 130 tanques, oferecendo uma avaliação rigorosa dos recursos, stocks e evolução de todo o processo com o intuito de aumentar a produção e satisfazer a procura cada vez maior, principalmente da parte dos GAFA – Google, Apple, Facebook (Meta) e Amazon.
O projeto “Industry 4.0”, no seu conjunto, tem como finalidade melhorar significativamente as áreas estratégicas como a produtividade, a qualidade, a monitorização ou a segurança de todas as operações nas instalações de Calais. E a rede 5G privada mostra-se como a única a tornar viável uma arquitetura de software integrada que articula três plataformas em simultâneo – a conceção e industrialização, a produção e custos e, por fim o planeamento – resultando na interligação de todas as atividades da Alcatel Submarine Networks, em Calais.
A isto junta-se o hardware, com um conjunto de objetos e dispositivos ligados, tais como óculos, veículos, robôs e sensores, que possibilitam a recolha de dados em tempo real nas oficinas de produção. Várias aplicações 5G já estão operacionais no local, segundo o comunicado da ASN, incluindo a digitalização dos processos de fabrico, medição em tempo real do enchimento dos tanques de armazenamento de cabos de fibra e ainda a manutenção e reparação assistidas remotamente.
Tudo isso tornou-se agora possível com a instalação de uma rede privada 5G que levou dois anos a desenvolver e integrar para dar cobertura a 11 edifícios, docas de carga, um convés e ainda um túnel subterrâneo através do qual os cabos são encaminhados da fábrica e tanques de armazenamento até às embarcações. Recorrendo a quase seis dezenas de antenas small cells (pontos de emissão interiores e exteriores), todos os funcionários da ASN estão conectados em qualquer área do complexo industrial de Calais.
O projeto, parcialmente financiado pelo governo francês como parte do plano de Relançamento e do Programa de Investimentos Futuros (Plan de Relance et Programme d’Investissements d’Avenir), envolveu ainda parcerias com diferentes operadores, como a Nokia, as empresas de telecomunicações Iliad e Free Port e as tecnológicas Sopra Steria e BSCA. A ASN reivindica a entrega de mais de 700 mil quilómetros de sistemas submarinos óticos em todo o mundo, o que, segundo a empresa, será suficiente para circum-navegar a Terra 17 vezes.
Para culminar o projeto, só falta mesmo acrescentar que a Alcatel Submarine Networks também está a instalar mais uma rede privada 5G na sua fábrica de Greenwich, no sudeste de Londres, uma das mais antigas do mundo que tem vindo a produzir ininterruptamente cabos e equipamentos submarinos desde 1850. Projetos para o futuro estão ainda em aberto, mas a ASN assegura equacionar seriamente a possibilidade de ligar as redes móveis de Calais e de Greenwich.
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Crédito da foto de abertura: Alcatel Submarine Networks (ASN)