Se a Europa quiser atingir uma cobertura 5G total nas zonas urbanas e rurais, o sector das telecomunicações terá de aprofundar modelos de negócios suportados na partilha de redes e de recursos entre os operadores. A estratégia surge no estudo da Ernst & Young como a via mais célere para os países europeus cortarem nos custos ambientais e atingirem poupanças de 30 mil milhões de euros. As torres independentes (TowerCo) são para a consultora internacional a forma mais eficaz de evitar a duplicação de infraestruturas e otimizar os recursos energéticos necessários para alcançar as metas climáticas e de cobertura 5G da União Europeia.
A cobertura 5G fora dos centros urbanos é uma das principais exigências da Comissão Europeia, que quer ver todas as zonas rurais do bloco comunitário com serviços 5G disponíveis até 2025. A exigência, aliada ao crescimento da utilização de dados móveis previsto para a próxima década, vão, todavia, obrigar a duplicar as infraestruturas de telecomunicações. O custo ambiental desse investimento será enorme, a não ser que a Europa consiga aprofundar as estratégias de partilha de redes e de recursos.
O modelo de negócio, ainda pouco explorado no continente europeu, poderia evitar a emissão de cerca de quatro milhões de toneladas de CO2 até 2030. Os cálculos estão feitos no estudo da Ernst & Young (EY) intitulado “A Contribuição para a Sustentabilidade do Sector das Torres Independentes”.
Graças ao seu papel inerente na partilha de infraestruturas, as torres independentes, designadas de TowerCo, são segundo a consultora a forma mais eficiente de assegurar a cobertura necessária do 5G. O seu impacto no ambiente poderia equivaler à retirada de 200 mil veículos das estradas por ano ou a 0,3% da meta global de redução de emissões para toda a União Europeia.
O sector das telecomunicações desempenha um papel crucial na transição verde da Europa, que procura um paradigma económico “mais ecológico, digital e resiliente”. O 5G e a Internet das Coisas (IoT) trouxeram consigo a oportunidade de aplicar as novas tecnologias em modelos de negócios mais sustentáveis. Mas o compromisso das autoridades europeias em promover a implementação das redes 5G fora dos centros urbanos e o aumento da cobertura em áreas de alta densidade populacional implicam aumentar significativamente a infraestrutura de telecomunicações.
Segundo o relatório da EY, existem aproximadamente 440 mil “sites” de torres na Europa, incluindo telhados e outras estruturas maiores utilizadas para as comunicações sem fio – excluindo as small cells e o sistema por antena distribuída (DAS). Cerca de 60% encontram-se instaladas na Alemanha, França, Itália, Espanha e Reino Unido. Considerando o lançamento do 5G, as obrigações de cobertura e a maior densificação das redes em áreas urbanas, a consultora estima uma taxa de crescimento anual de 1% a 3% de torres nos próximos cinco anos.
A construção terá inevitavelmente um custo ambiental devido ao uso de aço e betão, dois materiais de construção intensivos em emissões de carbono. É já consensual que o 5G será determinante para reduzir drasticamente as emissões de CO2 nas outras indústrias, como energia, transportes, gestão de edifícios e de fábricas. Tal como também se esperam ganhos relevantes na produtividade, com a combinação entre as redes de quinta geração e a Inteligência Artificial a reduzir consumos energéticos e as emissões de CO2 associadas.
A associação da indústria móvel GSMA estima, a esse propósito, que tecnologia móvel e digital poderá economizar 40% nas emissões dos sectores de energia, transporte, edifícios e indústria, que juntas contribuem para 80% das emissões globais. Em contrapartida, as comunicações móveis de quinta geração assumem elas próprias um grande peso nas emissões de CO2, sobretudo através da rede de acesso rádio (RAN). As estimativas da GSMA sugerem, inclusive, que mais de 70% do consumo de energia provenha da RAN.
Será preciso relembrar ainda que a implementação da tecnologia 5G fornecerá às operadoras a capacidade para aumentar drasticamente a quantidade de tráfego por unidade de espectro e potência. Como os novos casos de uso do 5G irão gerar uma cada vez maior densificação da rede, o 5G poderá conduzir a um maior consumo de energia.
É neste contexto que se justifica o crescimento das TowerCo – defendem os autores do relatório – destacando o seu papel como prestadoras de serviços partilhados entre todas as operadoras na racionalização da rede. Atualmente, 35% das torres na Europa são fornecidas por TowerCo, prevendo-se que essa participação cresça à medida que os operadores procuram aumentar a eficiência das suas infraestruturas. Mas, apesar da sua penetração ter aumentado de 13% em 2014 para 35% em 2022, as percentagens permanecem baixas quando comparadas a outras regiões: 90% nos Estados Unidos, 55% na América Central e Latina e 52% na Índia.
Os seus impactos, no entanto, não podem ser menosprezados, já que um “site” gerido por uma TowerCo consegue ser, de acordo com os dados citados no relatório, 40% mais eficiente no plano financeiro do que quando gerido por um operador, incluindo spinoffs e joint ventures – podendo significar poupanças na ordem dos 30 mil milhões de euros em toda a Europa até 2030.
Os especialistas da Deloitte Portugal também têm vindo a destacar a necessidade de soluções que promovem maior cooperação e investimento partilhado para garantir uma cobertura do 5G rápida e abrangente. Em Itália, por exemplo, a Vodafone e a TIM têm, desde 2019, um acordo para partilhar a rede ativa, no âmbito do 5G, com a finalidade de cortar nos custos e acelerar a sua implementação. Outros países, como o Reino Unido e Alemanha, também enveredaram pela mesma estratégia.
Em Portugal, a ANACOM incentiva a partilha de infraestruturas e de investimentos entre operadores como forma de assegurar uma ampla cobertura das comunicações móveis em todo o país, principalmente no interior. É inclusive dessa recomendação que surgiu a “Carta de Intenções” entre a NOS e a Vodafone para partilhar ativos móveis de âmbito nacional sem que isso comprometa a independência estratégica das suas redes.
Reconhecendo que o impacto ambiental, a eficiência energética e a otimização dos custos são pilares do sector de telecomunicações, os operadores europeus, como por exemplo a Vodafone, a Orange Telecom, a Vantage Tower, a CK Hutchison Networks, entre outras, têm vindo a apostar na criação de empresas de torres independentes com vista a monetizar a infraestrutura e expandir a cobertura do 5G.