São muitas as inovações atualmente testadas em projetos-piloto de condução autónoma e automatizada. A sua aplicação em ambientes reais, porém, só é viável porque o 5G é a única tecnologia capaz de escalar em cenários de grande densidade de carros conectados. A mobilidade do futuro permitirá que os veículos comuniquem entre si e com a infraestrutura rodoviária, alertando para perigos na estrada, evitando congestionamentos, reduzindo o tempo das deslocações ou cortando nas emissões.
Um pouco por toda a Europa, estão em curso ensaios e projetos destinados a colocar na estrada a próxima geração de transportes mais seguros, mais limpos e, sobretudo, mais inteligentes. O 5G-Mobix, consórcio de 52 parceiros de 10 países, é um desses casos que, ainda recentemente, testou com sucesso a primeira viagem entre Portugal e Espanha de um minibus autónomo.
Mas há muitas outras iniciativas, como o 5G – Carmen, projeto de condução autónoma entre a Itália, a Áustria e a Alemanha, o 5G-Routes, que testa aplicações inovadoras no corredor transfronteiriço Letónia-Estónia-Finlândia ou o Ryde2Autonomy, que procura harmonizar os esforços europeus de investigação e inovação em torno de soluções de shutles automatizados. São apenas alguns exemplos de programas financiados pela Comissão Europeia e que só puderam arrancar com a chegada das redes móveis de quinta geração.
O 5G, pelas suas características – baixa latência, fiabilidade, elevada transmissão de dados e ligações massivas – é o que a condução conectada e automatizada necessita para planear a sua entrada no mundo real.
A condução autónoma só será viável através da conectividade entre veículos, infraestruturas rodoviárias e rede móvel. E o 5G é o que irá permitir aos veículos receber e enviar dados gerados por sensores, mas também disseminar essa informação por todo o ecossistema da mobilidade. Essa interação será essencial para determinar com maior precisão como os automatismos da próxima geração irão funcionar em cenários reais.
Imagine um semáforo a indicar a velocidade que o seu carro deve seguir para não ter de parar até a luz ficar verde. Ou um cruzamento a partilhar os dados da câmara de videovigilância com os automóveis mais próximos. Ou ainda alertas de outros veículos sobre obstáculos na estrada ou congestionamentos a poucos quilómetros, permitindo ao condutor desacelerar de forma segura e controlada.
O 5G irá viabilizar inúmeras tecnologias, como o ultra-reliable low latency communications (URLLC), que fornece aos veículos a capacidade de detetar situações de perigo e enviar essa informação para a rede móvel que, transmitirá, por seu turno, o aviso aos carros que estão nas proximidades. Outro exemplo promissor apontado pelos especialistas é o mMTC – massive Machine Type Communication que está na base de sistemas avançados de gestão de tráfego urbano e mobilidade de peões. O eMBB (Enhanced Mobile Broadband) é mais uma inovação, que permite descarregar conteúdos multimédia em movimento nos automóveis, autocarros, comboios e outros transportes públicos.
Utilizando o 5G será também possível fazer o download dos dados do veículo, como mapas de alta-definição 3D construídos em tempo real nos centros de controlo de tráfego. O recurso, além de ajudar a gerir o trânsito, poderá também ser útil para dar a conhecer aos automobilistas os lugares disponíveis numa rua ou num parque, tornando o estacionamento mais rápido e simples.
São estas e muitas outras inovações que têm vindo a ser testadas nos diferentes projetos europeus. A primeira viagem autónoma entre Portugal e Espanha, no âmbito do projeto 5G-Mobix, permitiu em setembro deste ano que um minibus com passageiros atravessasse sem intervenção humana a ponte antiga entre Tui e Valença.
Durante a demonstração, um sensor instalado na ponte detetou um peão num ângulo morto, passando a informação à rede 5G e ao veículo que, deste modo, conseguiu evitar a colisão. Noutra ocasião, perante um obstáculo no caminho, o minibus transferiu o comando para um centro de controlo de tráfego, onde um humano, equipado com óculos de Realidade Virtual, assumiu remotamente a condução.
No corredor transfronteiriço entre Kipoi, na Grécia, e Ipsala, na Turquia, o projeto 5G-Mobix também testou a passagem de transportes pesados na fronteira dos dois países sem intervenção humana nem necessidade de paragens ao longo da travessia. O ensaio teve como intuito demonstrar como o tráfego comercial nestas regiões poderá ser aliviado através da formação de pelotões de veículos, direcionamento automático de camiões e passagem assistida da fronteira. O Platooning, como é chamado o método de conduzir um grupo de veículos através de manobras cooperativas, é uma forma de otimizar a eficiência energética de transportes de mercadorias, que tem como resultado a diminuição da pegada ambiental.
Também o programa 5G-Carmen conduziu, nas fronteiras entre Itália-Áustria e Áustria-Alemanha, ensaios de manobras cooperativas, mas entre veículos ligeiros conectados e humanamente assistidos. Três automóveis partilharam entre si e através da rede 5G a sua localização, a velocidade a que seguiam e o momento em que pretendiam realizar diferentes manobras na estrada. As informações trocadas entre veículos permitiram aos condutores avaliar as condições de segurança em momentos decisivos como ultrapassagens e mudanças de faixa.
Perante tantas possibilidades, não restam muitas dúvidas de que a condução conectada e automatizada mudará radicalmente o nosso quotidiano, relegando para um plano secundário a intervenção humana e abrindo caminho para o que a indústria automóvel já chama de Third Living Space (Terceiro Espaço para Viver). O conceito procura traduzir a mudança de paradigma em que o carro, a par da casa e do escritório, passa a constituir um local em que os passageiros trabalham, veem filmes, põem as leituras em dia ou convivem uns com os outros.
A mudança, contudo, não irá acontecer a breve prazo. Serão necessários ainda grandes investimentos em infraestruturas, como estradas, sinalização rodoviária, avanços na cobertura da rede 5G e ainda legislação revista e adaptada à realidade da condução autónoma e automatizada.
Segundo o estudo da consultora britânica Confused, os Estados Unidos, o Japão, a França, o Reino Unido e a Alemanha são os mais bem preparados para virem a ser os primeiros a inaugurar a circulação de veículos com condução autónoma. Portugal, neste ranking de 30 lugares, surge na 20ª posição, acima da Nova Zelândia, dos Chile, da Polónia ou da Itália. Os países correm a diferentes velocidades, mas os objetivos são comuns a todos eles: reduzir a sinistralidade, aumentar a produtividade, cortar na pegada de carbono e melhorar a qualidade de vida dos centros urbanos. São essas as grandes promessas da mobilidade conectada.
______________________________________
▫▪▫ Leia também no Portal 5G como a gestão inteligente do tráfego poderá trazer benefícios no Ambiente e na redução dos congestionamentos.