Com uma rede 5G operacional na cidade de Aveiro, o Living Lab fornece às indústrias, empresas ou centros de investigação um amplo campo de experimentação para testar e validar em ambiente real soluções tecnológicas inovadoras nas áreas de Mobilidade, Sustentabilidade, Cidades Inteligentes, Condução Autónoma ou Gestão dos Serviços Municipais.
Trabalho, lazer, aulas, comércio, trânsito, turismo, tudo isso e muito mais preenche o dia a dia de um centro urbano. Mas e se uma cidade pudesse ser também um campo de experimentação para empresas, indústrias, instituições ou centros de investigação desenvolverem e testarem os seus projetos, produtos e serviços? Esse é o propósito do Aveiro City Living Lab, o único laboratório vivo em Portugal com uma rede 5G operacional no centro urbano.
Neste município da região Centro, veículos ou equipamentos são utilizados, por exemplo, para monitorizar a qualidade do ar, gerir o tráfego ou supervisionar os níveis de ruído, ajudando a autarquia a reajustar as políticas urbanas. São também testados cenários de prevenção de acidentes nas estradas, desenvolvem-se produtos para futuras redes 5G, ferramentas digitais que facilitam a relação dos residentes com os serviços públicos ou ainda soluções integradas para ambientes domésticos, que resultam em ganhos de eficiência energética ou na redução do consumo de água.
O Living Lab, que engloba entre outros recursos uma rede experimental 5G, é apenas uma entre as mais de 20 iniciativas implementadas no âmbito do Aveiro Tech City. No entanto, é a que mais se destaca por usar a cidade de Aveiro como testbed para por à prova novas tecnologias, serviços e aplicações. Os testes são todos realizados em contexto real. A infraestrutura de comunicações é simultaneamente uma plataforma urbana de gestão de dados e de analítica ao serviço de investigadores, indústrias digitais, startups, empresas de alto crescimento (scaleups), centros de investigação, empreendedores e outras partes interessadas.
Enquanto os dados são recolhidos, a experimentação e os testes decorrem no espaço urbano, o quotidiano da cidade prossegue com o vaivém de autocarros a circular nas ruas, os moliceiros a navegar na ria, os moradores nas esplanadas ou os cantoneiros a ocuparem-se da limpeza urbana. Por detrás deste movimento está uma estrutura praticamente impercetível que permitiu ao município de Aveiro lançar-se na vanguarda da tecnologia.
Entremos, então, nos bastidores desta malha para entender de que forma o pulsar desta cidade está a gerar informação útil para melhorar a mobilidade, a gestão dos serviços públicos, a recolha dos resíduos urbanos ou a pegada ambiental.
O alicerce do Aveiro City Living Lab é uma infraestrutura de acesso suportada numa tecnologia de última geração, com 16 km de fibra ótica a envolver a cidade e a interligar 44 unidades de rádio reconfiguráveis com comunicações de curto e longo alcance, sensores para recolha de dados e ainda unidades de computação avançada para tratamento de dados de apoio à tomada de decisão. Esta rede de comunicações está ligada por fibra ótica a um centro de processamento de dados, onde é feita a monitorização e gestão da plataforma ao nível da infraestrutura, dos dados e um core 4G e 5G.
Também os transportes públicos e as viaturas de recolha de resíduos urbanos estão equipados com unidades móveis de comunicação e com unidades de sensorização. Esta infraestrutura móvel funciona como um elo de comunicação que permite interligar os veículos, as pessoas e os sensores a toda a rede implementada na cidade.
Esta complexa teia fornece dados da cidade e de quem nela circula e viabiliza ainda a instalação de equipamentos de comunicação, sensores e outros protótipos que podem ser testados e validados numa rede real.
“O Aveiro Tech City já atraiu vários projetos nacionais e internacionais [mais de 40], com várias empresas e instituições de investigação a utilizar as infraestruturas para testar os seus protótipos e tecnologias, mas também para cooperar em cenários de experimentação conjunta em cidades inteligentes nas áreas da Mobilidade, Ambiente, Internet das Coisas, Turismo, Condução Autónoma, entre outras”, explicou, ao canal Youtube Aveiro Tech City, Susana Sargento, investigadora no Instituto de Telecomunicações da Universidade de Aveiro, duas das instituições que, juntamente com a Altice Lab, são parceiras da autarquia na iniciativa Aveiro City Living Lab.
Boa parte destes projetos surgiu no âmbito do programa Aveiro Tech City, cujo financiamento, segundo a Câmara Municipal, já ultrapassou os 4,9 milhões euros inicialmente previstos, ascendendo atualmente a nove milhões de euros.
