Até dezembro de 2025, as redes móveis de última geração vão ser implementadas na ferrovia espanhola de alta-velocidade, trazendo novos recursos como gestão inteligente de tráfego de mercadorias, serviços logísticos avançados, manutenção preditiva de sistemas e equipamentos, além de serviços de voz e dados e novas formas de entretenimento para os passageiros.
Otimizar o espaço livre das instalações, agilizar operações como localização e comunicação com as equipas técnicas, promover uma gestão inteligente do tráfego de mercadorias ou inaugurar formas de condução automática são alguns dos inovadores recursos que a ADIF, operadora ferroviária espanhola, espera alcançar com a instalação das redes 5G nos seus comboios de alta-velocidade. Não se trata unicamente de assegurar a qualidade dos serviços de dados e de voz para os passageiros, mas todo um conjunto de novas possibilidades que se poderão abrir para a transição ecológica dos transportes ferroviários.
A operação para levar a conectividade 5G aos comboios de alta-velocidade já está em marcha e conta com um investimento total de 117,3 milhões de euros para promover a digitalização do sistema ferroviário em cinco rotas. Plasencia-Cáceres-Badajoz e Antequera-Granada (34,7 milhões de euros), Olmedo-Ourense (51,7 milhões), Albacete-Alicante e Barcelona-Figueras (30,9 milhões) são os percursos que, até final de dezembro de 2025, vão contar com uma gama alargada de serviços e tecnologias 5G.
A empreitada permitirá, desde logo, introduzir a Internet das Coisas nos processos de monitorização das instalações e operações críticas. Não menos relevante são as bases que a empresa pública espanhola espera lançar para implementar a infraestrutura necessária ao futuro sistema de radiocomunicações ferroviário suportado nas redes móveis de última geração.
A grande expectativa, no entanto, são as novas valências que o 5G irá trazer para a gestão inteligente do tráfego de mercadorias. Para concretizar esse objetivo, a rede móvel está a ser implementada em dez terminais logísticos da operadora, de forma a promover a sua digitalização e, com ela, a automatização de processos e a redução de custos do transporte ferroviário de mercadorias.
Nestas instalações, a infraestrutura 5G permitirá prestar serviços logísticos avançados, facilitando a coordenação do tráfego de mercadorias, encurtando os tempos de espera e promovendo a intermodalidade. Da mesma forma, viabilizará a interligação dos principais nós de transporte do sistema ferroviário de uma forma mais eficiente. As vantagens, segundo o comunicado da ADIF, passam essencialmente por aumentar a eficiência na utilização das instalações e alcançar uma melhor otimização do espaço de armazenamento.
A implantação do 5G na rede ferroviária espanhola de alta velocidade representa, segundo a operadora, um “avanço significativo” para a conectividade no sector dos transportes, abrindo as portas a inúmeras aplicações e melhorias na eficiência e segurança do serviço ferroviário. Casos de uso que permitem a gestão do tráfego em tempo real, através da localização precisa dos comboios e da comunicação constante e de baixíssima latência entre a via e o comboio é apenas um dos exemplos apontados.
O 5G facilitará ainda a ligação entre o comboio e o centro de comando, seja como rede de comunicação principal ou de backup. A manutenção das infraestruturas, com recurso a análises preditivas de dados é mais uma vantagem possibilitada pelas redes móveis que permitirão detetar falhas antes que elas possam ocorrer.
A digitalização das operações é ainda encarada pela empresa pública espanhola como uma oportunidade para desenvolver dispositivos de Realidade Aumentada que podem ser introduzidos na reparação à distância de máquinas e sistemas ferroviários. Além da melhoria da capacidade e gestão de stocks, a operadora ferroviária destaca ainda novas formas de condução automática aplicadas aos comboios autónomos ou aplicações para passageiros que poderão passar pela gestão inteligente de estacionamento, novas ofertas de entretenimento ou informação baseada na localização.
A instalação das redes móveis 5G nos comboios de alta-velocidade faz parte de um vasto programa incluído na Agenda Espanha Digital 2025. A empresa pública ADIF recebeu inclusive financiamento da União Europeia, através do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, para estabelecer um sistema ferroviário inteligente capaz de operar num cenário tecnológico competitivo e sustentável.
Em Portugal, a implementação das redes móveis de última geração na ferrovia está também entre as principais obrigações de cobertura previstas no Regulamento do Leilão 5G. Os titulares de direitos de utilização de frequências na faixa dos 700 MHz designadas para serviços de comunicações eletrónicas terrestres têm até ao final de 2024 para assegurar que 95% de cada um dos itinerários ferroviários incluídos no Corredor Atlântico, na parte relativa ao território nacional, estejam conectados ao 5G.
Será também nesse ano que as comunicações sem fio de última geração deverão ser implementadas nas ligações Braga-Lisboa e Lisboa-Faro, bem como em todas as ligações urbanas e suburbanas de Lisboa e Porto. A cobertura deverá, por fim, atingir a fasquia dos 85% de cada um dos restantes itinerários ferroviários.
Para os operadores que detenham espectro na faixa dos 700 MHz, mas sem direitos de utilização de frequências em faixas designadas para serviços de comunicações eletrónicas terrestres, os prazos são mais alargados e o alcance mais reduzido. Até ao final de 2025, a cobertura 5G, nesses casos, deverá alcançar 25% em cada um dos itinerários ferroviários incluídos no Corredor Atlântico, na parte relativa ao território nacional. Essa é igualmente a meta a atingir nas ligações Braga-Lisboa, Lisboa-Faro e todas as ligações urbanas e suburbanas de Lisboa e Porto.
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