A Inteligência Artificial, ao automatizar a deteção e análise rápida de ataques cibernéticos nas redes móveis e nas tecnologias de última geração, é encarada como um recurso vital para proteger organizações públicas e privadas. Os especialistas advertem, no entanto, que este é um combate que precisa unir empresas, governo e academia em torno de estratégias, políticas e investimento para identificar e abordar as potenciais ameaças que podem afetar seriamente as infraestruturas 5G e as economias cada vez mais digitalizadas.
O investimento nas redes móveis de última geração e nas tecnologias de ponta são os principais motores da inovação nas indústrias. Mas a segurança cibernética é, de igual modo, um ponto nevrálgico para todas as entidades comprometidas com a transição digital. À medida que a digitalização acelera, identificar, gerir e bloquear as ameaças cibernéticas tornam-se desafios cada vez mais urgentes.
Como a infraestrutura 5G é dinâmica e capaz de atingir grandes velocidades, necessita de sistemas de gestão de rede eficazes. Os especialistas, no entanto, estão convictos de que a ascensão da Inteligência Artificial representa um novo ciclo evolutivo para a segurança das empresas. A IA, ao automatizar os processos de respostas, como rápida deteção, análise e resolução de incidentes, poderá assumir uma função determinante na identificação de potenciais riscos e anomalias a um ritmo que os processos manuais não conseguem igualar, minimizando o impacto das ameaças cibernéticas.
Além de respostas rápidas e automatizadas, a tecnologia de Inteligência Artificial e Machine Learning (ML) está preparada não somente para aprender como também a atualizar e adaptar as suas respostas diante de novas ameaças. A IA, de acordo com os peritos, tem vindo a emergir como uma força poderosa na prevenção e combate aos ataques cibernéticos. Mas as novas realidades resultantes da sofisticação das redes e das tecnologias são uma moeda com dois lados. As capacidades da Inteligência Artificial estão a moldar as estratégias não só dos defensores, mas também dos atacantes.
Os cibercriminosos têm, da mesma forma, ao seu dispor ferramentas alimentadas por IA para criar e-mails de phishing mais refinados, orquestrar ataques deepfake e desenvolver malware com capacidades adaptativas, tornando obsoletos muitos mecanismos de defesa convencionais. A capacidade de automação da IA acelera as ameaças cibernéticas, capacitando os invasores a identificar e explorar pontos fracos a uma velocidade sem precedentes e colocando sob pressão as equipas de TI que se esforçam para acompanhar o ritmo.
Os ataques com recurso a IA acrescentam uma outra camada de complexidade às ameaças cibernéticas. Alex Leadbeater, Diretor de Segurança Técnica da Associação para o Sistema Global de Comunicações Móvel (GSMA) dá o exemplo do malware polimórfico, que é capaz de alterar a sua estrutura de código para evitar a deteção. O novo recurso dos atacantes, explica o especialista no seu artigo publicado no Infosecurity Magazine, demonstra como a IA permite que os invasores sejam continuamente mais astutos para contornar as medidas de segurança convencionais.
Na era do 5G, há novos desafios a ter em conta antes da sua implementação e adoção generalizada, adverte o especialista da GSMA. A conectividade móvel de última geração representa uma revisão completa de redes e tecnologias mais antigas, fatores que suscitam um reforço adicional nas medidas de prevenção. As implicações de um possível ataque de rede são enormes, pois a navegação digital baseada em software e na gestão de rede cria outros tipos de vulnerabilidades que precisam de ser acauteladas.
São motivos suficientes para os especialistas colocarem grande ênfase nas campanhas de sensibilização, no investimento e nas políticas governamentais para identificar e abordar os potenciais problemas que poderão afetar as infraestruturas 5G. Esta nova realidade não diz respeito unicamente às indústrias, devendo o esforço e responsabilidade serem, como tal, partilhados por governos, academia e empresas.
Esse é, aliás, o intuito da parceria recentemente anunciada entre três universidades canadianas e a fabricante Ericsson. O consórcio foi criado justamente para desenvolver e testar modelos de redes ciberresilientes e seguros, recorrendo a automação e Inteligência Artificial para detetar e prevenir ataques a infraestruturas 5G e 6G. O programa, financiado pelo governo do Canadá, através do National Cybersecurity Consortium (NCC), visa desenvolver técnicas suportadas na IA para melhorar e automatizar a segurança das redes 5G assim que os ataques são perpetrados. O objetivo será também explorar o impacto potencial da Inteligência Artificial e das capacidades das redes 5G para antecipar ameaças e detetar ciberataques em andamento, bem como implementar mecanismos de defesa em tempo real.
A iniciativa representa, acima de tudo, um esforço partilhado por várias entidades para proteger a segurança das organizações e evitar custos financeiros e de reputação cada vez mais gravosos. Bastará relembrar, aliás, os prejuízos globais que os ataques cibernéticos provocaram em 2023 e que, segundo os dados citados no relatório da Cybersecurity Ventures, atingiram oito triliões de dólares (ou seja, oito seguido de 18 zeros). Para se ter uma ideia dos valores em jogo, o montante estimado equivale ao gerado por uma grande potência da economia mundial, ficando apenas atrás dos EUA e da China.
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Crédito da imagem de abertura: Marlon Romanelli Romanelli via Pixabay