Apresentado no Mobile World Congress, em Barcelona, o projeto, ainda em fase de prototipagem, fornece cobertura 5G alimentada por redes locais, baterias ou geradores. A inovação partiu de uma empresa, sedeada em Istambul, após os dois grandes terramotos na Turquia e na Síria terem destruído totalmente as infraestruturas de telecomunicações.
A consequência mais trágica dos dois terramotos de magnitudes 7.7 e 7.5 que, a 6 de fevereiro de 2023, devastaram o sudeste da Turquia e o norte da Síria são os mais de 50 mil habitantes que perderam a vida e os cerca de 1,5 milhões que ficaram desalojados. Não menos devastador foram os milhares de vítimas que desesperaram por socorro debaixo dos escombros e que não tinham como pedir ajuda às brigadas de resgate.
Com as linhas elétricas cortadas e as redes de acesso de rádio (RAN), instaladas em edifícios, totalmente destruídas, as equipas de salvamento viram as suas operações no terreno ainda mais dificultadas sem conseguir estabelecer a comunicação com os sobreviventes ou com os centros operacionais.
São vários os países e organizações internacionais que procuram agora apoiar a Turquia e a Síria na reconstrução das infraestruturas de telecomunicações, como é o caso dos Emirados Árabes Unidos. Mas, por mais robustas que venham a ser as novas redes, estão todos conscientes de que, perante catástrofes de grande dimensão, será praticamente impossível assegurar as comunicações que permitam acelerar as operações de salvamento.
Foi precisamente para evitar que tal possa vir a ocorrer outra vez, na Turquia, na Síria ou em qualquer outro ponto do planeta, que a tecnológica i2i Systems, sedeada em Istambul, está neste momento a desenvolver o “5G in a Box”, uma solução portátil, que permite transportar as redes móveis de quinta geração para qualquer lugar, incluindo cenários devastados por terramotos e eventos climáticos extremos.
A tecnologia, anunciada no Mobile World Congress, em Barcelona, é na prática uma rede 5G, acondicionada numa caixa, que poderá fornecer cobertura 5G, alimentada por uma rede local, se disponível, ou então por baterias ou geradores.
“Sentimo-nos impotentes por não termos conseguido ajudar as equipas de resgate, mas queremos estar preparados se houver uma próxima vez.”
Ayhan Kapusuz, CEO, i2i Systems
Nos últimos anos, a empresa tem vindo a desenvolver sistemas para redes privadas 5G destinadas a vários operadores do país. Mas, após os dois grandes terramotos na Turquia e na Síria, a tecnológica virou o core business para o segmento das comunicações para catástrofes, como explicou Ayhan Kapusuz, CEO do i2i Systems à plataforma de informação TelecomTV.
Utilizando competências internas e de parceiros internacionais com os quais já estão a trabalhar, a equipa do i2i Systems desenvolveu uma solução que inclui uma pilha central para redes privadas, uma antena parabólica para conectividade de backhaul ou ainda ferramentas para gestão e monitorização da rede.
O protótipo deverá ficar concluído ainda no início deste verão, sendo o passo seguinte a procura de financiamento que poderá chegar tanto do sector público como privado. O intuito passa por desenvolver unidades autónomas que fornecem cobertura de 5G e que estão disponíveis para equipas de resgate usarem em emergências, mas também para serviços móveis de agências governamentais e organizações públicas.
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Crédito da foto de abertura: Tung Yeung | Domínio público (equipa de resgate Céu Azul, de Xiamen, nas operações de salvamento na Turquia)