O percurso para chegar até aqui começou em 2019, com o arranque do Aveiro STEAM City, projeto que envolveu um investimento de 6,1 milhões de euros, dos quais 4,9 milhões cofinanciados por fundos comunitários. Ao ficar entre as 22 candidaturas selecionadas de um total de 184 concorrentes, o município de Aveiro acabou por tornar-se também na primeira cidade portuguesa a obter o apoio financeiro do programa europeu Urban Innovative Actions (UIA).
Com o STEAM City (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática) foram dados os primeiros passos para a transformação digital do município, com a adoção de infraestruturas e tecnologias 5G e IoT (Internet das Coisas). Foram instalados techlabs nas escolas, implementados casos de estudos nas áreas do Ambiente, da Energia e da Mobilidade, promovidos bootcamps dedicados à programação, lançados concursos para startups ou criadas residências artísticas para a arte digital.
Entre as mais de duas dezenas de iniciativas do STEAM City, a Plataforma Urbana destaca-se como o grande salto que possibilitou, mais tarde, desenvolver e alargar a escala do Aveiro City Living Lab. Trata-se, no fundo, de um sistema tecnológico que se estende pelo território urbano de Aveiro, permitindo capturar o volume de dados gerado pelos munícipes, empresas ou serviços públicos. A informação é recolhida, coligida e fica ao dispor de todo o ecossistema composto por indústrias, empresas, instituições académicas e científicas para ser analisada por especialistas e aplicada nas mais variadas áreas.
A Plataforma Urbana, desenvolvida pela Altice Labs é, portanto, um instrumento central para o desenvolvimento e experimentação de tecnologias e soluções inovadoras que podem, depois, ser testadas na cidade, em ambiente real. Mas é também uma ferramenta crítica para apoiar a gestão do município. Desde logo, porque inclui uma componente de visualização e exploração de dados, designada de Centro de Governação da Cidade, que fornece uma perspetiva integrada dos diferentes indicadores de desempenho da cidade.
Medir a velocidade ou monitorizar o número de veículos nas estradas, recolher dados sobre o consumo de energia elétrica, de água e de gás do município ou registar o volume de resíduos urbanos recolhidos, são alguns dos parâmetros avaliados. Os munícipes podem usar, da mesma forma, a ferramenta para saberem, por exemplo, se o nível de qualidade do ar é recomendado para a prática de atividade física ao ar livre. Os técnicos da autarquia já conseguem identificar episódios de poluição decorrentes de incêndios florestais ou de poeiras do deserto e alertar a população para os seus efeitos nocivos na saúde.
“A ideia passou por transformar os dados de concentração de poluentes num indicador de leitura simples, permitindo perceber se são necessárias cautelas”, explica também ao canal Youtube do Aveiro Tech City Ana Miranda, Professora Catedrática no Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro. No futuro, com a conversão dos motores de combustão em elétricos dos moliceiros, a plataforma poderá ainda calcular a poupança nas emissões de CO2 durante as travessias das embarcações na ria de Aveiro.
Para lá das potencialidades da Plataforma Urbana, existem já muitas soluções inovações desenvolvidas no âmbito do programa Tech City. Uma das mais surpreendentes será, talvez, a aplicação para smartphone e tablet de tecnologia de Realidade Aumentada, que sobrepõe nos ecrãs imagens captadas em tempo real das estruturas do subsolo. Ao visualizarem as condutas enterradas num arruamento, as equipas de manutenção das Águas da Região de Aveiro (AdRA) conseguem tomar decisões sobre manobras a realizar ou solicitar intervenções no local, se for necessário.
A implementação das redes de quinta geração nas Indústrias, nas Cidades Inteligentes ou em áreas estratégicas como Energia ou Ambiente começam agora a dar passos decisivos. Ao conhecer as conquistas do Tech City é inevitável não olhar para o município de Aveiro como um pioneiro que com o 5G acelerou o futuro.
Muito desse caminho – reconhece a autarquia -, deve-se ao ecossistema tecnológico criado há décadas por entidades, como o Instituto de Telecomunicações, a Universidade de Aveiro ou a Altice Labs, que se instalou em 2016 no concelho. A Inova-Ria – Associação de Empresas para uma Rede de Inovação em Aveiro e a Associação para um Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável (CEDES) permitiram alargar a rede de parceiros e diversificar as vertentes do Aveiro Tech City.
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Sobre os testes de produtos e serviços no Living Lab
As entidades públicas ou privadas interessadas em testar produtos ou serviços inovadores no Living Lab do município aveirense podem submeter o formulário de candidatura e consultar as normas de utilização, as regras de acesso às infraestruturas, entre outros documentos, no website do Aveiro Tech City.