Dos 37 novos cursos que vão arrancar este ano letivo, 22 são tecnológicos. Ciências de Dados, Engenharia Aeroespacial, Gestão de Cidades Sustentáveis ou Operações com Aeronaves Não Tripuladas são alguns exemplos de licenciaturas que refletem as recentes necessidades do mercado de trabalho. Estudo revela que o 5G irá impulsionar cerca de 2,4 milhões de novos empregos na Europa até 2025.
O ano letivo 2022-2023 está à porta, com o habitual leque de estreias na oferta formativa do ensino superior. Neste regresso às aulas, porém, as tecnologias são uma das grandes apostas das universidades e politécnicos, com opções que vão da Ciência de Dados, à Engenharia Aeroespacial até às tecnologias digitais, passando por serviços tecnológicos para Cidades Inteligentes.
Dos 37 novos cursos superiores que vão arrancar na semana de 13 a 16 de setembro, 22 estão incluídos nas chamadas áreas STEAM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), espelhando a transformação tecnológica e digital no mercado de trabalho. Especialistas, empresas e indústrias reconhecem que são as redes 5G que estão a impulsionar os novos empregos na área das tecnologias, potenciando a criação de funções que ainda nem existem.
Só na Europa, segundo o estudo que a consultora BCG fez para a Associação Europeia de Operadores de Redes de Telecomunicações (ETNO), estão previstos 2,4 milhões de novos empregos até 2025. Em Portugal, o relatório – publicado em abril de 2021 e ainda antes da conclusão do leilão 5G – apontava para a criação de 127 mil novos empregos.
Estamos, sem dúvida, perante uma viragem de página, com as redes móveis de quinta geração a permitir viabilizar modelos de negócios inovadores e novos casos de uso em quase todos os sectores da economia, que procuram agora a sustentabilidade ambiental, a eficiência operacional, a privacidade ou a proteção de dados.
Novos cursos, competências e áreas tecnológicas estão, como tal, a assumir um maior protagonismo na formação que universidades e politécnicos oferecem aos estudantes do ensino superior. A Universidade do Minho, por exemplo, irá inaugurar, neste ano letivo, duas licenciaturas que já refletem as exigências decorrentes desta nova era 5G – Ciência de Dados e Engenharia Aeroespacial.
Integrando três áreas científicas: Matemática e Estatística, Ciências Empresariais e Computação, o curso de Ciência de Dados destina-se aos gestores do futuro. No tempo da “big data”, da Inteligência Artificial e da aprendizagem máquina, é decisiva a capacidade de usar técnicas estatísticas e computacionais para a construção de modelos de análise, previsão e decisão, em combinação com uma formação em gestão. As competências adquiridas nesta licenciatura poderão vir a ser particularmente úteis em organizações que trabalham com big data, tais como empresas de TI e de Comunicação, de Engenharias Biomédicas, Banca, Seguros, Retalho, Telecomunicações, farmacêuticas, utilities (eletricidade, água, gás, entre outros) ou administração pública.
Já o curso de Engenharia Aeroespacial propõe uma formação em ciências de base e ciências de engenharia, combinada com um espectro de ciências da especialidade. A robustez da oferta formativa assenta numa formação sólida e consistente ao nível das ciências da matemática, física, mecânica, materiais, eletrónica e informática, procurando capacitar os diplomados com uma maior flexibilidade de competências. Esta licenciatura tem como objetivo formar diplomados que contribuam para a consolidação do sector aerospacial nacional e europeu e abre ainda a porta a um mestrado, lecionado em inglês, que permitirá fazer o intercâmbio com instituições de todo o mundo.
Na Universidade de Coimbra, a aposta deste ano letivo vai para o curso de Gestão de Cidades Sustentáveis e Inteligentes, área que ganhou igualmente um novo fôlego com as redes de quinta geração. A licenciatura, criada de raiz, assume uma abordagem interdisciplinar, envolvendo sobretudo as tecnologias digitais e as engenharias, mas também a arquitetura e as Ciências Sociais.
