Drones ou tratores equipados com sensores são algumas ferramentas da agricultura de precisão que, com o suporte da conectividade 5G, facilitam as tarefas de agricultores, gestores e outros profissionais do sector, permitindo-lhes tomar decisões baseadas em factos transmitidos em tempo real. Nas vinhas da Bairrada e em mais duas quintas da região Centro, as tecnologias de última geração mostraram ao resto do país como é possível tornar as práticas agrícolas sustentáveis, eficientes e rentáveis.
Drones equipados com câmaras de alta-definição sobrevoam a vinha da Quinta de Baixo, na região da Bairrada, recolhendo dados sobre o estado das plantações. Sistemas de Deep Learning (aprendizagem profunda, Inteligência Artificial) processam depois a informação em tempo real, fornecendo pistas importantes acerca das condições dos solos e das culturas – o seu estado de saúde, carência ou excesso de água ou ainda estimativas precisas sobre a produção da próxima vindima.
Com a informação disponível no tablet ou no smartphone, os vinicultores podem agir com precisão nos locais onde os problemas são detetados. É até possível intervir em fase precoces, evitando complicações mais graves no futuro. Para os especialistas, um dos grandes benefícios do uso destas tecnologias é a possibilidade aplicar os pesticidas e herbicidas apenas nas plantas doentes, em vez de pulverizar uma plantação inteira.
Este cenário é real e reflete o que acontece em várias vinhas do Centro do país. Ao longo do último ano, uma equipa multidisciplinar, liderada pelo Instituto de Sistemas e Robótica da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra, explorou abordagens inovadoras da agricultura de precisão na gestão das atividades agrícolas. A iniciativa foi financiada pelo MIT Portugal e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito do programa AI+ Green.
A deteção antecipada e precisa de doenças e pestes nas plantações vitivinícolas é, desde logo, uma das grandes vantagens a permitir minimizar as perdas económicas e reduzir o impacto ambiental. Os primeiros resultados deste projeto foram já publicados na revista científica Computers and Electronics in Agriculture.
A ciência e as tecnologias de última geração trouxeram um manancial de novos recursos, mas, sem o 5G, todas estas abordagens inovadoras não teriam grande alcance. O verdadeiro potencial da agricultura de precisão depende em grande parte da alta velocidade, da latência ultrabaixa e da Banda Larga das redes de quinta geração. Uma boa conectividade é a base de tudo.
Um bom exemplo é o reconhecimento que os drones, ligados às redes 5G, fazem das ervas daninhas, até hoje impossíveis de detetar automaticamente. A agricultura de precisão permite agora tratá-las isoladamente, com soluções não prejudiciais ao ambiente, reduzindo assim o uso de pesticidas e herbicidas até 90%.
Novas formas para limitar a utilização de produtos químicos em solos agrícolas ou urbanos é, aliás, o que a União Europeia já está a exigir aos países do espaço comunitário. A proposta da Comissão, anunciada em junho, estabelece a obrigatoriedade de cortar para metade o uso de pesticidas perigosos até 2030. Os documentos, incluídos na estratégia “Do campo ao garfo”, preveem a proibição total de pesticidas em zonas sensíveis, como jardins e espaços verdes, campos desportivos, áreas naturais protegidas, entre outros.
Os pesticidas químicos só vão poder ser usados como último recurso, cabendo aos agricultores encontrar métodos alternativos e registar detalhadamente as práticas usadas. A Comissão Europeia planeia também lançar um plano de ação para desenvolver tecnologias de agricultura de precisão, como pulverizadores com geolocalização, rede de sensores, entre outras ferramentas.
A agricultura é uma atividade muito complexa, condicionada por inúmeros fatores. Por um lado, as pragas, as secas, as chuvas fora de época, as tempestades de granizo, são fenómenos que precisam de voltar a estar sob controlo; por outro, é necessário encontrar soluções urgentes para alimentar uma população mundial que atingirá os 10 mil milhões de habitantes em menos de 30 anos. Não existe, por isso, alternativa senão tornar o sector mais eficiente e com o mínimo de recursos florestais explorados.
Perante os desafios climáticos, a agricultura de precisão está a provocar uma mudança de paradigma nas práticas agrícolas e pecuárias, prometendo maximizar os recursos, otimizar a produção, reduzir os custos e, não menos importante, preservar o Ambiente.
O 5G, neste contexto, veio facilitar o trabalho dos agricultores, dos gestores e das equipas operacionais. Impulsionada pela conectividade de alta velocidade das redes de quinta geração, a agricultura de precisão permite que os dispositivos IoT e máquinas robotizadas cumpram com eficiência uma série de tarefas em tempo real, 24 horas por dia.
A interoperabilidade dos dispositivos e equipamentos pode aumentar a produtividade, a segurança alimentar e a monitorização da agricultura, com pouca ou nenhuma interferência humana:
As possibilidades são vastas e não ficam por aqui, como revela o artigo “Making the 5G precision agriculture connection”, publicado no blogue da Ericsson. Os especialistas são unânimes quando defendem que a premissa para tornar a agropecuária sustentável e eficiente é disponibilizar redes 5G a todos os produtores. Ciente dessa dependência, a Comissão Europeia prometeu acelerar a Internet de Banda Larga com vista a atingir, até 2025, uma cobertura de 100% nas zonas rurais.