Hologramas de técnicos que ajudam a reparar avarias em eletrodomésticos, que gerem reclamações de clientes ou que demonstram produtos comerciais são alguns serviços a surgir agora no mercado. Impulsionadas pelas capacidades do 5G, as tecnologias holográficas têm vastas aplicações para empresas, serviços públicos e consumidores. Os especialistas, todavia, advertem que a sua aceitação em larga escala levará ainda algum tempo. Mas, assim que o ecossistema estiver preparado para oferecer essas experiências a bom preço e com qualidade, a recetividade será grande.
Os hologramas têm sido um dos temas mais duradouros e apelativos do cinema, mas com os avanços recentes da tecnologia, a correr nas redes móveis e nos dispositivos 5G, a ficção científica aproxima-se cada vez mais do real. Hoje, já é possível marcar reuniões empresariais em espaços virtuais recorrendo a avatares 3D, conferências com estrelas de Hollywood que se encontram a milhares de quilómetros de distância ou concertos com hologramas de artistas desaparecidos.
A sua aplicação, todavia, ainda não chegou às comunicações do dia-a-dia. Embora o recurso esteja a gerar um enorme entusiasmo, os especialistas, advertem que a tecnologia caminha numa direção diferente dos estereótipos construídos pelos filmes como a saga StarWars. Em vez de imagens geradas por feixes de luz diante dos nossos olhos, elas serão antes vistas através de óculos com design cada vez mais simples e intuitivo, fatores, aliás, considerados decisivos para tornar o seu uso popular entre os consumidores.
Com a ajuda das redes 5G, da cloud ou do Edge Computing, as tecnologias holográficas prometem transformar sectores que vão da indústria à saúde, passando pela educação ou entretenimento. Jogar, ver filmes ou praticar desporto em ambientes virtuais, consultas médicas imersivas com especialistas de qualquer parte do mundo, abordagens radicalmente inovadoras na sala de aula ou formação em áreas técnicas e tecnológicas através de simulação com Realidade Virtual e Aumentada são algumas experiências que começam a acontecer, prevendo-se que se tornem mais frequentes nos próximos anos.
As transmissões de dados de baixa latência e alta velocidade do 5G estão de facto a revolucionar muitas esferas da sociedade, assumindo desde logo um grande impacto em ambientes de trabalho, com teleconferências, eventos virtuais ou trabalho remoto a fornecer experiências imersivas e realistas. Há várias décadas que os hologramas exercem uma poderosa atração sobre a imaginação, mas com a chegada do 5G, a tecnologia holográfica está também a entrar no mundo real. À medida que as redes de última geração avançam, é expectável, por isso, que desempenhem um papel cada vez mais relevante, principalmente na comunicação empresarial.
Os primeiros casos de uso surgem agora, mostrando o que os recursos holográficos são capazes de alcançar. A tecnologia da ARHT, empresa sedeada no Canadá, está entre as primeiras que começou a tirar partido do 5G para desenvolver soluções inovadoras. Desde 2021, oferece aos seus clientes a oportunidade de criar hologramas 3D em tamanho real de pessoas, transmitidas ao vivo a partir de um estúdio com tela verde. Os seus serviços estão vocacionados para apresentações empresariais, demonstração de produtos comerciais, conferências de imprensa ou entrevistas ao vivo com personalidades que se encontrem em diferentes pontos geográficos.
A exibição promovida em março de 2022 pelo operador Airtel no seu Network Experience Center, na cidade indiana de Gurugram, será outro bom exemplo de caso de uso aplicado ao entretenimento. Recorrendo a tecnologias de vídeo imersivas na sua rede 5G, foi possível recriar os momentos mais marcantes da partida entre a Índia e o Zimbabué, durante o campeonato Mundial de Críquete, em 1983.
O jogo nunca foi filmado devido à greve dos técnicos de televisão, mas quase 40 anos depois, no primeiro holograma alimentado por redes 5G da Índia, o avatar da lenda viva Kapil Dev apareceu no palco para interagir com os fãs em tempo real e narrar os principais acontecimentos desse encontro.
