O projeto Foresight Portugal 2030, da Fundação Gulbenkian, mostra três caminhos que o país poderá percorrer até ao final da década em áreas estratégicas como Território, Agenda Digital, Telecomunicações, Agricultura, Energia ou Transportes. Os cenários têm em conta os novos desafios e transformações sociais em curso, realçando que, sem inovação e tecnologias suportadas no 5G, o desenvolvimento económico, social e ambiental será lento e menos promissor.
“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”, já dizia o pensador austríaco Peter Ferdinand Drucker, considerado o pai da gestão moderna. Pegando nessa máxima, poder-se-ia concluir que o estudo Foresight Portugal 2030 é uma tela em branco que a Comissão Científica do Fórum Gulbenkian Futuro lançou, este mês, para começar a desenhar os caminhos que Portugal poderá percorrer no período entre 2021 e 2030.
De um país periférico, mirrado pelo envelhecimento da população e com o sistema de pensões e o Serviço Nacional de Saúde desequilibrado, até ao seu crescimento suportado em sectores como a Aeronáutica, o Espaço, a exploração dos oceanos e a capacidade para tirar proveito das potencialidades do Digital ou do 5G, está tudo em aberto. Mas, sem inovação e tecnologias suportadas nas novas gerações de redes móveis, o desenvolvimento económico, social e ambiental será mais lento e menos promissor.
Tendo em conta as transformações sociais e a trajetória do país ao longo das últimas décadas, o projeto, lançado em 2019, colocou três cenários em cima da mesa para oito áreas tão diversas como Geoeconomia, Território, Agenda Digital, Agricultura, Telecomunicações, Energia ou Transportes. A tríade de hipóteses elencadas, por seu turno, considerou conjunturas distintas (ou cenários) para contextos de “Continuidade”, de “Ajustamento” e ainda de “Reposicionamento”, que ajudarão Portugal a assumir estratégias de curto e médio prazo decisivas para a retoma do crescimento económico, a mitigação e adaptação às alterações climáticas e a coesão e a mobilidade sociais.
Em boa parte dos cenários traçados para as diferentes áreas, as tecnologias terão de contar com uma forte implementação do 5G, transversais para dinamizar desde territórios com baixa densidade populacional, combinar a oferta digital com inovação, renovar o transporte rodoviário com sistemas de condução autónoma, introduzir aplicações de 5ª geração de forma integrada na saúde, nos sistemas de alerta ou na prevenção aos incêndios ou gerir de forma eficiente os recursos hídricos.
Procurando cruzar as dimensões económicas e financeiras com questões demográficas, sociais, tecnológicas, ambientais, geoeconómicas e geopolíticas, os 19 especialistas evolvidos no estudo quiseram oferecer uma espécie de roadmap do futuro com várias estradas que poderão ser percorridas pelos decisores políticos. A principal finalidade do Foresight Portugal 2030, segundo os seus autores, passa por criar um “quadro de referência” que possibilite escolhas informadas, com vista a colocar o país na rota da modernização tecnológica e do combate às alterações climáticas.
O intervalo de tempo 2021-2030 em que a reflexão está balizada não é uma mera opção cronológica. É antes um momento de transição entre as limitações ao crescimento de soluções e de atividades que vieram do passado e as dificuldades em expandir uma nova vaga de crescimento assente em novos paradigmas técnico-económicos e numa reorganização da geoeconomia e geopolíticas mundiais, que, provavelmente, só se vão estabilizar no horizonte de 2050.
Esta é aliás a grande razão para os autores defenderem que estamos perante uma década “previsivelmente turbulenta”. Desde logo, não será mais possível contar com os mesmos fatores de crescimento, nem tão-pouco seguir as mesmas orientações públicas, que – advertem os especialistas – não foram capazes de retirar Portugal de um “longo período” de quase estagnação. O desafio “determinante” que agora se coloca é o de o país conseguir se apoiar no que é “genuinamente novo e com elevado valor acrescentado” para atingir a prosperidade.
Estes são os cenários projetados para cada uma das oito áreas:
Cenário 1 / Continuidade – Reflete os resultados do prolongamento das políticas atuais, colocando o país numa posição periférica na Europa e permanentemente assistido pelos fundos comunitários. Portugal, neste cenário, mantém fortes relações económicas com a União Europeia e ainda algumas relações bilaterais centradas em Espanha, Alemanha, França, além de vínculos comerciais crescentes na Ásia, sobretudo na China.
Cenário 2/ Ajustamento – Retrata os efeitos, em Portugal, da estratégia da União Europeia em se querer converter num ator global. Essa ambição passará, principalmente, por uma matriz marítima, projetando o continente para o Atlântico, com relações bilaterais a privilegiar os estados da fachada Atlântica Europeia e os países lusófonos.
Cenário 3/ Reposicionamento – Parte do pressuposto de que, não conseguindo a União Europeia ser bem-sucedida na sua tentativa em se tornar numa potência mundial, Portugal, embora fazendo parte da UE, irá aprofundar relações com os Estados Unidos, o Japão e a CPLP. O país assume, deste modo, uma matriz marítima, apostando na relação histórica com a Ásia, sobretudo nas economias prósperas e inovadoras fora da Europa, e reforçando o papel internacional da CPLP.
Consulte informação adiconal sobre o estudo Foresight Portugal 2030 no site da Fundação Calouste Gulbenkian.