Com a expansão e maturidade do 5G, surgem agora os primeiros projetos que aliam as comunicações móveis de última geração à Inteligência Artificial, Internet das Coisas, drones, satélites ou sensorização, trazendo para o teatro de operações maior eficiência na prevenção e combate dos fogos.
Os incêndios florestais são a face mais visível e destruidora que as alterações climáticas revelam todos os verões. Países mediterrânicos, como Portugal, estão entre os mais afetados, devendo por isso tirar o máximo proveito das tecnologias de ponta para travar ou minimizar o fenómeno. Com a expansão e maturidade do 5G, surgem agora os primeiros pilotos que aliam as comunicações móveis de última geração à Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas, drones, satélites ou sensorização, trazendo para o teatro de operações maior eficiência na prevenção e combate dos fogos.
É, como tal, fundamental conhecer e aprender com estes novos casos de uso que começam a ser implementados nos Estados Unidos, no Canadá, em Espanha, no Chipre ou na Alemanha. Muito se tem escrito e debatido sobre o potencial revolucionário do 5G em diferentes esferas e sectores da economia. A sua aplicação está precisamente entre os melhores exemplos para ultrapassar o maior desafio de todos: a segurança de populações e a preservação da vida selvagem.
A província de Colúmbia Britânica, no extremo oeste do Canadá, conta, por exemplo, com uma tecnologia inovadora, que usa o 5G, a Inteligência Artificial e satélites para localizar rapidamente focos de incêndio florestal ainda antes de as chamas se propagarem. Câmaras aéreas, equipadas com Inteligência Artificial conseguem detetar fumo a uma distância até 20 km das torres 5G. O programa inclui também a instalação de sensores ligados por satélite em áreas remotas para aumentar a vigilância em zonas entre montanhas e deserto e que constitui um habitat para uma notável biodiversidade. O objetivo da iniciativa, no entanto, é estender gradualmente a tecnologia por todo o país nos próximos anos.
Virtual Firefighter é, por outro lado, um piloto desenvolvido por um consórcio liderado pela empresa espanhola Cellnex, que usa uma rede privada 5G e um drone equipado com câmaras termográficas para localizar com precisão as equipas e os veículos que se encontram a combater incêndios florestais. O sistema visa essencialmente otimizar e coordenar remotamente os recursos humanos e materiais através de um sofisticado mapa de calor que permite gerir as diferentes fases de um incêndio.
Através da Internet das Coisas, são transmitidos dados, como a posição e o movimento dos bombeiros. Informações como a geolocalização do fogo, as áreas envolventes ameaçadas e as povoações mais próximas são enviadas ao posto de comando mais próximo para assegurar uma gestão mais ágil dos recursos. O projeto está a ser lançado no município de Barcelona e a expectativa é que outras tecnologias, como Inteligência Artificial e Realidade Aumentada, possam vir a ser também integradas.
A Inteligência Artificial assume um papel cada vez maior na prevenção e combate aos incêndios, estando, aliás, no centro de um inovador modelo criado pelos investigadores da Universidade da Califórnia do Sul. O projeto combina a IA com dados de satélite para antecipar a trajetória de incêndios que muito rapidamente adquirem grandes dimensões. Para desenvolver o modelo, foram recolhidas imagens de satélites de alta-resolução de incêndios ocorridos em anos anteriores no Estado da Califórnia.
Os dados mostraram aos investigadores como cada fogo começou, como se alastrou e como acabou por ser dominado. A análise permitiu identificar os fatores que influenciaram a resposta aos incêndios, como condições do clima e do solo ou combustíveis florestais. O modelo, denominado de cWGAN (sigla em inglês para conditional Wasserstein Generative Adversarial Network) foi depois alimentado com todas as variáveis que condicionam a progressão de um incêndio. Munido com toda essa informação, o sistema foi por fim programado para reconhecer padrões e fazer previsões sobre como os futuros fogos se vão espalhar.
No Chipre, são os drones que estão no epicentro da prevenção e combate aos incêndios. Os aparelhos voadores, desenvolvidos pela startup Probotek, detetam fumo e fogo em zonas remotas e montanhosas do Parque Nacional Athalassa, na região de Nicósia, contando ainda com uma rede privada 5G e Inteligência Artificial.
O sistema conecta sensores de dióxido de carbono, de temperatura e de humidade no solo e conta ainda com drones a sobrevoar a floresta, transmitindo para a sala de operações dados e imagens em tempo real através da rede 5G. Os drones usam também a Inteligência Artificial para analisar as imagens. A tecnologia, no seu conjunto, é capaz de emitir alertas aos primeiros sinais de incêndio, fornecendo às autoridades dados em tempo real, incluindo a dimensão do incêndio, a direção de propagação e a rota ideal de extinção.
Uma das maiores vantagens desta solução é a sua capacidade para notificar os bombeiros assim que deteta sinais de fumo junto ao solo. Essa antecipação é considerada um trunfo no combate aos incêndios que, por estarem ainda numa fase precoce, se torna mais fácil evitar a sua propagação.
Os desafios no combate contra os incêndios florestais são diversos e exigentes. Em boa parte das situações, as deficientes comunicações móveis no teatro de operações dificultam a coordenação dos recursos humanos e materiais mobilizados. Para ultrapassar esses desafios, o projeto ALADIN utilizou uma rede 5G temporária e fiável – 5G campus – para controlar com maior precisão os veículos de combate a incêndios, a transmissão em tempo real dos fluxos de vídeo e de dados entre as equipas de proteção civil.
O protótipo foi implementado no aeródromo de Schönhagen, no Estado alemão de Brandemburgo. O apoio desta tecnologia é prestado através de uma infraestrutura de telecomunicações inovadora, através da qual é criada uma rede 5G dinâmica assistida por satélite para facilitar as comunicações em áreas remotas. Com as telecomunicações instaladas, é possível mobilizar outros meios, como drones de vigilância que recolhem e transmitem vídeos e imagens em tempo real, proporcionando uma visão abrangente e em direto da situação, enquanto os carros de bombeiros não tripulados avançam para os locais onde é preciso combater e controlar o fogo.
_________________
Leia também o artigo: “Espanha testa solução inovadora para prevenir incêndios agrícolas com tecnologia 5G”
Crédito da imagem de abertura: Ronald Plett via Pixabay