Construir comunidades inteligentes 5G, reforçar as infraestruturas de quinta geração e abrir caminho à mobilidade conectada e automatizada através de corredores transfronteiriços 5G são os eixos do Connecting Europe Facility (CEF Digital). O programa europeu ambiciona colocar a UE na vanguarda das tecnologias, motivo forte o suficiente para Bruxelas apelar ao esforço de entidades públicas e privadas para levarem a cabo um dos maiores desafios da próxima década.
Desde o início do ano que o programa Connecting Europe Facility (CEF Digital) está no terreno, com convocatórias dirigidas a entidades públicas e privadas, visando implementar ou reforçar as redes e as infraestruturas 5G em todos os países da UE. Até 2027, a Comissão Europeia promete investir dois mil milhões de euros para tornar o bloco comunitário na região mais avançada do mundo em tecnologias de 5ª geração.
Estamos perante uma iniciativa decisiva para o futuro da Europa, que ambiciona a transformação digital, com conectividade gigabit e todas as áreas povoadas cobertas por 5G até 2030. Será, por isso, imprescindível que indústrias, municípios, operadores de redes móveis e todos os cidadãos europeus conheçam o que é o CEF Digital e como irá impulsionar o investimento em banda larga. Esse foi o ponto de partida para os principais responsáveis europeus pela aplicação do programa apelarem ao esforço de todas as entidades públicas e privadas para, juntos, levarem a cabo um dos maiores desafios desta e da próxima década.
Em entrevista concedida ao canal de Youtube do European Broadband Competence Offices (BCO Networks), Roberto Viola, Rita Wezenbeek e Pearse O’Donohue destacaram as grandes áreas onde o Connecting Europe Facility pretende promover o investimento para abrir caminho à inovação e às novas tecnologias: as comunidades inteligentes, a conectividade de backbone para gateways globais e, por fim, os corredores transfronteiriços 5G.
E o que significam estes três domínios tão valorizados pela Comissão Europeia? Rita Wezenbeek, Diretora de Conectividade da Direção-Geral de Redes de Comunicações, Conteúdos e Tecnologias (DG CNET), destaca, desde logo, as comunidades inteligentes, que tanto podem ser os hospitais, as universidades, os transportes ou a administração pública.
São, no fundo, sectores onde a conectividade 5G tem potencial para modernizar os serviços digitais com velocidades de transferência de dados mais rápidas, baixa latência, cobertura mais ampla e maior confiabilidade de rede.
Neste capítulo, a Comissão lançou, em janeiro deste ano, uma convocatória para selecionar os projetos e aplicações de 5G nas áreas da Saúde, da Educação, Mobilidade, entre outros, que possam servir de referência a todos os Estados-Membros. Nada disso, contudo, será possível sem uma conectividade de backbone de alta qualidade, que aumentará o desempenho e a resiliência das redes de comunicações eletrónicas.
Hoje, a maior parte do tráfego de Internet passa por cabos submarinos a ligar a Europa Continental às suas ilhas e regiões mais remotas. São estes mesmos cabos que ajudam a fornecer ligações, ao transportar enormes quantidades de informações para grandes distâncias e áreas geográficas extensas.
“As redes de 5ª geração irão trazer inúmeros benefícios em áreas como, por exemplo, os cuidados de Saúde – com o atendimento online dos pacientes ou partilha de dados -, ou a Educação, que conhecerá, através de tecnologias de realidade aumentada e virtual, formas inovadoras de ensino e aprendizagem”
Rita Wezenbeek
O CEF Digital pretende contribuir para a estratégia Global Gateway, apoiando a implementação da conectividade e redes 5G de backbone em toda a UE. O objetivo principal passa sobretudo por alcançar os países mais periféricos e as regiões onde os padrões de conectividade são, por regra, baixos. Com um orçamento médio de 130 milhões de euros para o período de 2021-2023, o programa, além de servir para reforçar a capacidade de conectividade, visa também, a longo prazo, equilibrar os preços dos serviços de comunicações tanto para os consumidores como para os operadores de redes móveis. “Essas ambições só se vão tornar reais se existir um financiamento nas infraestruturas essenciais, como cabos submarinos e, quando necessário, melhorias na conectividade com estações terrestres de satélite”, explicou, por seu turno, Pearse O’Donohue, diretor da DG CNECT da Future Networks.
Daí o motivo para o programa Connecting Europe Facility ter sido igualmente desenhado para ajudar a desenvolver novas e seguras infraestruturas de backbone ou melhorar as que já existem. Com o desenvolvimento de tecnologias como a Inteligência Artificial ou a computação de alto-desempenho, a procura por serviços de nuvem tenderá a aumentar, mas a Comissão quer evitar que estes recursos fiquem apenas na alçada de players globais. “A concentração não favorece nem a economia nem a inovação”, adverte o responsável, esclarecendo que o CEF Digital é o programa comunitário que possibilitará à UE avançar como um bloco até à “vanguarda das tecnologias”.
Não menos importante são os corredores transfronteiriços 5G, considerado mais um pilar deste programa. A este respeito, recordem-se os dois corredores que passam por Portugal, aquele que liga o Porto a Vigo e o corredor que liga Évora a Mérida. Espera-se que a implementação dos corredores ao longo das vias de transporte em toda a Europa contribua para a transformação verde e digital da economia e da sociedade.
“O investimento, nesta área, irá melhorar a coordenação do trânsito, mas principalmente abrir caminho à mobilidade conectada e automatizada, aspeto fundamental para a sustentabilidade ambiental e para a qualidade dos serviços de transporte”
Pearse O’Donohue
A Comissão reconhece o papel central desempenhado pelos corredores transfronteiriços 5G na Estratégia da Década Digital da Europa, mas também na Estratégia de Mobilidade Sustentável e Inteligente, onde constituem uma das principais áreas de investimento do Mecanismo de Recuperação e Resiliência.
Durante o período 2022-2027 o programa Digital Connecting Europe Facility fornecerá um apoio financeiro à implantação de corredores transfronteiriços 5G, com um orçamento previsto de cerca de mil milhões de euros. Os corredores que resultam de projetos apoiados pelo CEF Digital ou do financiamento do Horizonte 2020 estão identificados neste mapa da Comissão Europeia.
Embora a Comissão tenha atribuído dois mil milhões de euros para executar, entre 2021 e 2027, os três eixos dos CEF Digital, Roberto Viola, Diretor-Geral de Redes de Comunicações, Conteúdo e Tecnologia (DG CNECT), relembra que a transformação digital da Europa irá precisar de “muito investimento privado” e ainda de “muito apoio” do sector público.
Acima de tudo – adverte o responsável – será determinante que todos os Estados-Membros colaborem entre si. Esse é, aliás, o “espírito” do programa CEF Digital. “Seremos bem-sucedidos ao conseguirmos assegurar que ninguém é excluído e que diferentes países, diferentes equipas e diferentes projetos trabalham para um único objetivo: ficarmos todos mais perto uns dos outros”, remata Roberto Viola.
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