“A ascensão das tecnologias e sistemas 5G” é o estudo que demonstra como as redes móveis de quinta geração resultaram de um esforço coletivo entre diferentes regiões do globo, universidades e empresas. “Uma tecnologia tão complexa requer sempre abertura, grande consenso e parcerias”, advertiu Sandro Mendonça, administrador da ANACOM e um dos autores do trabalho.
Desde os primeiros lançamentos do 5G, em 2008, que as questões sobre quem lidera a sua implementação ou a sua investigação têm ocupado boa parte do debate. Mas, um estudo recente conduzido por Sandro Mendonça, Administrador da ANACOM, e Luciano de Freitas, Conselheiro Principal da Anatel, conclui agora que as redes móveis de quinta geração surgiram como resultado de um esforço coletivo entre vários países, universidades, empresas e centros de investigação, acabando depois por se disseminar na exploração de casos de usos para a nova tecnologia.
Embora os Estados Unidos e a China tenham tido um envolvimento precoce no desenvolvimento do 5G, outros países deram igualmente um contributo decisivo para o novo padrão das comunicações móveis. Ao contrário das tecnologias de segunda e terceira gerações, que surgiram de esforços individuais de países ou regiões – especialmente dos EUA e da Europa -, com o 4G, o consenso mundial sobre o desenvolvimento do padrão LTE (Long Term Evolution) promoveu a interoperabilidade entre dispositivos e componentes, independentemente de onde ou de quem os fabricou.
A tendência acabou por refletir-se na geração seguinte, revela o estudo “A ascensão das tecnologias e sistemas 5G: uma análise quantitativa da produção de conhecimento”. O trabalho, publicado em maio no jornal especializado Science Direct, explorou mais de 10 mil publicações científicas e tecnológicas de 107 países para entender o desenvolvimento do 5G desde as suas primeiras aparições em 2005.
Para analisar os conteúdos referentes ao 5G, os autores desenvolveram um algoritmo de Machine Learning Supervisionado, que permitiu oferecer perspetivas sobre a distribuição disciplinar, o desempenho internacional e a dinâmica histórica da evolução das redes de quinta geração.
Desde logo, verificou-se que as referências iniciais ao 5G surgiram a partir de 2005, com uma aceleração, em 2010, até atingir as centenas de publicações por ano, a partir de 2014. A China foi o país que encabeçou as primeiras publicações, seguida dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Coreia do Sul.
O estudo, todavia, revela que esta área de investigação não é um monopólio das grandes potências já que quase um terço das publicações são oriundas da China, Malásia, Turquia, Índia, Paquistão, Egito e Vietname. As atividades de pesquisas, por outro lado, mostraram-se “relativamente globalizadas”, com 14 dos 30 países a não pertencerem à esfera anglo-americana/europeia.
“Isso é um sinal de que vários países, mesmo estando aquém da fronteira tecnológica, não desistiram de ter uma palavra sobre a tecnologia que pode vir a definir o seu próprio futuro”, explicou Sandro Mendonça em entrevista concedida à DPL News – o maior portal noticioso sobre Telecomunicações da América Latina.
Da mesma forma e, apesar da clara competição entre as grandes potências pela liderança tecnológica, o estudo também mostrou uma cooperação significativa entre vários países. A parceria Estados-Unidos – China liderou esta dinâmica, com 510 trabalhos publicados, mas os investigadores chineses também colaboram com outros países, como é o caso do Reino Unido, do Canadá, da Austrália, do Japão e da Suécia: “No início, cerca de 50% das contribuições foram feitas por entidades não académicas, sobretudo empresas, e 50% por universidades e centros de investigação.” As pesquisas publicadas pelo sector privado acabaram depois por estabilizar em 25%, com as empresas mais focadas noutras fases da cadeia e investindo principalmente em patentes, protótipos e no próprio desenvolvimento da tecnologia.
As universidades, por seu turno, assumiram o domínio nas publicações referentes ao padrão, com uma contribuição significativa de fabricantes como Nokia, Ericsson, Huawei e Samsung, bem como de alguns de operadores, como Telefónica, Hutchison e NTT, entre outras.
Com a expectativa de que o 5G impulsionará a Quarta Revolução Industrial, a publicação de trabalhos progrediu igualmente para outras áreas de conhecimento, com investigações a surgirem em revistas especializadas de eletrónica e de telecomunicações. Desde 2018 – salientam os autores – têm aumentado as publicações centradas em aplicações para Transportes, Saúde, Biociências, Energias, Materiais e Química ou Ambiente.
As tecnologias de quinta geração têm sido igualmente objeto de estudo em outras disciplinas, como as Ciências Comportamentais, Negócios e Economia, Políticas Públicas, Governança Internacional e Educação.
Procurando traçar a evolução do desenvolvimento do 5G, os autores salientam a importância da participação de entidades públicas e privadas neste processo. “Um sistema tecnológico tão complexo requer sempre abertura, grande consenso e parcerias”, defendeu o especialista da ANACOM e também Professor do ISCTE Business School.
O mesmo aplica-se, aliás, à participação dos vários países e diferentes regiões do globo. “Esta inclusão é importantíssima para produzir tecnologias que podem ser revolucionárias”, acrescentou Sandro Mendonça, durante a entrevista à DPL News, advertindo que os “discursos estigmatizantes” sobre determinados países faz com que todos saiam a perder.
Consulte o estudo “A ascensão das tecnologias e sistemas 5G: uma análise quantitativa da produção de conhecimento” no website do jornal Science Direct. Sandro Mendonça, Bruno Damásio, Luciano Charlita de Freitas, Luís Oliveira, Marcin Cichy e António Nicita são os autores da investigação.