Com o envelhecimento da população a afetar a produção agrícola, o Japão procura usar as redes privadas de última geração para aliviar a carga de trabalho dos agricultores. O 5G está no epicentro de um projeto-piloto, a decorrer nos municípios de Chōfu e de Iwamizawa, que recorre a tratores autónomos e robôs para monitorizar os campos e realizar tarefas repetitivas. O programa inclui ainda a assistência diária prestada por investigadores que, a partir de uma sala de comando, manobram máquinas, treinam trabalhadores agrícolas e analisam imagens e dados recolhidos em tempo real.
As áreas rurais nos arredores das cidades japonesas de Chōfu e de Iwamizawa padecem das mesmas dificuldades que as restantes regiões marcadamente agrícolas. O Japão é o país com a população mais idosa do mundo e o fenómeno têm consequências diretas na produção de bens alimentares. Basta lembrar que o número de agricultores, no Japão, caiu mais de 20%, entre 2015 e 2020, segundo o Censo Agrícola e Florestal de 2020. Dos restantes trabalhadores agrícolas, quase 70% tinham 65 anos ou mais.
Num esforço para revitalizar a indústria, as empresas privadas e os municípios estão a criar parcerias para desenvolver tecnologias que possam aliviar parte da pressão sobre a população idosa a trabalhar nos campos. Os agricultores japoneses são essenciais para a produção de importantes produtos para consumo interno e exportação, como arroz, cevada e trigo. A Internet móvel 5G tem vindo, neste contexto, a desempenhar um papel determinante para eliminar tarefas pesadas e repetitivas.
As aldeias das periferias de Chōfu de Iwamizawa foram por isso escolhidas em 2020 para participar num projeto-piloto de três anos. A iniciativa visou apoiar os agricultores através de tecnologias conectadas à rede 5G, fornecendo simultaneamente assistência remota prestada por especialistas do Centro de Investigação Agrícola da NTT – Nippon Telegraph and Telephone, em Tachikawa.
Em 2020, chegaram também aos campos de cultivo de Iwamizawa e Chofu os primeiros tratores autómanos elétricos movidos a 5G. A operação é o resultado de parcerias entre a Universidade de Hokkaido, o operador de telecomunicações NTT e os municípios das duas regiões. A sinergia permitiu, desde logo, recorrer ao 5G para transmitir de forma fiável grandes quantidades de informação dos tratores para centros de monitorização de dados, denominados de cockpits e operados por investigadores que prestam apoio aos agricultores.
Os tratores e os robôs ligados a 5G permitiram aos agricultores monitorizar remotamente as colheitas em vários campos a partir de um único local e receber assistência de especialistas. Os robôs conectados às redes privadas de última geração também ajudam os agricultores a pulverizar pesticidas remotamente, a eliminar a vegetação selvagem e a realizar outras tarefas fisicamente exigentes.
Devido à sua grande largura de banda, o 5G permite aos agricultores transmitir imagens 4K em tempo real, um desempenho impossível se fosse feito exclusivamente através de redes WiFi.
A informação ajuda os peritos a monitorizar as culturas, a detetar doenças e ainda a organizar um cronograma das colheitas diariamente ajustado às condições meteorológicas e do solo.
Mais importante ainda, a baixa latência inerente às tecnologias 5G garante que os especialistas possam operar os robôs com segurança e sem necessidade de se deslocarem ao terreno.
Uma das grandes vantagens deste modelo é a possibilidade de os agricultores receberem apoio diário, em vez de assistência semanal ou mensal, como acontecia antes.
Com a análise e recolha de dados e de imagens em tempo real, os agricultores já não precisam de verificar as suas colheitas todos os dias. Em Chōfu, por exemplo, foram construídas estufas totalmente automatizadas onde é usada tecnologia alimentada por 5G, como óculos inteligentes, para controlar a temperatura e a humidade, conseguindo-se reduzir a carga de trabalho e proteger as culturas contra condições climáticas extremas.
O tomate foi particularmente beneficiado com o acesso às redes 5G. Em virtude do clima japonês, geralmente quente e húmido, os tomateiros necessitam de monitorização constante para atingirem a fase de maturação. Além disso, as redes móveis permitiram aos especialistas administrar formação e treino à distância aos trabalhadores da cidade de Chōfu que nunca tinham tido contacto com práticas agrícolas.
Os próximos passos implicam alargar, gradualmente a partir de 2024, a escala deste piloto 5G para que mais agricultores possam monitorizar os campos, beneficiando de tecnologias inovadoras e assistência remota. A introdução de drones pulverizadores de pesticidas e de outras soluções desenvolvidas para a colheita também têm a vantagem de colmatar a escassez de mão de obra e reduzir a carga de trabalho. O que se espera ainda é que, em breve, a Inteligência Artificial seja capaz de fornecer recomendações com base na recolha e tratamento de dados.
Mas, para que tal se torne uma realidade, as empresas e os municípios terão de continuar a investir em conectividade de alta-velocidade, advertem os parceiros desta iniciativa. Prevê-se que a cobertura do 5G alcance 95% da população japonesa até ao final de 2023, mas os que os promotores do projeto-piloto ambicionam é, sobretudo, um investimento consistente em redes privadas para aproveitar as vantagens de sistemas de softwares avançados dependentes de redes robustas para processar e analisar os dados em tempo real.
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