O relatório da consultora Transforma Insights revela que apenas três em cada 10 mil dispositivos IoT correm em redes 5G. O número, pouco expressivo, é consequência dos custos ainda altos da operação ou da escassez de soluções disponíveis para a indústria. Mas o cenário poderá estar prestes a mudar com o amadurecimento das tecnologias, a queda dos preços e, sobretudo, o crescente investimento dos operadores de telecomunicações em redes dedicadas a estimular os fabricantes a desenvolver aplicações inovadoras.
Quatro anos após a estreia do 5G nos EUA, Europa e Ásia, a grande maioria das empresas ainda não se comprometeu definitivamente com as tecnologias de quinta geração. Embora mais de mil milhões de consumidores já sejam assinantes de serviços 5G, o sector privado dá ainda os primeiros passos para poder vir a aproveitar em pleno os benefícios das tecnologias emergentes. Somente 1,1% dos dispositivos móveis IoT (sigla em inglês para Internet das Coisas) executam atualmente tecnologia de rádio 5G e apenas três em cada 10 mil desses dispositivos correm em redes 5G privadas instaladas pelas próprias empresas.
Os números da consultora internacional Transforma Insights mostram que ainda há uma escassez de soluções 5G específicas para o sector industrial, com a maioria das empresas a adotar uma estratégia de investimento conservadora. O diagnóstico não está, aliás, distante de estudos anteriores. Em finais de 2022, o inquérito da Ernest&Young (EY) também demonstrou que apenas 21% das 1325 empresas sedeadas na Europa, Ásia e EUA, estavam a investir em redes de última geração. Em contrapartida, 38% assumiram que se encontram a explorar as aplicações IoT e 65% estão agora a introduzir a robótica e a automação no chão de fábrica.
O que tem impedido a adoção do 5G, segundo os analistas, são os altos custos da operação, a lenta evolução nos padrões de comunicação, a falta de dispositivos e aplicações de software disponíveis e uma arquitetura complexa que dificulta a integração das redes com os sistemas de TI das empresas. Bastará referir, a título de exemplo, que instalar e gerir uma rede 5G privada poderá custar o dobro do valor do 4G, de acordo com a análise da Transforma Insights.
Mas este é um cenário que tende a mudar com o amadurecimento das tecnologias e a consequente queda dos preços. Até 2030, a consultora internacional espera que os dispositivos móveis IoT ligados ao 5G aumentem de um valor residual, em 2022, para mais de 10% no final desta década. Como é expectável também que as redes privadas no sector industrial subam 21 vezes até ao início de 2030.
Graças à capacidade do 5G para reduzir a uma fração de segundo o envio dos dados entre um dispositivo e um recetor, as empresas equipadas com a última geração de tecnologias de comunicação móvel vão poder tomar decisões com uma rapidez sem precedentes. Os robôs podem evitar interrupções desnecessárias nas fábricas, as máquinas agrícolas com câmaras podem transmitir imagens de colheitas e dados do solo para um software de Inteligência Artificial num servidor enquanto operam, os médicos podem melhorar a precisão cirúrgica com ferramentas controladas à distância.
As potencialidades proporcionadas pelo 5G têm-se tornado palpáveis à medida que as empresas investem em tecnologias de quinta geração. Os exemplos vão desde a indústria automóvel, até serviços financeiros, passando pelas infraestruturas portuárias, gestão de plataformas agrícolas ou minas, apenas para citar alguns casos de uso considerados pioneiros pela consultora.
Na fábrica de automóveis da Mercedes-Benz, em Estugarda, Alemanha, as redes 5G são usadas para rastrear veículos na linha de montagem enquanto os dados de produção são exibidos no smartphone dos funcionários ou em grandes ecrãs. A multinacional de serviços financeiros Black Rock está também a instalar uma rede 5G privada na sua sede, em Nova Iorque, esperando tirar proveito das altas velocidades e da baixa latência para aplicações móveis destinadas às operações na bolsa, incluindo recursos holográficos como Realidade Virtual e Aumentada.
O Aeroporto de Frankfurt está, do mesmo modo, a construir uma grande rede 5G para gerir veículos autónomos e monitorizar instalações aeroportuárias com robôs e drones. Singapura, por outro lado, espera implementar até 2025 o “5G Marine”, o primeiro testbed do mundo que irá conectar às redes móveis de quinta geração ancoradouros, terminais, embarcações e plataformas de embarque. No Norte da Finlândia, a mina de ouro de Kittilä utiliza uma rede privada 5G para apoiar as operações no solo e subsolo, estendendo-se por túneis e galerias e conectando funcionários, equipamentos, dispositivos e veículos.
As altas taxas de transferência de dados e a baixa latência, bem como a capacidade anunciada de suportar até 1 milhão de dispositivos por km2, tornam o 5G ideal para inúmeras operações, como veículos autónomos em fábricas e portos ou processos de produção que respondem em tempo quase real a sinais de software.
Os analistas de mercado encaram, por isso, as redes 5G como promissora não só em fábricas pesadas, indústria automóvel ou portos, mas também em plataformas de petróleo e gás, oleodutos, carros conectados ou cirurgia robótica. A baixa latência do 5G torna as tecnologias de última geração especialmente atraentes quando em causa estão veículos ou robôs que precisam ser controlados ou conduzidos remotamente.
Os especialistas acreditam, como tal, que mais empresas irão começar a apostar em redes privadas 5G para enfrentar cenários em que o crescente volume de dados já não pode ser suportado por redes públicas. E este constrangimento pode vir a beneficiar os operadores de telecomunicações, capazes de oferecer aos clientes empresariais partes dedicadas e seguras de suas redes – denominada de slicing 5G – para operar equipamentos tecnológicos de quinta geração.
Neste aspeto em particular, o inquérito da consultora IDC, junto de 415 empresas com redes privadas instaladas, revela que 78% identificam a conectividade mais rápida como a grande vantagem; outros 68% citam a confiabilidade da rede e 56% cita a capacidade de conectar mais dispositivos
São dados que levam os especialistas a defender um maior envolvimento por parte dos operadores de telecomunicações, até como uma forma de recuperar o enorme investimento feito no espectro 5G e atualizações de rede. Atualmente e, segundo o mais recente relatório da Associação Global de Fornecedores Móveis (GSA), entre 523 operadores em todo o mundo, apenas 40 operadores estavam no final de fevereiro de 2023 a testar ou implementar redes 5G autónomas nas suas infraestruturas públicas.
Mas se as empresas de telecomunicações acelerarem o processo, isso poderá incentivar os fabricantes de software a desenvolver mais soluções aplicadas à indústria. Essa é pelo menos a crença dos especialistas que, todavia, já veem alguns sinais otimistas na linha do horizonte. Espera-se que cerca de 200 operadores invistam em testes e implementações de redes autónoma 5G até o final de 2023, de acordo com a consultoria Deloitte – o dobro do número do ano passado.
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