Auditoria do Tribunal de Contas Europeu avisa que, se a União Europeia não intensificar os mecanismos de cooperação, não conseguirá acompanhar o ritmo da América do Norte e da Ásia na cobertura da rede de quinta geração.
A Europa está a ficar atrás da América do Norte e da Ásia na implementação de redes 5G e precisa de reforçar com urgência a sua estratégia para combater os riscos de segurança nacional. O alerta surge no relatório do Tribunal de Contas Europeu (TCE), publicado em janeiro, sobre os preparativos dos 27 Estados-Membros da União Europeia (UE) para instalar a quinta e próxima geração de comunicações sem fios.
A menos que se intensifiquem os mecanismos de cooperação, a UE enfrenta ameaças económicas e de segurança muito maiores do que os continentes americano e asiático. “Há atrasos consideráveis na implementação das redes 5G pelos Estados-Membros e são necessários mais esforços para resolver os problemas de segurança na implementação 5G”, adverte o órgão de vigilância da União Europeia com sede em Luxemburgo.
O mundo está na corrida para instalar a infraestrutura 5G, que promete revolucionar tudo, desde a agricultura e pecuária, às indústrias de bens e serviços, passando pela mobilidade urbana ou pelo combate às alterações climáticas. Mas, nesta competição, os países da UE estão a falhar em diversos aspetos, como é o caso da atribuição do espectro de rádio para serviços 5G.
A consequência mais grave dessa lentidão – alerta o TCE – será desde logo não conseguir cumprir a meta de implementação fixada para 2025, data em que todos os Estados-Membros deveriam assegurar a cobertura 5G ininterrupta em áreas urbanas e ao longo das principais rotas de transporte.
Até meados desta década, somente 35% de todas as ligações móveis na Europa vão estar suportadas em 5G. Em contrapartida, a América do Norte (51%) e a Austrália (53%) estarão muito mais avançadas. Japão, Singapura e Coreia do Sul irão ultrapassar também o continente europeu, de acordo com um estudo do setor das telecomunicações citado no relatório do TCE. E até China, Hong Kong, Macau e Taiwan, com 48% das ligações baseadas em 5G, vão estar em vantagem face à Europa, em 2025 – figura 3 do relatório.
Efeito dominó
Falhar esta meta é desencadear um efeito dominó sobre os restantes compromissos, defende o Tribunal de Contas Europeu, advertindo para o perigo da UE também não conseguir disponibilizar serviços 5G a todos os segmentos da população até ao início da próxima década. “Existe um alto risco de que o prazo de 2025 – e, portanto, também o de 2030 para a cobertura de todas as áreas povoadas – não seja cumprido pela maioria dos Estados-Membros”, lê-se no documento de 69 páginas.
No seu plano de ação de 2016, a Comissão Europeia fixou 2025 como a data-limite para implementar a tecnologia 5G em todas as zonas urbanas e todas as principais vias de transporte. Em março do ano passado, estabeleceu um novo objetivo de alcançar a cobertura 5G em toda a UE até 2030. Contudo – sublinha o tribunal – só metade dos Estados-Membros incluiu esses objetivos nas suas estratégias nacionais para a tecnologia 5G. A auditoria do TCE admite, inclusive, que apenas 11 Estados-Membros estarão em condições de assegurar a cobertura 5G nas áreas urbanas até 2025.
Fosso digital
Embora tenha definido orientações e financiamento para apoiar os países do espaço comunitário na concretização desses objetivos, a Comissão Europeia nunca “especificou claramente a qualidade esperada dos serviços 5G”. Essa indefinição, segundo o tribunal, poderá originar desigualdades no acesso e na qualidade dos serviços 5G em toda a UE, ampliando mais ainda o “fosso digital”.
Portugal, aliás, encontra-se juntamente com Chipre, Lituânia e Malta, entre os Estados-Membros que falharam o objetivo intermédio de 2020 de ter pelo menos uma grande cidade com acesso a serviços 5G. Mas há outros países da UE que também estão a atravessar dificuldades na implementação das suas redes 5G.
De acordo com a avaliação da Comissão, são pelo menos 16 os Estados-Membros cuja probabilidade de alcançar o objetivo para 2025 é, na melhor das hipóteses, média, entre os quais, Portugal, República Checa, Alemanha, Estónia, Irlanda, Lituânia, Malta, Países Baixos, Áustria, Polónia e Eslovénia. Na pior das hipóteses, baixa, estão países como a Bélgica, a Bulgária, a Grécia, a Croácia ou Chipre.
Benefícios comprometidos
Até novembro do ano passado, 23 Estados-Membros ainda não tinham transposto a diretiva da UE, que estabelece, entre outras ações, prazos para a atribuição de faixas pioneiras na tecnologia 5G. O TCE sublinha que, ao atual ritmo de execução, é muito provável que os objetivos da União para a atual década não sejam atingidos.
Como resultado, os benefícios económicos perdidos para a UE podem vir a ser enormes. Citando um outro estudo da indústria de tecnologia, o TCE ressalva que o 5G poderia acrescentar até mil milhões de euros à economia europeia e criar ou transformar 20 milhões de empregos entre 2021 e 2025.
Para saber mais, consulte o relatório do TCE ou a nota de imprensa.