O laboratório da Agência Espacial Europeia (ESA), no Campus de Ciência e Inovação de Harvell, no Reino Unido, é um ponto de encontro entre especialistas da academia e da indústria da União Europeia, que buscam tecnologias disruptivas para áreas tão vastas como Saúde, Educação, Transportes, Segurança Pública ou exploração no Espaço. Recorrendo a redes terrestres 5G e a comunicações via satélite, o novo projeto da ESA assegura conexões fiáveis e ininterruptas, prometendo alavancar soluções inovadoras em qualquer parte do planeta e até na Lua.
Como encurtar o hiato entre dois laboratórios europeus distantes entre si? De um lado, os investigadores do Centro Interdisciplinar de Segurança, Fiabilidade e Confiança da Universidade de Luxemburgo; do outro, os engenheiros do Hub 5G/6G, da Agência Espacial Europeia, em Harwell, no Reino Unido. Separados por centenas de quilómetros, ambas as partes conseguiram estabelecer uma ligação end-to-end de comunicação de dados 5G.
Simulando uma infraestrutura lunar, os técnicos ligaram, em cada uma das extremidades, smartphones comerciais às redes de acesso rádio 5G, verificando a ligação terrestre entre as redes centrais de quinta geração. De seguida, a parte final dessa ligação foi reencaminhada via satélite para demonstrar a interoperabilidade vertical dos sistemas de satélite e terrestre.
Resta saber qual a utilidade desta complexa operação, concluída com êxito, unindo especialistas que nunca tinham sequer trocado um bom dia cara-a-cara. A resposta está na vontade de tornar a conectividade contínua e ubíqua onde quer que se esteja, dos lugares mais povoados, aos mais remotos e até na Lua, onde a comunicação de alta-velocidade e a latência ultrabaixa também são vitais para assegurar a exploração do Espaço.
O projeto com a Universidade de Luxemburgo é um entre vários a acontecer no Hub 5G/6G. O laboratório, inaugurado em fevereiro deste ano, é o novo programa da Agência Espacial Europeia (ESA), onde se procura promover a colaboração entre empresas, indústrias e academias da União Europeia. O seu foco é a atualização contínua das tecnologias de comunicação e os satélites desempenham um papel crucial nessa missão.
O 5G fornece a ligação para diferentes tecnologias em desempenho e velocidade nunca atingidas por gerações anteriores. Mas os satélites para as redes de quinta geração podem fornecer cobertura ininterrupta com uma capacidade sem precedentes onde as infraestruturas terrestres não asseguram a conectividade. As redes 5G já estão a desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento de futuros sistemas complexos, seguros, fiáveis e eficientes de comunicações no Espaço.
Mas o que os especialistas preveem são progressos ainda mais surpreendentes durante a próxima década, com a tecnologia 5G e 6G a trazer grandes avanços em vários outros domínios como veículos autónomos, automação industrial ou telemedicina. A demonstração da conversão contínua entre uma rede terrestre e uma rede com capacidade espacial, alcançada entre o Luxemburgo e o Reino Unido, veio mostrar a grande promessa dessa tecnologia.
Tal como a participação da ESA na cimeira climática COP 27, em meados de novembro, no Egito, demonstrou também o impacto dos satélites 5G nas tecnologias do metaverso. Criando um ambiente virtual inspirado no Espaço, a ESA permitiu que centenas de funcionários espalhados pela Europa pudessem assistir e participar em tempo real na conferência das Nações Unidas, sem o custo financeiro e ambiental das deslocações físicas. Para isso, bastou que os colaboradores acedessem ao metaverso nos seus portáteis ou smartphones, usando auriculares de Realidade Aumentada ligados através da Internet e por satélite 5G.
Os engenheiros do Hub 5G/6G estabeleceram uma ligação direta com Sharm el-Sheik, usando a sua rede terrestre privada 5G. De seguida encaminharam essa conexão através de satélite, demonstrando a integração das comunicações no solo e no Espaço. A combinação entre as redes terrestres e as redes de satélite forneceu conectividade contínua, permitindo aos especialistas da ESA participarem virtualmente nos debates sobre a utilização do Espaço para enfrentar a crise climática.
No Hub 5G/6G, sedeado no Centro Europeu de Aplicações Espaciais e Telecomunicações da ESA, e localizado no Campus de Ciência e Inovação de Harwell, no Reino Unido, procura-se tirar partido do imenso potencial das redes convergentes de satélite e de telecomunicações terrestres para criar aplicações avançadas destinadas a cidades inteligentes, indústrias ou sectores críticos como Saúde, Educação, Segurança Pública ou Transportes. O objetivo é integrar os desenvolvimentos 5G com a tecnologia espacial, ajudando a preencher as lacunas das redes terrestres para fornecer conectividade e abrir caminho para que um massivo volume de dados possa apoiar as soluções de quinta geração em qualquer parte do planeta e também no Espaço.
Mas, mais do que pura investigação teórica, a ESA pretende transformar este laboratório numa porta de entrada para a comercialização de ideias de negócio com capacidade espacial. Daí o convite feito repetidamente às partes interessadas de todos os sectores verticais para visitarem o Hub 5G/6G e verem de perto como as redes híbridas satélite-terrestres podem contribuir para o seu negócio.
Equipado com tecnologias da última geração e fornecendo uma rede privada 5G com comunicação por satélite, a ESA quer convocar indústrias e centros de investigação europeus para juntos encontrarem respostas aos desafios emergentes da Economia. O hub será também o ponto de encontro para especialistas ligados ao ecossistema 5G, incluindo operadores de satélites e de redes terrestres, fabricantes de equipamento e desenvolvedores de aplicações que irão ajudar a criar soluções 5G ajustadas às necessidades dos mercados verticais.
Embora centrado no 5G, a seguinte geração de comunicações móveis, o 6G, tornar-se-á parte do hub à medida que progredir a transformação da conectividade. As redes móveis são o principal pilar para desenvolver a atividade no laboratório, mas há outros eixos igualmente importantes que beneficiam delas. No Campus de Ciência e Inovação de Harvell, a ESA também quer promover eventos e demonstrações para que indústrias e o público em geral possam testemunhar ao vivo o impacto na vida diária das tecnologias 5G integradas com satélites.
O hub também é um espaço para desenvolvedores de aplicações e prestadores de serviços testarem a viabilidade das suas próprias soluções, usando as redes convergentes 5G. Os ensaios no “Demo Room” podem cobrir vastas áreas, indo da medicina, aos serviços de emergência, passando por drones autónomos até ao ensino à distância, entre muitas outras esferas. O projeto está desenhado de forma que os três eixos do hub possam apoiar-se mutuamente para desenvolver e divulgar as novas aplicações que são criadas através da cooperação entre parceiros públicos e privados.
A grande ambição da ESA é alargar a tecnologia do Hub 5G/6G a nível global. Nesta fase inicial, a colaboração acontece sobretudo com as empresas instaladas no Campus de Harvell, mas a finalidade é estender as parcerias a todos os Estados-Membros da UE e, por fim, partilhar a inovação com o resto do mundo. A expectativa, no final desta jornada, é que todos juntos tragam novas ideias para desenvolver soluções integradas que maximizam o impacto do Espaço na revolução do 5G.
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