Reduzir custos e impactos ambientais, promover operações eficientes, aumentar a segurança ou melhorar a experiência dos passageiros são os grandes desafios da aviação. Os especialistas acreditam que o 5G desempenha um papel central na sustentabilidade do sector. Abrindo a porta a tecnologias como Inteligência Artificial, Machine Learning, Digital Twins ou Realidade Aumentada, as redes privadas de última geração permitem assegurar a sobrevivência dos aeroportos europeus não só no momento atual, mas sobretudo nas próximas décadas, quando se prevê um crescimento significativo de viajantes.
A sobrevivência de uma companhia aérea ou de um aeroporto está num limbo permanente. Atrasos, operações ineficientes, altos consumos de combustível, grandes quantidades de emissões de CO2, entre muitos outros fatores, afetam os seus recursos, desempenhos e resultados. O relatório Connected Aviation, da Ericsson, identifica aliás vários desafios para o sector da aviação, começando, desde logo, pelo equilíbrio financeiro, mas também pela alta procura de mão de obra especializada, satisfação dos passageiros, segurança e, não menos importante, sustentabilidade ambiental.
Um aeroporto exige cada vez mais operações digitalizadas capazes de funcionar como uma plataforma interconectada. O mesmo relatório da Ericsson estima, por exemplo, que cada voo descarrega entre 500 GB e 1 TB de dados relacionados com sensores, navegação aérea ou entretenimento. Trata-se de um processo considerado crítico para fornecer informações confiáveis que permitam afinar sistemas e mecanismos preditivos das aeronaves.
Mas convém lembrar que se está diante de um dos sectores mais complexos da economia. Um aeroporto é como uma grande cidade composta por inúmeras partes, cada qual responsável por executar vários processos relacionados direta ou indiretamente com o transporte de passageiros e de cargas.
Autoridades aeroportuárias, companhias aéreas, tripulação, comerciantes, fornecedores, manutenção, seguranças, polícias, exército, serviços secretos, assistentes em terra, entre tantos outros, têm de conseguir comunicar e operar em sintonia para garantir a segurança de milhões de passageiros.
Em Paris, por exemplo, o Charles de Gaulle, o segundo maior aeroporto da Europa, depois de Heathrow, em Londres, é um hub aeroportuário para mais de 100 companhias aéreas a transportar cerca de 200 mil passageiros por dia para 250 destinos em todo o mundo. Mais de 100 mil funcionários trabalham em mais de mil empresas, incluindo centro médico, lojas de câmbio, restauração, rent-a-car, estação de metro e até uma central para fornecer eletricidade ao aeroporto.
Todas essas partes exigem acesso a enormes quantidades de largura de banda para digitalizar as suas operações. Antes da decolagem, cada avião, por exemplo, tem um técnico responsável por fazer cerca de 120 verificações relacionadas com duas dezenas de funções diferentes da aeronave. Até finais de 2021, todos esses procedimentos eram feitos com caneta e papel.
Mas agora, segundo o relatório da Ericsson, os processos realizados no Charles de Gaulle são digitalizados através de uma rede privada 5G que fornece conectividade segura sem interferir nas comunicações usadas pelos aviões e torres de controle. Os técnicos utilizam um PDA (sigla em inglês para assistente digital pessoal) para validar as verificações. O processo é totalmente digitalizado e a sua entrega ao comandante é completamente automatizada, reduzindo a margem de erro, melhorando o processo de monitorização e diminuindo o tempo de resposta.
Trata-se apenas de um entre muitos casos de uso que já entraram ou ainda vão entrar nas rotinas dos aeroportos para acompanhar o desenvolvimento desta atividade. Olhando para os números mais atuais, facilmente percebe-se que o sector está em expansão acelerada. Em 2022, mais de sete mil milhões de passageiros viajaram de avião, segundo as estatísticas da Airports Council International. No futuro, prevê-se uma subida anual de 3,7% até 2040. A evolução, nesta área em particular, exigirá como tal sistemas cada vez mais complexos e confiáveis.
Acompanhar a alta procura de dados sem comprometer a segurança é um requisito obrigatório, dizem os especialistas, acreditando que as redes privadas 5G são o caminho para otimizar as operações, assegurar amanutenção, a reparação e a revisão geral das aeronaves, melhorar a experiência dos viajantes, aumentar a segurança e ainda reduzir a pegada ambiental.
A conectividade móvel de última geração é a porta de entrada para novas tecnologias como Inteligência Artificial, Machine Learning, Digital Twins ou Realidade Aumentada, fortalecendo a colaboração entre todo o ecossistema da aviação e contribuindo para operações automatizadas tanto em terra como no ar.
No aeródromo de San Sebastián, no País Basco, as comunicações de última geração vão servir para desenvolver várias aplicações, desde drones que irão assegurar uma monitorização avançada, até sensorização para recolha e tratamento de dados ambientais, como gases e partículas em suspensão, temperatura, humidade e ruído.
A instalação de uma rede privada em San Sebastián arrancou em finais de junho de 2023. É a primeira a acontecer num aeroporto espanhol e é também o caso mais recente na Europa. A rede móvel permitiu criar uma plataforma inteligente, batizada de SmartBrain, que irá centralizar todas as operações. Espera-se igualmente que o 5G facilite o avanço da Internet das Coisas (IoT), a implementação de Big Data, de Realidade Virtual e Aumentada e de Inteligência Artificial.
Frankfurt, na Alemanha, por outro lado, detém o recorde da maior rede privada 5G instalada num aeroporto europeu. A rede móvel cobre uma área de 20 km2, oferecendo um ambiente propício para controlar dados e comunicação de voz de forma autónoma.
A ambição no médio prazo passa por tirar partido da elevada largura de banda e da baixa latência do 5G para acelerar projetos inovadores, como a condução autónoma nas zonas de estacionamento ou a transmissão por vídeo dos dados de monitorização das instalações aeroportuárias recolhidos por robôs ou drones.
Charles de Gaulle, em Paris, Frankfurt, na Alemanha, ou San Sebastián, em Espanha, são os casos mais recentes. Mas é o aeroporto de Bruxelas, na Bélgica, que está entre os primeiros da Europa a ter a sua área coberta por uma rede privada 5G para apoiar inovações tecnológicas e automação.
A maior capacidade do 5G permitiu ao aeroporto instalar sistemas de segurança, rastreamento de bagagem, veículos autónomos ou ainda uma multiplicidade de dispositivos IoT, que permitem monitorização e vigilância em tempo real. O investimento teve em conta não só o contexto atual, como as perspetivas para as próximas décadas. Com mais de 25 milhões de passageiros por ano, espera-se que o aeroporto de Bruxelas atinja os 34 milhões, até 2031, e 40 milhões até 2040.
Alta conectividade e otimização de todas as operações aeroportuárias são, por isso, necessidades prementes de qualquer grande aeroporto para minimizar custos, reduzir atrasos e perdas de bagagem, aumentar a segurança ou melhorar as experiências dos passageiros. São os requisitos que o 5G veio trazer para a nova era de aeroportos inteligentes.
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