Os empresários europeus são os que mais querem investir em 5G nos próximos três anos, revela o estudo da Ernst & Young. O entusiasmo, porém, esbarra em alguns obstáculos, como a “ansiedade” de não saber como funciona a rede com outras tecnologias emergentes ou a incerteza de os seus benefícios não justificarem os avultados investimentos. Autores recomendam que operadores, prestadores de serviços e governos sejam mais eficazes a demonstrar o efeito disruptivo das redes móveis de 5ª geração na indústria 4.0.
O 5G é, entre todas as tecnologias emergentes, aquela que mais se destaca nas estratégias de inovação das empresas e das indústrias. É isso que conclui a consultora Ernst & Young (EY) na terceira edição do seu relatório “Reimagining Industry Futures – Empresas 5G: a oportunidade de crescimento da Indústria 4.0 está a ser negligenciada?”.
Publicado no início deste mês, o estudo, suportado em inquéritos realizados a 1018 empresas de todas as partes do mundo, revela que 17% dos inquiridos já investe em 5G e que 56% dos inquiridos pretendem recorrer a soluções suportadas na 5ª geração de redes móveis para otimizar os seus negócios.
As intenções de gastos atuais e futuros para o 5G, durante esse período, são mais elevadas na Europa (aumentou 5%, alcançando os 76%), o que, segundo os autores, representa uma subida face às respostas obtidas em relatórios anteriores quando o continente europeu ficou atrás das outras regiões. Os resultados, porém, não devem ser encarados como definitivos, tendo em conta que essas metas caíram 8% anualmente, alcançando os 70% na Ásia-Pacífico e Médio Oriente.
As oscilações nas intenções de investimento em 5G estão intrinsecamente relacionadas com as ansiedades sobre como funcionam as redes móveis de 5ª geração ao lado das outras tecnologias emergentes. Essa incógnita, aliás, surge como o maior desafio interno que as empresas enfrentam no domínio da inovação. A incerteza citada pelos empresários entrevistados leva os autores do relatório a recomendar aos operadores e fornecedores de serviços 5G que estabeleçam “sólidos” programas de formação e informação junto dos seus clientes, visando conhecer as suas necessidades e apoiar nas suas estratégias. “Ao educar as empresas sobre como o 5G pode ser aproveitado por outras tecnologias emergentes, os provedores de serviços podem aumentar a confiança dos empresários na implementação do 5G”, lê-se no relatório.
Para já, o que se pode constatar é que o entusiamo com o 5G existe em todas as regiões do mundo e tem vindo a aumentar com a pandemia de covid-19. Quase metade das empresas analisadas neste estudo usam o 5G para otimizar os seus processos de negócios, com 28% na Europa a assumir, inclusive, que preferem casos de uso de 5G avançados com realidade virtual e/ou aumentada.
Há uma série de fatores externos a sustentar esta tendência. A crise global de saúde é, desde logo, o motivo pelo qual 85% dos entrevistados demonstram agora maior interesse pelas tecnologias de 5ª geração – acima dos 52% verificados no ano passado. A interrupção na cadeia de abastecimento surge também entre os principais motivos para 80% dos inquiridos ter procurado as soluções 5G, enquanto 71% admitem que as questões ambientais, sociais e de governança estão no centro das suas motivações.
“O que este estudo indica é que a tecnologia de 5ª geração saiu de sua infância e está agora a ser aplicada ativamente para gerar benefícios no mundo real”, destacou, no comunicado da consultora internacional, Tom Loozen, Líder Global de Telecomunicações da EY, defendendo que o 5G está a seguir o mesmo ciclo de inovação das outras tecnologias transformadoras.
Há, porém, um longo caminho ainda a percorrer antes de a indústria conseguir materializar os seus objetivos: 37% dos empresários receiam que as soluções atuais dos fornecedores de 5G e da Internet das Coisas (IdC) não atendam às suas necessidades de resiliência e continuidade de negócios, e 47% não consideram que as suas metas de sustentabilidade tenham correspondência nos atuais casos de uso.
São receios demonstrados neste estudo que levam os especialistas da EY a insistir na capacidade dos operadores das redes móveis em apresentarem estratégias 5G ajustadas à realidade das empresas. “Com o tempo, os casos de uso 5G sofisticados tornar-se-ão mais importantes, mais urgente, no entanto, é a necessidade de os provedores de serviços de 5ª geração ajustarem as suas soluções às necessidades práticas dos gestores empresariais”, alertou Tom Loozen.
Uma outra grande conclusão que se pode retirar deste estudo é o crescente interesse dos empresários pelas redes privadas, com 77% dos entrevistados a considerarem usá-las para suportar a implementação de casos de uso de 5G e da IdC. Destes, uma larga maioria (71%), admite vir a adquiri-las através de intermediários em vez de recorrer às tradicionais empresas de telecomunicações.
Esse distanciamento face ao setor das telecomunicações fez soar as campainhas dos autores do relatório, acreditando que os operadores têm de agir imediatamente para reconquistar a sua imagem de especialistas em transformação digital, demonstrando serem capazes de corresponder às necessidades da indústria.
Sendo as redes privadas de “alta-qualidade, seguras e transparentes”, o relatório defende que os operadores terão de saber apresentar uma forte relação entre custo-benefício para justificar os avultados investimentos, advertem os autores. A comercialização das redes privadas – conclui o relatório – exigirá também que os governos desempenhem um papel ativo na construção de uma “clara estrutura regulatória” sobre o licenciamento das redes privadas.
Leia no site da consultora Ernest & Young o comunicado ou aceda diretamente à terceira edição do relatório “Reimagining Industry Futures – Empresas 5G: a oportunidade de crescimento da Indústria 4.0 está a ser negligenciada?” (em inglês).