O estudo “A viabilidade do Serviço de Telecirurgia na Região Autónoma dos Açores Suportado na Rede 5G” demonstra como a cirurgia remota pode ser a resposta para uma região onde só há hospitais em três ilhas e carência de especialidades. A solução, embora implique investimentos significativos, poderá evitar os custos com mais de duas mil deslocações anuais de pacientes para o continente ou outras ilhas.
Se a região dos Açores aproveitar a conectividade 5G para investir em tecnologias de telecirurgia, mais de 1500 deslocações anuais de doentes podem vir a ser evitadas para o continente. A cirurgia remota, introduzida nos cuidados de saúde da região, poderia ainda poupar nas viagens que cerca de 550 pacientes fazem todos os anos entre ilhas com e sem hospitais. A conclusão surge no estudo “A viabilidade do Serviço de Telecirurgia na Região Autónoma dos Açores Suportado na Rede 5G”.
O trabalho do investigador da Universidade Aberta, Gualter Sousa, analisa as condições económicas, sociais e técnicas na região dos Açores, com vista a avaliar o impacto dos serviços proporcionados pela cirurgia remota nos custos com os cuidados de saúde e na comodidade para os seus habitantes. Desde logo, conclui-se que a telecirurgia será uma opção estratégica para combater os efeitos do isolamento e da escassez de recursos, necessitando, por isso, de subsídios públicos para se tornar uma realidade.
A telecirurgia faz sentido sobretudo para suprir a carência de serviços médicos especializados em áreas geográficas afastadas dos grandes centros urbanos. Os Açores, sendo uma das nove regiões ultraperiféricas da União Europeia reunirá, segundo o autor, os principais requisitos para apostar nas tecnologias que a médio e longo prazo diminuem os encargos públicos com os cuidados de saúde.
Apenas três ilhas têm hospitais – São Miguel, Terceira e Faial. Embora a densidade populacional seja baixa, as deslocações anuais de pacientes entre ilhas ultrapassam o meio milhar de habitantes, o que equivale à população a residir atualmente no Corvo, adverte o especialista em engenharia informática e tecnologia web. A maioria dos utentes deslocados, no entanto, não encontra cuidados especializados na região, tendo por isso de viajar até ao continente – representam ao todo, uma média de 1500 por ano, segundo os números do Serviço de Apoio ao Doente Deslocado (SADD) citados no estudo.
A cobertura das redes 5G, no entanto, tem vindo a ser assegurada pelos operadores, uma condição basilar para uma implementação bem-sucedida da telecirugia. O especialista relembra que a cobertura 5G é um objetivo a atingir mesmo em áreas de baixa densidade populacional, com a obrigatoriedade de chegar aos 75% até ao final de 2023 e aos 90% da população, em 2025, em todas as freguesias das regiões autónomas dos Açores e da Madeira.
Esta abrangência irá criar as condições necessárias para que as cirurgias remotas possam ser no curto prazo uma realidade nos Açores. Mas, apesar das suas potencialidades já demonstradas, a telecirurgia não foi ainda testada na região autónoma, “existindo pouca informação sobre a sua intenção quer por entidades governamentais quer por operadores de telecomunicações”, lê-se no estudo.
A tecnologia 5G -defende o especialista – permitirá a assistência remota com procedimentos cirúrgicos em tempo real. A grande vantagem assenta sobretudo na sua capacidade para reduzir o atual período de latência de 0,80 segundos para 0,01 segundos, uma diferença crucial em qualquer procedimento médico. As comunicações móveis de quinta geração também trazem consigo uma maior qualidade e definição de imagem, fator considerado essencial para os profissionais de saúde tomarem decisões com o máximo de informação possível.
Na Região Autónoma dos Açores, existem somente quatro hospitais para nove ilhas, três dos quais públicos e dois localizados na mesma ilha. Será necessário, como tal, investir nas seis ilhas sem hospitais, dotando os centros de saúde com equipamentos e robótica de telecirurgia. Faltando especialidades em ilhas com hospitais e que só existem no continente, a evolução tecnológica na medicina poderá proporcionar às populações, sobretudo às mais isoladas, um maior acesso aos cuidados de saúde especializados.
Por ser um recurso transfronteiriço e permitir ultrapassar as barreiras geográficas, a cirurgia remota, sustentada nas redes 5G, será central para colmatar as dificuldades sentidas numa região com a população dispersa e isolada. “A viabilidade deste recurso é notória não só nas ilhas sem hospitais, como nas restantes ilhas onde faltam especialidades”, remata o autor.
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▫▪▫ Leia também o artigo “Hospital do Funchal usa solução 5G para interagir em tempo real com especialistas de qualquer parte do país”, publicado no Portal 5G.
▪▫▪ Crédito da imagem de abertura: Maria e Fernando Cabral/Pixabay (vista panorâmica da ilha do Pico, Região Autónoma dos Açores).