São alguns novos serviços de comunicações impensáveis há apenas poucos anos. Mas ainda antes de mergulhar de cabeça nestas tecnologias imersivas e perceber como estão a inaugurar uma terceira dimensão nos ambientes virtuais, será preciso explicar como o 5G teletransportou o holograma para fora da sala de cinema. Comecemos, então, por algumas noções básicas, úteis para quem não está ainda familiarizado com estes conceitos.
O vídeo imersivo é especialmente projetado para fazer com que os espectadores se sintam parte da experiência. Um holograma traduz uma projeção 3D de qualquer objeto ou pessoa como um vídeo tridimensional em qualquer lugar onde a sua configuração é estabelecida em tempo real.
A tecnologia é, segundo os especialistas, semelhante a qualquer ferramenta que reproduz imagens em movimento captadas por câmaras, diferenciando-se apenas na forma como são projetadas. Até agora, o principal obstáculo ao desenvolvimento da tecnologia de holograma eram as constantes interrupções e cortes na rede de telecomunicações. O 5G solucionou este problema ao permitir enviar facilmente grandes quantidades de dados em taxas de alta velocidade para projetar a reprodução de imagens holográficas virtualmente como se fosse uma conversa ao vivo.
Como o 5G normalmente funciona em conjunto com muitas outras tecnologias, desde Inteligência Artificial até Realidade Aumentada e visão computacional, a sua execução é possível numa uma variedade de aplicações em vários campos. Algumas das possibilidades mais recentes incluem a manutenção e reparação remota de equipamentos e dispositivos não só em chão de fábricas como em ambientes domésticos.
A startup nova iorquina Streem, por exemplo, oferece visitas virtuais em tempo real de técnicos ou de informáticos que recorrem ao 5G, à Realidade Aumentada e ao vídeo de alta-definição para ajudar os consumidores a reparar anomalias em eletrodomésticos, routers de Internet ou problemas relacionados com computadores. Além de instruir os clientes sobre os passos a adotar para solucionar avarias simples, os funcionários da empresa conseguem também utilizar ponteiros virtuais para realizar medições à distância.
A latência ultrabaixa e a rápida capacidade de resposta do 5G torna também os programas de Inteligência Artificial mais velozes no processamento de respostas a informações solicitadas em diferentes contextos. A Soul Machines, a este propósito, está a trabalhar em humanoides digitais que podem interpretar a fala e as expressões faciais dos humanos. Lia é uma destas personagens criadas pela empresa da Nova Zelândia capaz de atender a pedidos para fazer reservas de hotéis, gerir reclamações ou prestar outros serviços no atendimento aos clientes.
Os operadores de telecomunicações também preparam-se para entrar nesta nova era com as chamadas holográficas. As multinacionais Deutsche Telekom, Orange, Telefónica e Vodafone uniram esforços com a tecnológica eslovena MATSUKO para criar hologramas 3D realistas, desconhecendo-se, todavia, quando o serviço será lançado para uso dos consumidores. As empresas de telecomunicações fazem parte de um programa piloto para testar as chamadas holográficas que usam as redes 5G com vista a acelerar a velocidade da Internet.
Após a câmara do smartphone capturar imagens 2D de quem está a enviar o holograma, o fluxo de vídeo é processado na nuvem para convertê-lo num holograma 3D, transmitido a quem recebe a chamada. O teste inicial, incluído na prova de conceito, já permitiu uma chamada holográfica para que o espectador pudesse ver o holograma de quem estava no outro lado da linha. Mas, embora o remetente não precise de hardware de Realidade Mista, Realidade Virtual ou Realidade Aumentada, quem visualiza o holograma pode vir necessitar dessas tecnologias para comunicar através do smartphone.
Apesar das aplicações dos hologramas 5G serem vastas, os especialistas estão convencidos de que levará ainda algum tempo até que sejam implementadas em grande escala e aceites pelo público em geral. Mas o potencial para concretizar casos de uso de comunicação holográfica nos próximos anos é elevado, como demonstra o relatório “The Dematerialized Office” da Ericsson. O inquérito sugere que, assim que o ecossistema estiver preparado para oferecer esses novos serviços a um bom preço e qualidade de experiência, tanto consumidores como empresas vão querer participar nesta aventura.