O objetivo, segundo a instituição, passa por integrar aspetos tecnológicos com áreas de planeamento, Urbanismo, Transportes ou infraestruturas, procurando oferecer aos alunos uma visão holística da cidade e dos desafios ligados às alterações climáticas.
No final do curso, os estudantes deverão estar aptos a integrar ou a coordenar equipas na Administração e Serviços Públicos, em entidades gestoras de infraestruturas urbanas, em empresas de gestão de Mobilidade e Transportes, nos serviços de mapeamento e informações geográficas, em empresas de gestão ambiental ou em empresas prestadoras de serviços tecnológicos para áreas urbanas.
A partir do ano letivo 2022-23, a Universidade de Coimbra vai passar a lecionar também um novo mestrado em Cidades e Comunidades Sustentáveis, em conjunto com as universidades de Poitiers, em França, e Turku, na Finlândia. Criado no âmbito da Aliança EC2U – Campus Europeu de Cidades Universitárias, a especialização, de dois anos, lecionada em inglês, destina-se a alunos nacionais e internacionais, com formações de base nas esferas do Ambiente, Energia, planeamento urbano e recursos naturais.
O ISEC Lisboa, por seu turno, inaugura o curso técnico superior profissional em Operações com Aeronaves Não Tripuladas para estudantes que ambicionam uma carreira no novo mundo dos drones ou veículos aéreos não tripulados (VANT). O programa curricular, além da formação geral, inclui aulas básicas de aviação e pilotagem de VANT, de gestão, planeamento e supervisão de missões com recolha e tratamento de dados e imagem destinados a aplicações que podem substituir a intervenção humana.
Com uma duração de dois anos, a expectativa é que os alunos sejam capazes de recorrer às aeronaves para planear, programar e supervisionar inspeções técnicas em estruturas, operações de aquisição de dados ou de imagem, de mapeamento e cadastro, de verificação, recolha e processamento de dados.
O objetivo também passa por fornecer competências para planear, programar e supervisionar operações para recolher amostras sólidas, líquidas ou gasosas em ambiente industrial e em locais de difícil acesso e ainda em missões de transporte em lugares remotos utilizando aeronaves não tripuladas. Estes são alguns exemplos de funções cada vez mais solicitadas por entidades públicas e privadas, principalmente por gabinetes de engenharia, empresas de topografia, de audiovisuais, de transporte ou de segurança.
Seguindo a mesma linha das outras instituições de ensino, a Universidade do Algarve irá oferecer, este ano, uma licenciatura em Engenharia de Sistemas e Tecnologias Informáticas. O curso proporciona uma formação técnica de base em sistemas inteligentes, tecnologias, sistemas de informação e de comunicação, desenvolvimento de aplicações informáticas, bases de dados, algoritmos e estruturas de dados, entre outros.
Desenvolver e projetar software, programar aplicações informáticas, administrar sistemas de informação, instalar, configurar e manter redes informáticas são algumas das competências que o curso poderá vir a fornecer a futuros engenheiros que queiram desenvolver a sua atividade em empresas e organizações ligadas ao desenvolvimento de serviços, sistemas e produtos, em particular, as que operam na área das tecnologias da informação.
Os novos cursos superiores de base tecnológica são mais uma evidência de como o 5G desbloqueou inúmeras potencialidades, que vão da Inteligência Artificial, ao Edge Computing, passando pelo Machine Learning, Ciência de Dados, Algoritmos ou Internet das Coisas (IoT). Estas são áreas que, segundo os especialistas, irão fazer parte do dia a dia de profissionais como médicos, advogados, arquitetos, engenheiros, publicitários, desenvolvedores de hardware e software, entre muitos outros.
O impacto da revolução nas tecnologias de quinta geração faz-se sentir de forma transversal em múltiplos sectores, do automóvel, passando pela saúde, transportes ou serviços públicos. Com a implementação do 5G, a inovação chegou também a áreas como a agricultura de precisão, portos inteligentes, transportes e logística, veículos autónomos, smart buildings, entre tantos outros, abrindo mais perspetivas profissionais para as novas gerações de estudantes universitários.