Os analistas de tecnologias preveem que os dispositivos para casas inteligentes sejam, nos próximos anos, o principal caso de uso do 5G. São os atributos das redes de quinta geração, combinados com Inteligência Artificial, Internet das Coisas ou Machine Learning que já permitem a máquinas e eletrodomésticos trabalharem em conjunto, fazendo a reciclagem da água, transferindo e compensando a energia de uns dispositivos para outros, tratando dos resíduos domésticos, assegurando a vigilância ou alcançando uma gestão eficiente dos consumos.
Há quase 75 anos, o cineasta americano Tex Avery, famoso por produzir a série de desenhos animados Looney Tunes, realizou uma curta-metragem intitulada “The House of Tomorrow”. O filme de animação mostra algumas inovações esperadas em 2050, como botões e comandos de voz para ativar funções variadas, desde máquinas autónomas para fazer sanduíches em série, até sofás que se adaptam à anatomia de cada um, passando por televisões inteligentes para os gostos de cada membro da família ou temperatura ambiente controlada por sensores. Em 1949, essas engenhocas terão dado vontade de rir e pareceram, provavelmente, um delírio típico do cinema.
Hoje, muitas destas invenções são bem reais nas casas do presente. Basta olhar à volta para encontrar smartphones, tablets, portáteis e ainda dezenas de sensores conectados em eletrodomésticos, câmaras de videovigilância, altifalantes, televisores, sistemas de iluminação ou de climatização. A domótica – sistema de mecanismos integrados e automáticos no espaço residencial – é uma tecnologia que tem vindo a evoluir desde a década de 1980, oferecendo, atualmente, inovações que ultrapassaram, em alguns casos, a imaginação rebuscada de Tex Avery.
Uma casa inteligente é aquela onde dezenas de dispositivos, conectados à Internet, podem ser controlados à distância, através de smartphones, de ecrãs ou de comandos de voz. Já existe no mercado uma vasta gama de soluções, mas a verdadeira inteligência, essa, só se torna possível com a combinação entre as redes 5G, a Inteligência Artificial, o Machine Learning e a Internet das Coisas a permitir que todas as máquinas, ligadas em simultâneo, possam aprender a trabalhar em conjunto. Ao se coordenarem entre si, os aparelhos domésticos, podem fazer a reciclagem da água, transferir energia de uns equipamentos para outros, tratar dos resíduos domésticos ou alcançar uma gestão eficiente dos consumos.
Numa casa inteligente, iremos conviver com robôs que prestam assistência aos humanos, poderemos montar móveis com a ajuda de uns óculos de Realidade Virtual, controlar remotamente interruptores, fechaduras, alarmes ou câmaras de vigilância. A instalação destes dispositivos nem sequer exigirá mão de obra especializada ou intervenções de fundo no interior ou exterior da habitação. As tecnologias são plug and play, isto é, basta ligá-las e começar a utilizar através de uma conexão sem fios.
Uma das principais diferenças entre o 5G e as gerações anteriores é a sua capacidade para suportar uma enorme quantidade dispositivos e casos de uso. Para o Wi-Fi, todavia, essas múltiplas ligações representariam um enorme fardo uma vez que não é suficientemente rápido, liga menos dispositivos e tem um tempo de resposta mais lento. Mas as redes de quinta geração foram concebidas para ligar tudo em todo o lado, desde smartphones e tablets a carros autónomos ou dispositivos ligados à Internet das Coisas. A tecnologia 5G tornou possível a integração de dezenas ou centenas de dispositivos inteligentes em casa, como termostatos, sistemas de segurança e câmaras de vigilância ou aparelhos domésticos conectados.
A Realidade Aumentada e Virtual abriu também a porta a experiências imersivas, como convívios no metaverso com amigos e familiares a viver noutros países ou consultar o médico sem sair de casa. Todos os dispositivos podem descarregar simultaneamente filmes em alta-definição, transmitir música, ou jogar jogos online, sem qualquer interferência na conectividade de outros equipamentos, tecnologias e sensores instalados em casa.
Isto permite que as habitações se tornem mais eficientes e automatizadas, melhorando a segurança e o conforto e reduzindo os custos de energia. Consumos energéticos mais eficientes será, logo à cabeça, a grande vantagem que o 5G poderá oferecer, não só para as indústrias e empresas, mas também dentro das casas dos consumidores. Estudos conduzidos pela Nokia sugerem que as tecnologias 5G são até 90% mais eficientes por unidade de tráfego do que as redes 4G. Esse efeito é ainda mais surpreendente, tendo em conta que as redes móveis de quinta geração lidam com muito mais tráfego e suportam grandes quantidades de equipamentos ligados.
As potencialidades do 5G aplicadas às smart homes têm por isso aguçado o entusiasmo das empresas de telecomunicações por este segmento em franca expansão. Dos 82 operadores de redes móveis inquiridos pela consultora S&P Global, no final de 2022, 82% apontaram a casa conectada, incluindo dispositivos inteligentes e a segurança doméstica, como o principal caso de uso 5G em todo o mundo.
Os consumidores, por outro lado, também estão recetivos às novas tecnologias, procurando cada vez mais por soluções que facilitem a gestão das tarefas e dos consumos domésticos. De acordo com as previsões da consultora GlobalData, os consumidores irão gastar quase 90 milhões de euros por ano em soluções automatizadas dentro de casa até 2024. Espera-se também que os sistemas de segurança inteligentes sejam os mais populares, gerando 38% das receitas dos sistemas de domótica, e que os aparelhos inteligentes contribuam com 25%.
O mercado dos dispositivos para casas inteligentes, segundo os analistas de tecnologia, irá crescer significativamente nos próximos anos. A oferta disponível já é aliás diversificada, com uma larga gama de gadgets domésticos que começam gradualmente a fazer parte da mobília da casa.
Desde altifalantes com assistentes de voz, que interagem à distância com vários dispositivos e sem precisar manuseá-los, luzes e persianas programadas para ligar ou desligar remotamente dentro e fora de casa, câmaras de segurança que notificam os proprietários sempre que ocorre um movimento fora do comum, termostatos que sobem ou descem a temperatura com um toque no smartphone ou através de um comando de voz, aparelhos de limpeza que se ativam sozinhos ou robôs aprestar apoio a idosos ou a portadores de deficiências físicas e motoras através de sensores que ativam chamadas de emergência, quando necessário, ou relembram as horas de medicação.
Até há menos de uma década tudo isso não passava de uma fantasia dos filmes de animação. Mas, nos anos de 1950, o cineasta Tex Avery, longe ainda de saber o que é o 5G, já deveria desconfiar que a tecnologia e a criatividade humana, quando se juntam, superam sempre as fronteiras da ficção.
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Aceitem o convite do Rui e entrem na sua casa inteligente