Acelerar a conectividade gigabit é determinante para levar a inovação até às empresas e aumentar as competências digitais da população, alerta o relatório sobre o estado da Década Digital. Ao ritmo atual, a UE corre “sérios riscos” de falhar as metas para 2030. Portugal destaca-se entre os Estados-Membros com uma rede 5G de alta velocidade e ainda com um progresso na digitalização da saúde acima da média europeia.
À semelhança dos alertas feitos no primeiro relatório, divulgado em outubro de 2023, o segundo balanço da Comissão Europeia sobre o estado da Década Digital continua a insistir nos “sérios riscos” de a União Europeia (UE) falhar as metas para 2030. A conectividade de alta capacidade, as competências digitais básicas da população e a adoção de tecnologias inovadoras por parte das indústrias são os principais desafios que o bloco comunitário ainda não ultrapassou.
Ao ritmo atual em que a UE caminha, os objetivos traçados para cada uma destas áreas poderão não ser alcançados até ao virar da década. É imprescindível, por isso, mais investimento, não só da parte da UE, como de cada um dos 27 Estados-Membros, sobretudo em domínios como competências digitais da população, conectividade de alta qualidade e adoção de tecnologias de ponta, como Inteligência Artificial (IA), Cloud e Internet das Coisas (IoT).
O esforço do bloco comunitário continua longe dos objetivos da Década Digital, alertam os autores do relatório, relembrando que as redes de fibra são críticas para vir a fornecer a conectividade gigabit de que as indústrias e a população europeia dependem para alcançar as competências digitais e a transformação tecnológica.
Os números atuais mostram que estas redes chegam apenas a 64% das famílias europeias. As redes 5G, por outro lado, cobrem apenas 50% do território da UE, o que é considerado insuficiente para fornecer serviços 5G avançados. As taxas de cobertura do 5G apresentadas no relatório, porém, são mais pessimistas do que as que foram recentemente reveladas no último balanço semestral do Observatório 5G Europeu, que dava conta de uma cobertura média do 5G na União Europeia de 89% em junho de 2024.
A inovação no tecido empresarial é, aliás, um dos pontos a suscitar maior apreensão dos analistas. A utilização de Inteligência Artificial, cloud e/ou megadados pela indústria europeia permanecia, em 2023, muito abaixo da meta de 75% definida no programa Década Digital. Tendo em conta as estatísticas atuais, a projeção é de que, em 2030, somente 64% das empresas do espaço comunitário vão poder tirar partido da computação em nuvem e apenas 50% irão beneficiar da análise preditiva de dados. A IA é a que apresenta a taxa de adoção mais reduzida, não indo além dos 17%.
As competências digitais é outro grande desafio que também não está a progredir a uma velocidade suficientemente acelerada para atingir as metas da Década Digital. Neste momento, apenas 56% da população europeia possui as competências básicas. A este compasso, o relatório antecipa que, em 2030, a Europa terá cerca de 12 milhões de especialistas em tecnologias da informação, quando o objetivo é chegar aos 20 milhões.
Melhores perspetivas apresenta a digitalização dos serviços públicos, em particular nas áreas da saúde, dos registos clínicos e da criação de sistemas seguros de identificação eletrónica. Ainda assim, os autores do relatório temem que a UE entre na próxima década com taxas inferiores a 100% em boa parte destas áreas.
Neste segundo relatório, a Comissão Europeia disponibiliza pela primeira vez uma análise detalhada dos progressos alcançados em cada Estado-Membro. Consultando os dados sobre Portugal, é possível concluir que o país está acima da média europeia, com 65,2% das casas portuguesas a terem acesso à rede 5G. Mais uma vez, as estimativas do relatório da Década Digital, são mais baixas das que surgem no balanço de junho do Observatório 5G Europeu (98%).
Portugal destaca-se ainda entre os países membros que implementou com sucesso a rede 5G, tanto ao nível da cobertura como da velocidade, que está entre 3,4 e os 3,8 GHz. A digitalização na saúde também deu um salto de 40%, desde 2023, e ultrapassou a média europeia, com 86% contra 79,1% do bloco comunitário.
Há, no entanto, fragilidades apontadas no caso de Portugal, com um crescimento modesto nos últimos anos nas competências digitais da população (56%). Ainda assim, o desempenho está ligeiramente acima da média europeia (55,6%), que também tem crescido lentamente. Mas quando o foco é a percentagem de pessoas especializadas em tecnologias da informação, os resultados nacionais (4,5%) estão ligeiramente abaixo do desempenho médio da UE (4,8%).
Ficando os resultados, no geral, aquém das expectativas, os autores do relatório recomendam aos Estados-Membros um maior investimento não apenas nas competências digitais da população, mas igualmente na promoção das novas tecnologias junto das pequenas e médias empresas, em especial na migração para a cloud e adoção de Inteligência Artificial. A transformação tecnológica das empresas implica ainda que sejam criadas condições para facilitar o investimento privado destinado às empresas nas suas fases inicial e de crescimento acelerado.
Os analistas concluem o relatório com uma última recomendação, e que passa por um maior esforço de cada país para expandir a tecnologia para lá das grandes cidades. Trata-se de um passo obrigatório na transformação digital da UE, e que nunca ficará completa sem ultrapassar a clivagem digital entre regiões mais e menos desenvolvidas. É fundamental, por isso, promover a “cooperação europeia” a nível transfronteiriço e local, através de “programas plurinacionais”, remata o relatório.
______________
Leia também o artigo “As primeiras 100 empresas a usar redes privadas 5G obtiveram retorno financeiro em 12 meses”