Drones que obedecem a comandos em tempo real, que não perdem o sinal durante o voo ou sem risco de colisões aéreas são possíveis com a chegada das redes móveis de quinta geração. A indústria irá crescer muito nos próximos anos, mas, atualmente, são inúmeras as soluções já disponíveis, de aeronaves não tripuladas para resgatar vítimas, passando pela distribuição de material médico até à monitorização de campos agrícolas ou apoio a bombeiros e polícias nas zonas urbanas.
Um drone entrega uma pizza a partir de uma janela de um 12º andar. Outro lança chamas para destruir ninhos de vespas asiáticas no cimo das árvores. Mais um monitoriza o crescimento das florestas em solos com baixa fertilidade, enquanto outros ajudam cães-pastores a vigiar rebanhos de ovelhas. À primeira vista, imaginar estas máquinas voadoras não tripuladas a desempenhar estas e muitas outras funções pode parecer um cenário futurista. Mas os drones já estão aí a sobrevoar os céus e não é somente para entreter pilotos amadores.
Empresas e sector público estão a utilizá-los de várias formas, desde o apoio a missões de busca e salvamento, passando por inspeções de infraestruturas críticas, até à entrega de material médico a hospitais ou a regiões isoladas. Os drones estão a transformar-se numa das tecnologias mais populares para ajudar comunidades, empresas e pessoas.
Com as autoridades reguladoras a dar luz verde aos ensaios um pouco por todo o mundo, a tecnologia dos drones tem conhecido um crescimento generalizado, abrindo portas a soluções inovadoras que já estão a beneficiar as populações a viver tanto em zonas urbanas como rurais. E tudo isso tornou-se possível a partir do momento em que as redes 5G entraram em cena.
Os drones utilizam ligações ponto a ponto menos fiáveis, que podem perder sinal a qualquer momento durante o voo. Ao operar numa rede 5G, contudo, estes aparelhos beneficiam da fiabilidade ultraelevada e da conectividade de baixa latência. Isto significa que poderão receber e agir rapidamente sobre comandos enviados a partir de qualquer lugar. O 5G ajuda a reduzir o tempo entre o envio, a receção e a atuação sobre os comandos, diminuindo assim a margem de erro que poderia acontecer durante o voo.
Grandes empresas do comércio eletrónico, como a Uber Eats ou a Amazon, já investiram na sua própria frota de drones autónomos. Operadores de telecomunicações como a Verizon, AT&T ou T-Mobile também instalaram as suas próprias redes privadas 5G para testar a compatibilidade com os drones. Estes investimentos são para os peritos sinal do enorme crescimento que esta indústria deverá ter nos próximos anos.
Quando se trata de coordenar a segurança destes aparelhos para realizar uma determinada tarefa, as redes privadas 5G são, segundo os especialistas, a chave para fornecer comunicações fiáveis entre eles. Com a combinação entre a baixa latência, a alta velocidade e capacidade massiva do 5G, emparelhada com o edge computing, os humanos podem comandar drones em tempo quase real, com menos perda de controlo e menos colisões aéreas.
Na Roménia, por exemplo, a Salvamont, a associação nacional de socorristas de montanha, já não dispensa o uso de drones nas suas operações. O terreno acidentado e perigoso é um grande desafio para as equipas de resgate, com as formações rochosas a bloquear frequentemente a comunicação entre as vítimas e os serviços de emergência. Recorrendo a uma rede 5G, a solução fornece uma cobertura de sinais móveis em áreas de difícil acesso. Ao fixar equipamentos de telecomunicações terrestres em veículos todo-o-terreno, a rede móvel pode ser ligada via satélite.
O equipamento de rádio 5G também é instalado num drone que pode sobrevoar a área de busca e gerar sinais móveis (voz e dados) num raio de até 10 km. O smartphone da vítima pode então ligar-se automaticamente à rede para que possa contactar o 112. Além disso, se o montanhista utilizar a aplicação da Salvamont e tiver ativado a função de localização antes de iniciar a rota, a equipa de resgate poderá seguir o seu percurso e localizá-lo mais rapidamente.
A associação romena de socorristas tem ainda mais uma solução para localizar os visitantes desaparecidos, que usa drones e Inteligência Artificial para recolher e analisar imagens. Equipado com tecnologia para a fotogrametria (técnica para extrair de fotografias métricas informações como formas, feições, dimensões ou posição de objetos e figuras) e imagem térmica, o aparelho, conectado à rede 5G, captura imagens de alta-resolução na área de busca.
As fotos são analisadas e processadas por Inteligência Artificial, a um ritmo de 100 imagens por dois minutos, detetando uma série de pistas, como um corpo, um casaco ou uma garrafa térmica, por exemplo. Essas provas são recolhidas pelas equipas que, deste modo, obtêm as coordenadas exatas para localizar a vítima.
