A ferramenta, suportada nas redes de última geração, recorre à Inteligência Artificial para identificar padrões sonoros dos polinizadores que possam revelar sinais de deterioração do bem-estar das colmeias. O piloto, desenvolvido pelo operador NOS, está a ser testado junto dos apicultores com o intuito de aperfeiçoar a aplicação e criar uma base de dados nacional de sons emitidos pelas abelhas.
AI-Belha é a solução suportada nas redes 5G e na Inteligência Artificial que o operador NOS desenvolveu com o intuito de avaliar a saúde das colmeias através do som que as abelhas emitem. A tecnologia, criada como mais uma resposta para enfrentar o declínio destes polinizadores, é uma evolução do Entusiasmómetro, ferramenta lançada em 2023, no NOS Alive, que mede o entusiasmo e as emoções do público em espetáculos através da rede 5G.
Procurando aplicar o mesmo modelo a outros casos de uso, a equipa da NOS Inovação quis transpor os princípios de analítica de som ao domínio da sustentabilidade. De acordo com o operador de telecomunicações, o AI-Belha é resultado de diversas sessões de brainstorming, nas quais surgiram diferentes ideias, acabando esta aplicação por ser a selecionada.
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A tecnologia pode ser usada pelos apicultores através dos seus smartphones, bastando para isso aproximar o dispositivo da colmeia e recolher o som emitido pelos insetos, num gesto similar ao de uma chamada telefónica. O áudio recolhido será depois enviado em tempo real através da rede 5G até um servidor na cloud, onde a Inteligência Artificial irá analisar os diferentes tipos de ruído. O resultado será a identificação da presença ou ausência da abelha-rainha, bem como a deteção de outros padrões sonoros emitidos pelos polinizadores e que possam revelar sinais negativos na saúde das colónias de abelhas.
Desde a década de 1950 que os investigadores estudam os sons emitidos pelas abelhas, que é a sua forma de comunicar dentro da colmeia. Mas, nos anos mais recentes, o progresso tecnológico trouxe abordagens mais precisas, como sensores inteligentes, processamento digital de sinais ou Inteligência Artificial para descodificar o zumbido destes polinizadores. A análise dos seus padrões sonoros pode revelar informações valiosas para entender o estado de saúde da colónia e detetar variações repentinas no ambiente interno das colmeias.
Estudos recentes, por exemplo, concluíram que as abelhas emitem diferentes sons quando expostas a produtos químicos prejudiciais, alterando também o seu zumbido quando inquietas e stressadas. Mudanças subtis nas vibrações dos sons podem fornecer igualmente diagnósticos sobre várias patologias, como a varroose, doença parasitária provocada pelo ácaro Varroa destructor.
O projeto AI-Belha, em particular, demorou, sensivelmente, dois meses a ser implementado e incluiu diferentes fases, desde a identificação e interpretação dos sons até à procura e tratamento de dados, passando pela seleção das abordagens tecnológicas mais compatíveis com o desafio proposto. Concluído o trabalho de desenvolvimento da tecnologia, a aplicação foi depois submetida na Conferência Internacional de Inteligência Artificial do IEEE – a maior organização profissional do mundo dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade.
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Fonte: Um Novo Acordo para os Polinizadores (Comissão Europeia, janeiro 2023)
O estágio seguinte envolveu o contacto com vários apicultores que, em finais de março de 2024, deram início aos primeiros testes. O objetivo passa por criar uma base de dados nacional e ainda recolher o feedback dos profissionais do sector que irão contribuir com as suas opiniões sobre a fiabilidade dos modelos utilizados e a facilidade em usar a solução.
A duração do projeto irá, por isso, depender dos dados que se conseguirem recolher, importando não somente a quantidade, mas sobretudo a qualidade da informação obtida. O programa está aberto a apicultores que desejem participar no piloto, estimando-se que possa durar pelo menos até setembro de 2024. Os interessados poderão contactar os promotores através do email fusion4.innovation@nos.pt.
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