Os drones também já ajudam os serviços de emergência a patrulhar os parques nacionais do Reino Unido. Nas zonas rurais, tais como Snowdonia, os serviços de emergência dependem da receção de chamadas. No entanto, as ligações móveis podem muitas vezes ser interrompidas pela paisagem geográfica extrema, que tem impacto nas chamadas de emergência e na fiabilidade dos dados de localização, essenciais para encontrar aqueles que se perdem ou que necessitam de ajuda urgente.
A aeronave não tripulada, nestes parques naturais, atua como uma rede aérea, caso os visitantes necessitem de conectividade móvel para fins de assistência, mas permite também aos socorristas aceder a informação essencial, avaliar as situações de perigo, e facilmente localizar e salvar aqueles que se encontram desorientados.
A solução fornece uma rede autónoma 5G NR (New Radio), que permite cobrir áreas remotas e reter dados de localização geográfica através de chamadas telefónicas. Mas as equipas de salvamento de montanha podem também usar a conectividade de quinta geração para partilhar imagens e videochamadas. O recurso é útil para guiar os visitantes até locais seguros e sem necessidade de enviar brigadas de resgate, poupando tempo e recursos valiosos.
Os drones podem desempenhar igualmente funções de segurança em zonas urbanas, como demonstra a frota recentemente inaugurada na Bélgica. Cerca de 70 aparelhos, ligados ao 5G, já estão a prestar apoio a quartéis de bombeiros e esquadras de polícia de todo o país.
Ao receber um alerta, o drone, montado com câmaras 4K e rádio 5G, parte para o local do sinistro, recolhendo informação crítica ainda antes dos operacionais chegarem ao terreno. A câmara grava imagens térmicas, processadas por Inteligência Artificial, para detetar fumo, fogo ou pessoas.
Os aparelhos, operados à distância por pilotos nos centros de operações, enviam com antecedência informação vital, permitindo às equipas de socorro prepararem-se para o cenário que irão encontrar no terreno. Ao distribuir os drones por 35 zonas estratégicas, os serviços nacionais de emergência esperam criar uma grelha de segurança que já é considerada a primeira do mundo.
Os drones conectados a 5G já são também a resposta mais rápida e segura para muitos dos desafios logísticos relacionados com os cuidados de saúde. Na Alemanha, no Hospital Universitário de Düsseldorf, o primeiro hospital 5G da Europa, os drones são utilizados para entregar embalagens nutricionais a recém-nascidos prematuros, desde a farmácia do hospital até ao telhado da unidade pediátrica, em apenas 40 segundos.
A velocidade e baixa latência da conectividade 5G significa que as entregas de aprovisionamento médico crítico já são possíveis de forma autónoma e sem intervenção humana. O 5G também permite a transmissão em tempo quase real dos dados sobre a posição de um drone, garantindo igualmente a segurança do tráfego aéreo, mesmo a alta velocidade.
O 5G, ao fornecer novas capacidades a estes aparelhos, tem acima de tudo inaugurado modelos de negócio inovadores. É o caso da Beyond Vision, a startup portuguesa que, conta com o apoio da Nvidia, e que fabrica drones para fins industriais, podendo ir da agricultura à recolha de imagens, passando pela distribuição de pequenas mercadorias.
A Beyond Vision passou vários anos a investigar tecnologias, como placas eletrónicas e software de controlo dos drones, desenvolvendo soluções feitas à medida para diferentes tipos de clientes, como explorações agrícolas, empresas de construção civil, marinha portuguesa ou serviços de segurança. Cada aparelho voador está equipado com comunicações 4G e 5G, algoritmos de Inteligência Artificial e câmaras multiespectrais.
O seu projeto beXStream, vencedor da última edição do IoT Challenge 2022, da Altice Empresas, permite controlar e gerir os drones à distância com recurso à Realidade Aumentada, tecnologia que exige uma grande largura de banda, somente possível com as redes 5G.
Estes e muitos outros casos de usos têm demonstrado como os drones estão preparados para moldar os serviços do futuro. E são cada vez mais indústrias a adotarem esta solução. Em 2025, quase 1,5 milhões de drones ligados à rede móvel 5G vão voar através do espaço aéreo da Europa Ocidental, podendo este número ascender a 4,3 milhões até 2030, segundo as estimativas da consultora Analysis Mason.
Por si só, as redes móveis 5G e os drones são tecnologias promissoras, mas, combinadas, vão poder desbloquear inovações e benefícios em muitas áreas de atividade. Quando se trata de drones conectados ao 5G, o céu é realmente o limite.